segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Livros de auto-ajuda. Socorro Shakespeare!





Um livro de auto-ajuda pode servir para muitas coisas . Como um belo peso de papel ou enfeite na sala ou mesmo para acabar com o balançar incômodo daquela mesa capenga . Literalmente. Todos eles tem uma fórmula infalível. Qual seja: objetivo + trabalho + confiança = sucesso e felicidade. Fácil não??? Então larga a mão dessa ladainha toda!!! Deixe esses livros chatos e repetitivos para lá meu amigo(a) e venha para a literatura real, para a literatura que realmente vale a pena e que acrescenta alguma coisa de novo em sua vida. Aprenda muito mais com um único livro do Henry Miller do que com todos os livros do Paulo Coelho. O que dizer então dos anti-professores Kerouac, Bukowski, Hilst......Esses sim ensinam a ilusão da busca do sucesso a qualquer preço. Essa felicidade que está muito distante das carreiras e muitas vezes em "outras carreiras". O inverso do reverso da medalha da sociedade e da vida enfeitada nos comerciais de televisão. Mais vale entender e apreciar um único quadro de Gauguim do que todos os livros da Lia Luft. E não venha dizer que Gauguim não é literatura?!?!?. E a Folha de São Paulo em seu caderno “Ilustríssima” essa semana presta uma bela e tardia homenagem a um grande escritor Reinaldo Moraes. Se vc não leu Pornopopéia tem que ler! Tem que ler...Deixa esse Shinyashiki para lá meu caro, minha cara!!!!!! E isso vale para você também que está pensando em entrar nessa igreja nova que abriu aí no Bairro. Sai dessa ! Leia...leia....Fante, Llosa, Saramago, Goethe, os clássicos que seja. Dostoiewski esse então é imperdível!!! O que dizer de Kafka??? Garanto que com esse único conselho vc estará economizando tempo e dinheiro e se auto-ajudando muito mais. Diga não aos chatos de galocha que infestam e dominam as livrarias com sua 2ª. fórmula infalível e secreta para atingir o objetivo próprio, certo e calculado. Vou revelar em primeira mão esta segunda fórmula secreta e oculta - La vai "o segredo": Livro de auto-ajuda + capa bonita + título interessante = muito dinheiro no bolso do escritor e sensação de vazio no leitor. E deixa eu ir embora que não sou mago mas tenho que fazer mágica pra pagar os contas que não param de cair na minha caixa postal. Viver definitivamente não é fácil! Socorro!!! Shakespeare me ajude!!!!!!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Starbuckiaram o etíope


Inspirado em Antônio Prata(meio intelectual – meio de esquerda) que escreve sobre as miudezas da vida, hoje vou escrever sobre uma coisa mínima intrigante. O raio do café acompanhado de um copinho de água com gás. É dessas coisas que não consigo compreender. Quem proliferou esse hábito? Parece uma gíria pegajosa!!! Um bonde do tigrão anual! A mais nova bola da vez. Depois de muito rebolation no google descobri que sou um perfeito idiota. A água é para tomar antes e não depois. O intuito é “refinar o paladar” e não tirar o bafão da cafeína. Se acompanhado de uma casquinha seca de limão(para os entendedores) melhor. Enfim como diria o Maguila - uma viadagem do caralho! – Oras, quem gosta mesmo de café toma ele sem acompanhamento algum, inclusive sem açúcar, sem adoçante. (Ainda chego lá mamãe!) Se feito no coador bem sujo fica até melhor - diria Paulo Tiefenthaler no seu impagável “Larica Total”. Aliás e aproveitando o ensejo e a revolta quase armada também sou contra caipirinha com adoçante, peito de silicone , camisinha colorida e limão com coca-cola light . E sou do tempo em que o café era cortesia e não vinha na notinha do restaurante. E sem aqueles inúmeros penduricalhos calóricos cheios de açúcar só pra justificar o preço amargo do café açucarado e “refinado”. Acho que tudo isso foi idéia de algum administrador de empresas ou economista desocupado. Pra agregar valor ao cafezinho. Globalizaram o coitado. Starbuckiaram o etíope. Pois está aqui toda a minha indignação e o meu “feedback” pra vocês!!!!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"Kawa Ton Aaimona Eaytoy"


Hoje poderia traçar um paralelo entre três livros que li ultimamente,” Satori em Paris” de Jack Kerouac, “Mal de Montano” de Enrique Vila-Matas e “Tanto Faz” do Reinaldo Moraes já que todos tem como pano de fundo Paris. Poderia (e posso) dizer que para o americano Kerouac a viagem tem um intuito, um propósito metafísico, místico, para o catalão Vila-Matas o intuito é, digamos, mais cultural filosófico e porque não literário. Ele é fanático por literatura, lugares com apelo literário e citações. Já para o brasileiro/paulistano Reinaldão como o próprio título diz – tanto faz. Aliás este tem sido o meu sentimento atual. Tanto faz. Cansei de teorizar o conhecimento. Gosto de literatura e só! Cansei de compreender, classificar e analisar a estética tendo espasmos intelectuais baseados no contexto das palavras e dos livros; sempre peregrinando em críticas em busca de um sentido mais amplo... Por exemplo e por falar em Paris, agora, neste exato momento, num vislumbre me veio a imagem do túmulo de Jim Morrison no Père-Lachaise na cidade luz de tochas em passeatas. Lembrei-me de um livrinho safado que li a muitos anos atrás “Jim Morrison por ele mesmo” da Editora Martin Claret. Mas será que o livrinho é safado?(lá vem o crítico). Se fosse safado não estaria lembrando dele agora!!! Adoro “The Doors” e seu improvável sucesso. Ora uma banda de rock com um baterista jazzista, um tecladista clássico, um guitarrista flamenco e um cantor/escritor suicida estava fadada ao fracasso retumbante. Pois não é que virou bandeira de uma enormidade de excluídos no auge do neo-conservadorismo? Portanto deve ser verdade aquela coisa do “passo do bêbado”, do acaso determinante. Do “Tanto Faz” tão bem retratado por Reinaldo Moraes que acaba direcionando realmente nossas vidas. No livro um estudante vagueia “livre, leve e solto” por Paris abandonando os compromissos de um curso que não lhe dizia mais nada. Descobre a verdadeira vida por baixo das fachadas austeras da universidade, dos compromissos, do mundinho tido como “normal”. A Paris de Santiago Gamboa em décadas diferentes. E nessa fuga consciente nos deliciamos com suas aventuras, com seus acasos determinantes. Na mesma esteira podemos colocar a vida de Jim Morrison. Um cara jovem com um pai militar no auge da Guerra do Vietnã poderia apenas rebelar-se afundando-se em drogas diversas matando-se ou ficando louco sem qualquer repercussão como tantos outros de sua geração. Mas não. O cara recebeu uma iluminação um “satori”. Dá-lhe Kerouac!!! E isso tudo, essa confusão e essa mistureba toda de livros, Paris e Rock and Roll é também para indicar um belo filme – peguem na locadora – “When You’re a Stranger” que traça toda a trajetória da banda “The Doors” durante seus 54 meses de existência; as imagens são belas e o relato apesar de um pouco caretinha e redondinho é bem legal(graças a Deus) tem também aquela coisa-lenda do cara ainda estar vivo, escondido num rancho, abduzido e coisa e tal. Enfim o bacana mesmo é o que me veio ao acaso e que me levou a não teorizar sobre os livros que ando lendo ultimamente. A frase na lápide de Jim: "Kawa Ton Aaimona Eaytoy". A inscrição em grego significa "queime seu demônio interior". Não existe conselho melhor para críticos incorrigíveis como eu. Obrigado Jim(que queria ser poeta/escritor acima de todas as coisas). E quanto ao paralelo literário supra deixa pra lá né. Tanto faz do Reinaldão. O negócio é ler sempre e tirar as próprias conclusões. Vamos fazer como o Aldous Huxley abrir “as portas da percepção”. Sem mescalina!!! Viver sem teorias. Apenas viver o acaso ao acaso....

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Buenos Aires, Borges & Cia


Buenos Aires é uma cidade para caminhantes e para amantes da literatura. Ruas planas, poucas subidas, muitas e enormes livrarias como a linda “El Ateneo”. Antes de viajar procurei referências borginianas. Adoro Borges e procurei conhecer alguns lugares que o encantavam. De cara já tive uma decepção - onde era sua casa hoje tem um prédio enorme. No Café Tortoni outra desilusão – fila de turistas para entrar. Por óbvio quebrou todo o encanto. Bato uma foto da fachada e viro as costas. A Calle Florida é uma Shopping a céu aberto. Só dá brasileiro!!! Na Confiteria Richmond tomo o melhor chope da caminhada para recarregar as baterias. E desisto! Desisto de procurar Borges quando descubro que a Biblioteca Nacional não está mais no mesmo lugar(Calle México). Eu queria ver a maldita escada em caracol do conto. Mas para quê???? Vou no Bairro que ele gostava, o mais parisiense de todos a Recoleta. Resolvido a conhecer a famosa La Cabaña - porta fechada – está de mudança para o bairro nouveau-riche com ares decadentes portuários Puerto Madero. Walt Disney revirando-se no túmulo. Pra não perder a noite eu e minha esposa acabamos em um restaurante chamado “Sucre” com música “lounge”, cheio de “brasileiros descolados” metidos a besta no bairro Belgrano. Noite Perdida. Comida ruim, música ruim, ambiente estranho, afastado.... E por falar em estranho os portenhos que imitam os europeus em tudo estão impregnados de nostalgia, de saudosismo, melancolia e de outras coisas mais que podem muito bem ser vistas na imperdível Feira de Domingo em San Telmo. Uma delícia andar pelos seus antiquários soturnos e cheirando a mofo. Não deixe de bater um papo com o Biazzi em seu atelier. Melhor ainda comer um bife a milanesa com chope preto artesanal no Bar “El Federal” na Calle Peru(vide foto acima). Ponto alto da viagem. Bom... teve ainda o obrigatório show de tango no Piazzola - muito competente - e uma balada na boate Asia de Cuba onde entornei vários uísques e terminamos as 5 da matina tomando café no lobby do hotel NHCity com as aeromoças da TAM. E para desgosto do Borges, que Deus o tenha em toda sua imortalidade adorei La Boca e seu Caminito com bares na calçada e muita música ao vivo com gostosas semi-nuas dançando Tango. Me lembrou Arraial ou mesmo a Savasi em Belo Horizonte. Lugar para se perder. Enfim, adorei Buenos Aires, procurei Borges mas como no jogo de amarelinha de Julio Cortazar fui parar em outro lugar, perdido em suas ruas, seus bairros, seus capítulos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Satori em Punta Arenas




Meu Deus é assim, como o sertanejo, como um calango. Um forte. A coisa mais forte da natureza. O espetáculo do nascer do sol. O por do sol é para conformados modorrentos. O nascer é para trabalhadores da pecuária. Ordenha de vaca. O divisor do bêbado. Momento único entre o êxtase da fantasia e a dor inevitável da ressaca. E lá estava ele! Naquele amanhecer magnífico na cidade de Punta Arenas após uma longa noite nos braços de uma chileninha linda. Lá estava ele! Enorme sobre o mar; sobre o pacífico tortuoso...inconstante; naquela cidade de brinquedo Lego. Nenhuma nuvem e um azul piscinesco único. Tudo se misturava na minha cabeça caminhando para o navio as quatro horas da manhã. O mundo era meu e tinha total domínio sobre a minha vontade. E ele iluminando tudo ao meu redor, interagindo com o estado de espírito. Ao sair da boate duvidosa e receber um terno beijo nos lábios daquela linda chileninha, loira falsa de olhos repuxados não sabia e nem esperava por aquela experiência mística. Logo Eu!? Um misto de alegria, paisagem e embriaguez. E depois desse satori em Punta Arenas sigo caminhando na ressaca com breves iluminações e chutes no olho. Inevitável. C’est la vie mon dieu! Gracias!!!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Sentido da vida com enfoque literário

Galáxia de Sombrero(captada pelo Hubble) à 28 milhões de anos luz da terra

Leon Tolstoi, sempre ele...como pode um cara barbudo e mal-cheiroso como ares gélidos da Sibéria escrever com tanta propriedade atingindo o cerne das coisas, inclusive dando um sentido maior à própria existência? Quase sempre na mosca. Explico: “quase” porque ninguém é perfeito; Aí vai a frase: “Imagine que o único propósito da vida seja só sua felicidade – então a existência seria uma coisa cruel e sem sentido. Porém, seu intelecto e seu coração lhe dizem que o significado da vida é servir à força que o enviou ao mundo. Então quando isso acontece a vida se torna uma alegria”. Uau! – um chute bem dado nos hedonistas puros. E veja que Tolstoi não descarta totalmente os prazeres da vida. É claro que o desfrute também é um propósito. Ou seja o sentido da vida é o equilíbrio. E não é só – o escritor fala do equilíbrio com amor, vivendo o presente, quando em outro conto escreve: “priorizar o que está acontecendo a cada instante, considerar como a mais importante do mundo a pessoa que está ao seu lado naquele momento e fazer tudo que estiver a seu alcance para torná-la feliz”. E a minha conclusão é essa. Por mais que tudo fique sem sentido temos que ao menos tentar por ordem nessa bagunça, nessa desconexão mental. Que tal ir na onda do velho Leon que no final da vida abriu mão do conforto burguês e lançou um olhar místico para sua própria existência? O sentido e a verdadeira felicidade, portanto, estão em: viver intensamente a vida sem abrir mão do prazer, explorar talentos pessoais com trabalho, simplicidade, amor, fé e longe do egoísmo. Já é um grande passo não? Um passo para a paz de espírito, paz entre os iguais e uma vida melhor e mais equilibrada no planeta...no universo. Definitivamente não custa tentar. (e no meu caso escrever aqui essas idéias).

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Delírios Cotidianos, Cachalote e América


Não...não sou eu entrando em delirium tremens. É que no ápice da minha incoerência vou falar de um dos últimos livros que li e que particularmente gostei muito. O texto nada convencional de Bukowski casando-se perfeitamente com o desenho sujo e rebuscado de Mathias Schultheiss. Aliás as estórias e contos curtos de Bukowski mereciam mais incursões nessa área de quadrinhos bem como no cinema. Li também Cachalote de Daniel Galera e Rafael Coutinho. Gostei também porém acho que ficou literário demais. Aquela coisa de estórias intercaladas (e são muitas), ficam um pouco perdidas. E o texto por vezes é pomposo demais. O estilo do desenhista é muito refinado "clean"(me lembrou Moebius). Sou mais o preenchimento excessivo e a ausência de ecnomoia de traços de Robert Crumb, por exemplo, com suas pernas rechonchudas, bundas proeminentes e rabiscos em excesso. (vide América - é ótimo). Sei lá estória em quadrinhos para adultos é um lance bem legal e deveria ser mais explorado, porém sem muito seriedade senão fica afetado. E chatice ninguém merece. O humor é inerente ao gênero. Diria até obrigatório.

PAREI DE BEBER

Gilles Deleuze - no espelho

Parei de beber. Resolução difícil. Encarar minhas misérias sem paliativos. Aceitar sem fuga meu mal de Montano e outros males diversos. Mas as doenças impulsionam... Não posso ir contra o novo homem submisso que está por vir ou já chegou se me submeto. E agora? Sentir prazer nos clichês da vida. Ver que existe vida antes das nove horas da manhã. Sentir o frio desta cidade ardente e de céu azul em contraste com a negra fuligem da queimada de cana. Terra do Álcool.(ironia?). Olhar para dentro e explorar novos sentidos solitariamente... Mas não estou só. Até Chico Buarque parou de beber após uma breve consulta a um feiticeiro. Tony Platão e Denis Hopper também(“como é bom estar sóbrio”D. H). E João Ubaldo Ribeiro conseguiu tal façanha sem se desvincular do circulo vicioso e viciado de seus amigos cachaceiros. É possível? Não sei...Só sei que no meu caso não da mais para levar uma vida de adiamentos e fugas. Estou agora na fronteira de Gilles Deleuze(1925/1995) “A fronteira é muito simples. Beber, se drogar, tudo isso parece tornar quase possível algo forte demais, mesmo se se(sic) deve pagar depois, sabe-se, mas em todo caso, está ligado a isto, trabalhar, trabalhar. E é evidente que quando tudo se inverte, e que beber impede de trabalhar, e a droga se torna uma maneira de não trabalhar, é o perigo absoluto, não tem mais interesse, e, ao mesmo tempo, percebe-se, cada vez mais, que quando se pensava que o álcool ou a droga eram necessários, eles não são necessários.” Talvez tenha sido necessário para Bukowski já que seu trabalho literário estava intimamente ligado ao ato de beber. Na minha atormentada cabeça funciona mais ou menos assim: Não dá para entrar para o Planet Hemp e não ficar chapado. Ser um “personal trainner” gordo e mal cuidado, um “personal coach” mal sucedido e fracassado ou um jogador de futebol gordo e decadente(quem será? rsss). E quando estamos na fronteira entre a pradaria e o abismo sem saber que rumo tomar é preciso trabalhar, trabalhar... como Deleuze, com a mente sóbria. Viver a vida possível e não ter um lampejo cintilante, falso e brigar com a ressaca de três dias. Com a interminável e reincidente dor física e moral na cabeça. Cansei. Pausa para um “upgrade” na minha vida! E sem moralismos por favor. Se beber ainda é bom para você continue! Tenho grandes amigos que só conseguem trabalhar bebendo; tocar guitarra chapado; escrever textos brilhantes de ressaca. Se amanhã isso tudo fizer algum sentido novamente eu volto para o bar e não aceito censuras! Viva o grande Tim Maia!!! Não tenho interesse em ser exemplo para ninguém já que na referida matéria cada um tem seu limite, seu próprio fígado. Só acho que a avaliação pessoal é necessária. Sempre. Desta feita individualmente e voluntariamente assumo o meu radicalismo particular e momentâneo baseado em um novo contexto de uma nova filosofia de vida que acabo de criar ou aderir. Parei de beber no dia 7 de setembro de 2010. Por simultaneidade é o dia da independência. E esse é o meu grito! ( e o eco virá - com certeza – espero que seja bom!!).

sábado, 28 de agosto de 2010

100 POSTS 100 MOTIVOS PARA NÃO COMEMORAR


Cansei de escrever neste blog. Sei lá! Ninguém gosta de cara que só reclama. Que leva a vida a criticar os outros. Nada aconteceu. O Luan Santana continua dando os seus ganidos. As cachorras...as preparadas. Os pastores de televisão. O Padre Marcelo. O Raul Gil pegando criançinhas. O Henry Sobel roubando gravatas...a delícia da Paris Hilton cheirando cocaína com a Kate Moss... E em ano de eleição os candidatos são a mulher-pêra, Tiririca, Marcelinho Carioca e Maguila. Sem contar os eternos Maluf e Quércia. E eu vou votar em quem? Dos livros mais lidos eu não quero ler nenhum. Das músicas mais tocadas eu não gosto de nenhuma. Das dez mais desejadas eu quero comer todas e não vou comer ninguém. Então para quem escrevo? Ninguém? Dias atrás fiquei fascinado pelo orgasmo de Lady Chatterley de D. H. Lawrence. Não se fazem mais orgasmos como antigamente. Nem o orgasmo é mais o mesmo. Novela então...nem peitinho pode. Que saudades da Lulu no Roque Santeiro. Enfim. Envelheci porra! Quem lembra da Lulu e ainda tem tesão fatalmente envelheceu. Como o Marcelo Mirisola aqui estou eu com meu chinelão Ryder e minha camiseta Hering com a barriga saindo para fora fazendo aquilo que ninguém gosta. Reclamando da vida e pior...sendo saudosista; dando tiros a esmo. Ninguém suporta saudosistas. O negócio é ir para a arena de Barretos . O touro vai ser molestado derrubando um perfeito imbecil mais cedo ou mais tarde. E todos os outros riem, olham para o futuro com esperança(rsss) , compram cavalos pela internet e mulheres pelo telefone. Oh!!!!! Ohhhh!!!! Ohhhh Rebuceteio! Ohh ressaca de três dias! E Cazuza me falando que meus heróis morreram de overdose. E outros morreram de causas diversas. E daí? Quem está preocupado com isso. Glauber, Kurt, Miller, Buk, Hilst, Nietsche, Kerouac, Caio, Modi, Gauguim, Raul, Henfil....quem se importa? São apenas nomes lançados num tempo remoto e primitivo. E a melhor voz do mundo é a de Tom Waits. E ninguém gosta por óbvio. O melhor Halls é o preto. Ninguém concorda. Então para quem escrevo? Sou obrigado a olhar para dentro e vislumbrar a mais completa solidão.(lembrei de Jessé rsss). Sou obrigado a ler esse livro incompleto. Eu sou o único leitor deste livro do capeta. Deste blog maldito. Tempos atrás já escrevia. Que merda! E com 14 anos lia Henry Miller. Que merda! E nessa incursão solitária pelo passado passo os olhos em coisas que escrevi, por exemplo em 12/06/90 quando tinha 21 anos: “é preciso ousar, dar o exemplo, não ficar parado, cuspir, pisar em cima, mijar fora do vaso para que as coisas adquiram um novo rumo, para que as pessoas saiam dessa posição cômoda em que se encontram”. Assim mesmo – entre aspas- tamanha ingenuidade. Que babaca! Eu escrevi isso? Meu Deus....como diria FHC - desconsiderem. “Esqueçam tudo que escrevi”. É isso mesmo. O peito da Cássia Kiss caiu na sopa. Melhor escutar a Kelly Key no Caldeirão do Huck. Antes compre um babador. “Hasta la vista Baby”.
E para terminar um trecho de um poema de Augusto dos Anjos: "A pirâmide real do meu orgulho,/Hoje que apenas sou matéria e entulho/Tenho consciência de que nada sou!"

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Eu juro que tentei!

Antonin Artaud



Eu Juro. EU JURO! Eu tentei Doutor. Tentei me encaixar nessa porra de sociedade. Tomar banho, escovar os dentes, pentear o cabelo e criar uma expressão corporal e facial compatível com a normalidade. Mas aí veio o louco do Antonin Artaud e disse que "Nascemos podres de corpo e alma, somos congenitamente inadaptados". Durma com um barulho desses! Então tentei deixar a bebida. Matar o maldito interesse pelo descontrole irracional. Um chute na inconsequência. Algo ponderável! Um objetivo. Mas com Artaud veio também Baudelaire para colocar na minha cabeça aquele velho mantra: "É preciso estar sempre embriagado. (...). Para não sentir o fardo horrível do tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriague sem descanso". Mais uma recidiva! Sem contar as constantes aulas do meu professor Bukowsky: "beba mais cerveja./há tempo./ e se não há/ está tudo certo também." - Até que numa bela noite na sombra da sarjeta da rua infecta da ressaca entendi Rimbaud: "O poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos." Enfim e para resumir: sou mais um caso perdido. Sem remédio. Sem salvação. Cai de boca na vida e hoje Doutor você pode me encontrar num bar furreca tomando cerveja barata, escrevendo poemas para o vento e tocando blues. A consulta eu pago depois. Põe na conta do Abreu!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Plínio Marcos o Tolstoi brasileiro


Encontrei o Oswaldo Mendes em uma palestra sobre dramaturgia na Feira do Livro; Escritor, dramaturgo etc; falava sobre Plínio Marcos no Teatro Auxiliadora desta cidade de Ribeirão Preto para uma platéia de no máximo trinta pessoas. No teatro com capacidade para 300; Má divulgação? Pouco conhecimento do público? Desinteresse geral? Sei lá! Talvez uma situação do teatro atual de “Stand ups” e coisinhas burguesas desprezíveis(comédias românticas urgh!). Quem não foi perdeu o relato de quem viveu intensamente com Plínio Marcos numa época em que o teatro incomodava. Contestava. Andava na contramão da estória tacanha deste País. Numa época em que o teatro fazia público e dava uma banana para subsídios. Uma banana para o governo. E hoje com raríssimas exceções tudo é bonitinho, tudo é...digamos “clean”; tudo tem que ter uma relação direta com mercado, para ganhar a verba governamental, do Sesc, Sesi etc; Plínio Marcos ao contrário vivia o que pregava a ponto de vender livros em portas de teatros, morar numa pocilga sem móveis e um colchonete no chão. E quando um amigo passava necessidades tinha o desprendimento de pegar o pouco dinheiro e enfiar no bolso do necessitado. Ou mesmo tirar seu paletó e dar para um mendigo. Portanto está aí sua maior virtude. A verdade. O escritor só é bom quando vive o que escreve como Bukowski, como Henri Miller, Pedro Juan Gutierrez e tantos outros. Desconfio de escritores que fazem muitas pesquisas, que ganham prêmios e dinheiro para escrever. Plínio Marcos escrevia sobre os marginais como ele, que não tiveram escola, que não curtem vestir terno e gravata e falar bonito em português impecável. E como resposta recebia censura e mais censura. A verdade incomoda. Talvez esteja aí a explicação : (poucas pessoas na palestra). Plínio Marcos incomoda até hoje. Mas antes platéia pequena e com qualidade do que platéia cheia de boçais. E isso foi um alento. Semblantes interessados, jovens dramaturgos, artistas. Poucos que talvez façam a diferença. E no final não resisti e fui bater um papo com o Oswaldo que rapidamente saiu do recinto para fumar seu cigarrinho. Tempos negros. Até os cigarros incomodam. As pessoas querem viver mais só não sabem o motivo. Tremendo de ansiedade deu duas tragadas e acalmou-se um pouco e pode me brindar com uma bela dedicatória no seu “Bendito Maldito”. Livro nitidamente de amigo para amigo; de biografado ídolo para biógrafo fã. Claramente deu costas às passagens sórdidas e fixou-se na grandeza da obra de um dos maiores personagens deste País. Ainda bem. Plínio merece bem como “Dois Perdidos em uma noite suja” “Navalha na Carne”, “Barrela” dentre outras obras-primas que atualizam-se a cada ano. E hoje a censura não é política mas econômica. E o censor não é o governo mas a mídia. Constatei. E a dedicatória foi “Tinoco na esperança de que a trajetória de Plínio seja inspiradora, deixo o meu abraço fraterno Oswaldo Mendes”. E a palavra é esta. ESPERANÇA. Naquelas vinte e cinco ou trinta pessoas do Teatro Auxiliadora. Madre de Deus! Nos ajude. Plínio me dê inspiração seja lá onde você esteja. Olhe com carinho para nós aqui nas “quebradas do mundaréu”. E não sei porque no ato final do livro lembrei-me de Tolstoi que assim como Plínio no final da sua vida abriu mão dos confortos burgueses e apegou-se cada vez mais às questões espirituais. Talvez o desleixo de uma barba por fazer. Sem dúvida dois grandes escritores.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Rubem Alves, Ziraldo, Ana Paula Maia e Herbie Hancock(???)


Ouvindo “empty pockets” de Herbie Hancock lá vou eu em mais um texto no ritmo do Jazz e de bolsos vazios. Feira do livro Ribeirão Preto 2010. Primeiro foi o Rubem Alves em concorrida palestra no Teatro Pedro II. E não é que o velhinho é engraçado? Cheio das metáforas espirituosas. Comparou inteligência com pênis e frescobol com tênis. Gostei. Os velhinhos estão cada vez mais despudorados. Aquela coisa permissiva que só a idade oferece. Depois foi o Ziraldo. Mais um velhinho engraçado. E em determinado momento um menininho muito do "maluquinho" chamado João Artur lhe perguntou. “De onde vem sua idéia?”. Ótimo. Gostei também. A resposta melhor ainda. “-da bunda!” E contou a estória do turco que veio para o Brasil e foi maldosamente informado que cabeça em português era bunda. E a Nana Caymmi passando o som! Uma velhinha hiper talentosa e nada engraçada!!! Sei lá. Ouvindo suas belas canções sempre recebo a triste visita da melancolia. Ao contrário do seu papai é claro que tinha a alegria estampada no semblante baiano. E hoje teve uma palestra de uma escritora nova. Ana Paula Maia. Escritora bonitona, com uma camiseta dos Ramones, toda dark, séria, não bebe, acorda cedo para escrever, pesquisa os temas a serem trabalhados e tem uma postura inconscientemente punk/Marxista. Escreve sobre o homem comum, o trabalhador das minas de carvão, do lixo do "serviço sujo". Aparentemente gostei também. Seu blog e bem legal (Killing Travis) e tem uns contos gratuitos. E comprei o livro “Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos”. Belo título. Com dedicatória e tudo. Futuramente comento. E teve o tradicional chope no Pinguim. Dr. Sócrates e o Caxassa também estavam lá.(como sempre!). E termino este texto ainda na companhia do Hancock – “I have a dream”. Um não. Vários! Bolsos vazios e sonhos a serem realizados. Aqui vou eu! E para melhorar o visual do Blog aí vai uma foto da simpática Ana Paula Maia.

domingo, 6 de junho de 2010

Lawrence Ferlinghetti Um parque de diversões na cabeça


“Um parque de diversões na cabeça”; que título legal não? Lawrence Ferlinghetti é daqueles escritores doidões da Califórnia(EUA) que tem uma idéia na cabeça e um ácido ou um cigarro de maconha na mão. E em alguns momentos na inconstância do livro (passagens e poemas ininteligíveis) somos agraciados com pérolas como esta jóia rara em alusão a um anti-natalismo comercial(se é que isso existe?): “Cristo Abandonou/Sua árvore desnuda/este ano e furtivamente fugiu rumo/ao útero anônimo de Maria outra vez/onde na escuridão da noite/das almas anônimas de nós todos/Ele aguarda novamente/uma inimaginável/e impossível/Reconcepção Imaculada/na mais doida de todas/as segundas vindas.” Esse poema serve para ilustrar um pouco a tônica do livro. Uma utopia, um desencaminhar os passos monótonos do leitor para uma direção contrária. Certa ou não pouco importa. O julgamento não tem parada; o importante é deixar fluir as novas idéias. Voltando aos momentos “ininteligíveis” poderia culpar a tradução, caso o livro que tenho em mãos não fosse em edição bilíngüe. O original em inglês ao lado da tradução. E pude observar que a tradução dos meninos Eduardo Bueno e Leonardo Fróes está muito boa, muito próxima do original americano. Concluo pois que o cara realmente tem um “parque de diversões na cabeça”. Portanto livro para se divertir e garimpar. Ferlinghetti é conhecido como o pai dos beats, criou a Cult editora e livraria “City Lights” editou livros de Jack Kerouac e Ginsberg(inclusive "O uivo") e continua o mesmo doidão de sempre. E seguindo o conselho do próprio escritor li o livro escutando um disco de Jazz com “The Dave Brubeck Quartet” “Time Out”. E deixei os poemas fluírem com a música sem censura. Já dizia Clarice Lispector: “viver ultrapassa todo o entendimento”.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Carta ao Pai Franz Kafka


Tive um retorno aos clássicos. As vezes necessitamos voltar no tempo para perceber que tudo já foi dito, só mudando o involucro, a roupagem. (e fico pasmo em saber que o cara não tinha nem computador ohhhh! Abre o olho galera do you tube!). Bem, impossível ler esta carta/livro/monólogo "Carta ao Pai" e não observar de súbito a importância literária e psicanalítica da mesma. Também não há como não analisar a nossa postura como pai, como filho ou vice-versa. Uma verdadeira porrada no estomago contra o pai tirano, que com sarcasmo prefere satirizar as preferências do filho e enaltecer suas próprias vivências. Pura vaidade. A velha ladainha do árduo esforço paterno em vão para a criação de filhos tão diferentes do sonho idealizado. E hoje observamos de camarote que uma das maiores personalidades literárias da história não foi reconhecida pelo próprio pai que questionava seu estilo de vida, seus livros, seus amigos, sua forma peculiar de religião e até suas pretensas esposas. Quanta mediocridade. Portanto quando o seu filho estiver fazendo arte em qualquer sentido e recusar-se a vestir um terno incomodo lhe de todo o apoio "please"! É o mínimo que um pai tem que fazer. Dar asas ao filho e não algemas.
Tempos atrás li “O Processo” e nesse livro “Carta ao Pai” temos a oportunidade de entender um pouco mais do universo Kafkiano, seus dramas familiares e vida reprimida ao extremo que lhe levou a escrever este verdadeiro libelo contra a sociedade formal e idealizada. “O processo”(imperdível. Já dizia Paulo Francis!). Enfim, Kafka era um artista que não estava preso aos padrões tacanhos de sua época, às instituições que lhe eram pré-estabelecidas e foi totalmente incompreendido, especialmente e conforme já dito, pelo próprio pai. E aí está a força da literatura. Partindo desta frustração deixou todos esses belíssimos livros/confrontos entre a alma do artista e visão ímpar e o cotidiano cheio de labirintos incompreensíveis para aqueles que enxergam um pouco mais além como Franz Kafka, como eu, como você que leu até esta linha. Somos uns inconformados. E morreremos assim. Viva Bukowski que dispensava empregos em série. Viva os Beatniks que tinham o propósito de subverter as convenções e criaram um “way of life” próprio; enfim, todos esses fantásticos loucos que literalmente chutam e chutavam o balde no salão nobre da cúpula do poder convencional executivo, legislativo, judiciário, social...paterno....

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Dalton Trevisan - o recluso, a obra e as celebridades


Um dos maiores escritores brasileiros; mas o mais esquecido; timidez? Talvez...São essas pessoas que não cultuam a si próprias, que passam pela vida dando mais ênfase à sua obra do que às mundanas tentações. Ler Dalton Trevisan é entrar em outro mundo. Um mundo onde a vulgaridade passa longe mesmo quando o tema é um assunto vulgar e cotidiano. É a maneira de escrever com dignidade, de achar o interesse nas mínimas situações. A graça das nossas próprias desgraças de seres imperfeitos. Mas esse texto está ficando pomposo demais. Os livros lidos são "A gorda do Tiki Bar" e "Duzentos ladrões"; Meros títulos de alguns dos contos ou micro-contos, 41 ao todo onde os temas diversos tratam em suma de algumas taras, neuroses, transitando fácil entre igrejas e inferninhos. É isso. Dalton Trevisan escreve fácil sobre temas difíceis. Ora, como tirar alguma poesia de um encontro indecente entre um lascivo professor de literatura e sua aluna submissa? Ora, os puritanos que me perdoem mas quem mais poderia escrever frases como: "recebo o cálido repuxo do Mestre de Letras no meu cofrinho arrombado: o vinho na taça roubada é mais doce." "dele a grotesca bocarra de gárgula que despeja esse chorrilho de palavrões imundos" . Enfim o verdadeiro mestre da literatura dando uma aula em cada linha escrita. E esse elogio é para poucos. Mais uma flor de lótus no lodaçal. "Avis Rara". E no livro "Duzentos Ladrões tem uma bela homenagem à preferência nacional. Louvação. "Ó bunda bundinha bundona/-a tua gulosa boca vertical/com a exata cesura entre as rimas ricas/não compõe os catorze versos clássicos/rematados em fecho de ouro/de um soneto alexandrino perfeito?" Ahhhh!!! meras brincadeirinhas com palavras, com letrinhas....leia sem receio de errar. E o vampiro de Curitiba odeia ser fotografado. Mas os paparazzi não perdoam é claro. Olha o "belo guapo" aí em cima!. É.... pensando bem ele tem razão. Fotos são dispensáveis. A obra escrita é que importa.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Perca Tempo Ciro Marcondes Filho


Pois então....perca tempo e leia esta dica de livro "Perca Tempo" de Ciro Marcondes Filho, "é no lento que a vida acontece" Editora Paulus. O cara fez jornalismo e pós-doutorado na França em ciências sociais e outras áreas como filosofia etc, professor tradutor, conferencista...; E com muito embasamento teórico dá uma dica altamente fora de moda mas de muita pertinência : perder tempo. Não no sentido de passar por ele em letargia mas simplesmente aproveitá-lo melhor. Conhecer as coisas sem pressa, submetendo-as ao tempo concreto e não ao tempo abstrato(conceitos explicados no livro). Com certeza com isso aprenderemos a olhar, saber, ouvir e sentir as coisas de uma maneira mais intensa e melhor. É o que o autor propõe - Uma revolução social lenta e silenciosa para desatrofiar os sentidos embotados. E o livrinho é uma delícia pois vamos nos apropriando lentamente de idéias de vários filósofos e pensadores como Jean-Paul Sartre, Joachim-Ernst Berendt, Sêneca, Gunther Anders, o cineasta fancês Louis Malle e até mesmo Marco Aurélio com suas meditações escritas a tanto tempo atrás(172/173). O que certamente já determina que o tempo é relativo. Um verdadeiro e breve tratado contra a vida maquínica em que vivemos. Contra a ansiedade e o "horror vacui". E o escritor era o editor do ótimo "O Teatro do Mundo - A Canção" programa da rádio USP que escuto todos os dias enquanto trabalho. Ops! O tempo cruel abstrato me avisa que tenho que partir agora. Abraços longos e beijos prolongados.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Gonzos e parafusos Paula Parisot

Baronesa Elisabeth Bachofen-Echt - pintura de Klint

Este livro da quase estreante Paula Parisot eu achei um pouco irregular, algumas coisas desnecessárias etc. Passamos um período na vida de uma psicanalista, Isabela, que aos poucos vai deixando-se levar pela loucura deliberadamente, a ponto de vestir a "persona" da Baronesa acima em destaque. Então saimos de um mundo um tanto quanto banal cheio de problemas do cotidiano para adentrarmos num terreno mais poético. Sei lá. A idéia é boa tal e coisa mas...fica a idéia que a loucura do cotidiano é muito mais louca do que a própria loucura dos hospícios e dos quartos de cristal. Mas como diria o Rubem Fonseca(padrinho confesso da escritora) ela escreve bem, tem talento coisa e tal. Quem me dera um padrinhão desses! E o engraçado que tinha acabado de ler o livro abaixo sobre Egon Schiele e nesse livro também a escritora fala muito do pintor que influenciou Klint e vice-versa. Vide as mãos da Baronesa pintada por Klint. É Schiele puro!!! E termino com umas citações do livro - editora Leya 1a. edição página 89: "sou uma pessoa incoerente, mas quem não é?" "viver em si, já é, deliberadamente pesado". É verdade!


Os Cadernos de Dom Rigoberto Mario Vargas Llosa

pintura de Egon Schiele


Ou memórias de um libertino ou peripécias de Fonchito, ou fantasias eróticas de D. Lucrecia. Como sempre Vargas Llosa escreve várias estórias dentro de um livro só.
Em resumo seria a estória de um solitário Dom Rigoberto que pelas circunstâncias nada convencionais da traição de sua mulher madrasta Lucrécia com seu filho adolescente Fonchito do 1ª. casamento é obrigado por protocolo social a separar-se. E desde então perde seu norte, sua musa, sua alegria de viver. Percebendo isso e com um misto de culpa e curiosidade Fonchito resolve por molecagem unir o casal novamente. Começam às visitas na casa de D. Lucrecia, as estórias inspiradoras da vida de um grande pintor erótico Egon Schiele. As cartas anônimas....Engendra toda uma armação maquiavélica para atingir seu intento. Paralelamente vamos acompanhando a vida do pintor e traçando as semelhanças entre o drama , Fonchito/Lucrecia/Rigoberto... E tem também capítulos inteiros de recordações das experiências erótico/pornográficas entre Lucrecia e Rigoberto e o riquíssimo passado libertino. É o erotismo de uma música de Mahler e não o erotismo estampado nas páginas da Playboy como ressaltado no próprio livro. Para fechar e estes são os melhores: as anotações impagáveis dos escondidos Cadernos de Dom Rigoberto(cadernos que ele escrevia para si próprio na solidão de seu escritório e da separação, com seus livros e suas obras de arte) . Escritos de uma peculiaridade impar de uma personalidade um tanto quanto ranzinza de um ser totalmente hedonista, erótico, desbocado, despudorado e por conseguinte de um humor extremamente refinado. E o legal é aquela sensação de estar lendo cultas observações em um diário maluco e secreto. Mais um bom livro de Vargas Llosa. E nas entrelinhas temos várias outras estórias. Vamos aprendendo um pouco sobre a estrutura social de Lima/Peru, seus bares, seus hotéis, seus personagens....sem contar os resumos de outros livros sabe-se lá inventados ou não de autores na maioria desconhecidos.(como daquele escritor que escreve um livro inteiro enaltecendo os pés da amada). Ademais mudando de assunto, engraçado como o escritor sempre procura deixar bem claro a sua paixão pela pintura e pelas artes plásticas em geral. Difícil ainda saber o quanto de Llosa vai em Rigoberto. Está aí uma pergunta que eu gostaria de lhe fazer pessoalmente. Com certeza muitas semelhanças que devem estar guardadas em seus próprios arquivos, cadernos e diários. Segundo a crítica Dom Rigoberto é um dos personagens mais bem delineados da carreira do escritor. Sem dúvida!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Machu Picchu: colírio de doidão!




Era uma vez um jovem advogado metido a músico e escritor que foi conhecer a cidade perdida de Machu Picchu. Chegando lá não viu ovnis, alienígenas, duendes, bruxas, nem mesmo a Shirley Maclaine. Por outro lado o nosso personagem pode ver a magia e o encaixe perfeito entre as pedras, sentir o magnetismo das crianças e campesinos plantando, se abraçando, brincando com as águas calientes, com a queda das folhas e com o girar natural do mundo. Nesse momento ele desejou: - Que o amor pela vida nos tire do parasitismo, e nos leve a uma relação simbiótica mutualistica com o nosso negro planetinha azul. Tomou uma cerveja cusqueña quente e brindou sozinho. Num lampejo escreveu um hai kai: sem solução/beijos/molhados/suados/se vão/em vão/sem amor/sem tesão. Contemplou pela janela de seu quarto sórdido a lua cheia iluminando as encostas sagradas do Wayna Picchu.

terça-feira, 16 de março de 2010

Loucos pela tempestade Norman Ollestad


Pois é, tive um retrocesso de saudosismo pelo meus bons tempos de aventuras e comprei este livro que estava em promoção lá na Fnac. É a história de um acidente de avião e como os ensinamentos de um pai louco por aventuras ajudou o menino a sobreviver em condições inóspitas na Montanha de Ontário onde o avião bateu a 2600 metros de altitude. Em paralelo temos a narrativa dos conflitos entre pais e filhos e a questão de um pai que praticamente obrigava o filho a dividir as suas paixões e sonhos.(fator determinante para a sua sobrevivência.)HISTÓRIA REAL Mas...sei lá! Esperava mais do livro. Esperava um "Natureza Selvagem" de John Krakauer obra prima do gênero. E não veio. Sabe aquele cd que vc compra e gosta apenas de algumas músicas. Então é a mesma coisa: o livro tem apenas alguns capítulos interessantes. Melhor mesmo nas últimas 50 páginas. Em algumas passagens inclusive dá para sentir um climão "flower power". As narrativas de competições de esqui e sessions de surf são um tanto quanto longas e técnicas demais. E essa coisinha batida de intercalar duas histórias em capítulos alternados. Haja caretice maior(e o cara fez curso de cinema e de "escrita criativa"...). E o livro arrebentou entre os dez mais vendidos no New York Times; obviamente já tem filme para ser lançado pelo mesmo produtor de "Grand Torino" . Putz. Americano é foda! Tudo vira grana! Mas o saudosismo valeu a pena! Saudades das minhas aventuras, caminhadas, montanhas etc. Existem momentos da vida que precisamos voltar as origens e sentir aquele vento frio e aquela água gelada que vem lá do Nepal da nossa alma. Namastê!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Memórias da Sauna Finlandesa Marcelo Mirisola


Muito pode-se falar sobre este novo livro do Marcelo Mirisola, Editora 34, “Memórias da Sauna Finlandesa”. Muito já se falou. E é engraçado como hoje a crítica divide-se sem controle. Porém observando algumas vejo em suma duas espécies : os que entendem e os que não entendem o escritor. Os que não entendem descem a lenha e a crítica mais comum é de linguajar chulo gratuito, problemas emocionais, assuntos irrelevantes e de baixo nível, referências baixas e coisas do gênero. Os que entendem tem uma visão mais ampla. Observam o quanto a mentira confunde-se com a verdade nestes “textos autobiográficos” e como é tênue a fronteira entra a ficção e realidade. Uma deliciosa brincadeira. Eu que tenho 9 dos 11 livros dele aqui na estante posso falar de carteirinha. O cara esta cada vez melhor. Dou risada sozinho tamanho o humor. E agora começou a partir timidamente para a ficção de uma terceira pessoa narrada em primeira pessoa e com as idéias de uma outra pessoa(ele próprio). O que mais podemos esperar de uma ficção? O triste é saber que o Marcelo vem sofrendo patrulhamento dos Manos, das igrejas evangélicas e até mesmo dos fãs do Chico e do Ed Mota(maior injustiça/”de caso pensado” do escritor), mormente em decorrência de seu outro lado genial, o de cronista. A ponto de mais uma vez declarar-se publicamente, cheio de tudo e alheio a realidade e cada vez mais próximo da ficção que no fundo no fundo em sua obra é tudo farinha do mesmo saco. Mesmo as crônicas de assuntos triviais são brindadas com pitadas do imponderável, do fantástico. E é esse o seu grande trunfo. Diria até que ele está cada vez mais para Gabriel Garcia Marques do que para Alberto Fuguet. Mais para Cortazar e Bioy Casares de que para Bukowski e Henry Miller sem desmerecer qualquer um destes grandes escritores. O lance é que o cara está achando cada vez mais aquilo que todo escritor busca. O seu estilo próprio. E essa busca é dolorosa e a gente sente essa dor em cada um dos 19 contos deste novo livro. Muita melancolia, muita nostalgia, muitos poltergeisters(essa é dele!) até chegar no vazio em que se encontra agora a ponto de dizer em seu blog que “vai dar um tempo” com as crônicas dentre outras atitudes corajosas de quem busca um sentido para toda esta loucura . Mirisola é como aquela passagem da Bíblia: seja quente ou frio mas morno nunca! Algo assim salvo engano. Concluindo - meu amigo..... perplexos ficamos nós com tanto talento e tanta coragem. “O Dostoievski do Jardim Casqueiro assinaria embaixo” (MM) Boa noite – leia o livro. Devore-o ser antropofágico das profundezas, bom até para as “viúvas do Leminski”.

Cartas a um jovem escritor - Mário Vargas Llosa


Os livros que ando lendo: são vários cada qual em seu estilo; tem o “Cartas a um jovem escritor” do Mário Vargas Llosa. É uma aula de “como fazer um romance”, onde ele, Mário, escreve várias cartas para um jovem escritor anônimo respondendo às suas várias indagações, ou seja; acredito que o Mestre do romance utiliza-se de um de seus segredos de romancista para ensinar a escrever romances dentro de um romance. Sinceramente não me convence esse diálogo inverossímil e tão didático....Mas a aula é boa – Mário vai tecendo considerações pertinentes como explorar o tempo o espaço, a pessoa do narrador, a surpresa, a conexão e continuidade sempre com muitos exemplos extraídos de livros clássicos e conhecidos(outros nem tanto), mas de escritores como Flaubert, Borges, Cervantes, Cortazar, Bioy Casares... e até uma breve citação a Guimarães Rosa e seu grande em todos os sentidos "Grande Sertão - Veredas"
É isso – Mario Vargas Llosa é dotado de uma erudição e conhecimento que determina a facilidade com que escreve. Este talvez seja o maior ensinamento do livro. Seu exemplo. Basta ler seus livros como “Menina Má” ou mesmo “O paraíso é na outra esquina” já analisados neste blog para aprender a arte do escritor. Mas além da erudição e conhecimento ele demonstra neste livreto (básico para qualquer escritor jovem ou velho) sua paixão pela literatura, fator determinante para o sentido de sua vida. A conclusão final não podia ser melhor, algo como: esqueçam tudo que leram nesse livro e comecem a escrever. Viva este peruano fantástico que graças aos céus perdeu aquela eleição maldita e não torno-se um burocrata rouco e impotente a la Gilberto Gil.(que graças aos céus também saiu desta). A cultura agradece. E a política também.

quinta-feira, 11 de março de 2010

auto-ajuda para executivos e similares 1a. lição -como é bom pisar na jaca


Prezado; sim! você mesmo! você que usa terninho da moda com gravata de seda italiana; você que faz pilates às seis horas da manhã; você que faz a barba todo dia com um aparelho de três lâminas e depila a virilha e o cú toda semana. Toma água de coco com uísque. Frequenta academias , Pet Shops e hotéis-boutique. Passa férias na Disney com sua ninhada de poodles. Almoça sushi no Shopping Center e come biscoitos finos e ossos no chá da tarde. Sonho de consumo: Super tv tela plana digital e uma Grand Caravan na garagem.(obviamente já realizado!) Sim você mesmo! Aí neste condomínio fechadão! Este texto é para você que se identificou com esta rotina maravilhosa. Um belo dia na sua bela vida. Então larga este celular último tipo, desliga este i-pod e escuta este conselho grátis(eu sei que no fundo você adora um "grátis"): Já experimentou as benesses da Jaca? Não digo comer ou tomar suco ou mesmo cortar jaca(sua especialidade) mas PISAR nela. De preferência descalço. E sentir toda a textura de seu fruto carnoso, seu restolho e misturar-se ao restolho para enfim concluir: Eu também faço parte do restolho, eu sou o restolho do restolho, mero bagaço, um resíduo. E no fim da minha bela vida eu também vou pro saco! Junto com a jaca e seu leite pastoso , com o resto da lenha miúda e o jacaré da Lacoste eu vou virar terriço. Neste momento grite bem alto: - EU VOU VIRAR TERRIÇO!!!!!(não sabe o que é "terriço"????; ADUBO porra!!!!)
Garanto que vai ser uma experiência incrível e reveladora: A Lia Luft e o "Dr." Shinyashiki resssaltariam em tom profético e ufânico : - Um pouco de humildade, decrepitude e canja de galinha não fazem mal a ninguém!
Amargo eu?! Não não...não se ofenda por favor! Estamos apenas começando. Tenha paciência. Na próxima aula buscaremos a purificação através da dor e do desprendimento com a 2a. lição - limpar a bunda com uma nota de cem dólares. Favor providenciar o material(no seu caso vai ser fácil!) - inclusive pode mandar uma notinha para o professor. A família agradece!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Tigre Branco Aravind Adiga


Aqui estou novamente. Dizendo que tudo vai ser diferente! mas não - continuo rancoroso, lendo livros rancorosos, das castas inferiores, dos marginais que buscam escapar da "gaiola de galos". E é nesse espírito que acompanhamos a vida de Balram de uma maneira muito original. Vamos lendo um carta fictícia que ele, o "Tigre Branco", escreve para o Sr. Jibao, primeiro-ministro da China. Nessa carta ele vai narrando toda a sua vida desde a infância na aldeia de Laxmangarh, até a sua ascensão profissional como motorista na capital de um empresário corrupto e paternalista de araque e sua família idem. E vamos acompanhando toda a raiva, toda a indignação, toda a humilhação que os mais pobres e membros das "castas inferiores" empregados sofrem na Índia onde ao que tudo indica a diferença entre as classes sociais é gritante. (Qualquer semelhança com o outro ascendente Brasil não é mera coincidência). Mas o que é indignante é a corrupção nua e crua exposta de forma exemplar no livro (Alguém aí pensou no Brasil novamente???? Folha de arruda???). Bem...bom...na carta o protoganista que conforme já esclarecido acima é um membro das castas inferiores, vai mostrando um pouco da Índia distante das novelas globais, desnudando toda essa indignação para com as questões sociais e a verdadeira armadilha que os mais ricos preparam para os pobres para garantir a subserviência eterna, o servilismo e a "pacificação" social. É o sistema da "Gaiola de Galos"- só lendo o livro para entender. Mas o autor deixa bem claro o tempo todo. A gaiola está para ser arrombada. E os galos vão cantar em outra freguesia. E é exatamente o que acontece no final. O pobrezinho cansando de massagear os pés do patrão, servir scotchs enquanto dirije, ser barrado em shoppings, dormir no chão e calar-se perante todos os absurdos sofridos tem seu dia de glória. Consegue enfim escapar do sistema dando uma "aula de empreendedorismo" hindú e lavando a alma. Literalmente - matando o patrão. É o narrador que coloca tudo de uma forma muito simples; para ele é mera questão de trocar de lado. Facilmente após seu dia de catarse e êxtase torna-se um ser purificado, um empresário de sucesso e conclui na última página "acredito que valeu a pena saber, por um dia, uma hora, um minuto que fosse, o que significa não ser escravo". Difícil discernir até onde a ficção traduz a realidade porque o livro é muito bem escrito e apesar do tema difícil tem um humor irreprochável e sarcástico; mas se for como estou pensando a Índia é uma bomba relógio prestes a explodir e o escritor Aravind Adiga é um porta voz de extrema coragem. Muito persuasivo. Tanto que em 2008 com apenas 35 anos ganhou um dos mais importantes prêmios literários pelo livro: o "Man Booker Prize". E é isso aí - a boa literatura não tem classe social, não tem idade, não tem fronteiras, não tem País. É a rebeldia que move montanhas, chafurda na lama e encontra sua flor de lótus. Um abraço! ps- o Ministério da Saúde adverte: não saia por aí matando às pessoas, mormente o seu patrão após ler este post. É como nos ensina o grande mestre e escritor Peruano Mario Vargas Llosa. "É claro que quando alguém - Dom Quixote ou Madame Bovary, por exemplo - teima em confundir a ficção com a vida e tenta assemelhar a vida à ficção, o resultado pode ser dramático. Os que agem dessa forma em geral sofrem desilusões terríveis".

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Seminarista Rubem Fonseca




Hoje lendo um artigo no site “Congresso em Foco” deparei-me com mais uma dica do meu amigo Marcelo Mirisola – a dica é simples: quando você ler um livro qualquer que seja comente, fale, escreva. Sob pena de cometer um crime. Ficar falando sobre “Big Brother” a vida inteira. Crime contra o escritor, contra os leitores e contra si próprio. Gol contra.
Na Revista Revide deste mês temos ainda outra frase de outro grande amigo e companheiro de copo que admiro muito. Esta eu vou transcrever – “Tem gente que não dá livros para os filhos porque acha caro. Mas dá uma viagem a Disney. Depois o filho se transforma em um Pateta e ele não sabe por quê”. Grande Fernando Kaxassa. E é por essas e outras de grandes amigos que este blog não morre. Se: manifestando minha paixão por literatura e pela leitura em geral eu puder sensibilizar uma viva alma que seja já terá valido a pena essa maluquice toda de ficar escrevendo ao léu e de graça. Fazendo como diz minha outra grande amiga, prima e escritora Roberta Ferraz. “Atirando pra dentro, pra fora, pra onde?” Mas vamos lá. Está introdução toda está muito séria e melodramática. Como diria Cioran “A vida é um acaso – pra que levar isso a sério?” Na verdade hoje eu entrei aqui para falar sobre o novo livro do Rubem Fonseca – O Seminarista – Editora Agir/2009 – Cara foda o Rubem Fonseca. Ou melhor “fodão”! Num pequeno livrinho policial despretensioso tendo como mote um ex-seminarista que torna-se matador profissional e depois tenta redimir-se pelo amor de uma mulher viajamos numa mente atormentada e extremamente original, de um personagem “sui generis” como poucos já inventados. O “especialista” é um bandido da pior espécie mas que nas entrelinhas encanta pela sua paixão por citações latinas, gregas, por livros, por rock e por esta sua busca tão humana pela felicidade, pela transformação, pela digna aposentadoria. E é aí que mora o “fodão” do Rubem Fonseca. Na verdade todo livro é uma discussão de um tema universal. As pessoas tem a faculdade da transformação da redenção ou somos o que somos sem possibilidade consciente de mudanças? A resposta do livro é cristalina e opta por Cioran, por Nietsche, por Schopenhauer é claro! Não é possível deixar de ser um matador profissional da noite para o dia. O mundo inteiro conspira contra. Nascemos com um caráter e com uma consciência moral peculiar e nos afeiçoamos a isto. Como uma tatuagem. E aí podemos até discutir teorias evolucionistas. Um crápula será sempre um crápula? O que é um crápula? Um bandido que mata por dinheiro ou um bom pai de família que dá uma viagem à Disney para o seu filho emo? E o engraçado é que todos os grandes bandidos do livro são ex-seminaristas e nas entrelinhas podemos ver mais uma vez o “fodão” do Rubem Fonseca. Uma crítica sutil à igreja. Enfim, parafraseando o personagem do livro “como diria Cícero, a fabulis ad facta veniamus, passemos das lendas para os fatos”. É um livro delicioso. Para ser lido fácil e no meu caso em Arraial D’ajuda depois de 20 anos sem pisar por lá. E Arraial mudou muito. Mas o Rubem Fonseca continua o mesmo. Escrevendo sobre “pessoas empilhadas na cidade enquanto os tecnocratas afiam o arame farpado”. Essa eu tirei de sua pequena biografia de rodapé. E o Rubem é formado em direito....(mais um advogado escritor!)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Bukowski e seus textos autobiográficos


Aqui estou eu em nova incursão na obra do mais notável crítico do "status quo", da vidinha medíocre, das boas intenções. do progresso, dos propósitos, do "algo mais" que não existe. Ler as 479 páginas da compilação dos textos autobiográficos de Bukowski requer estômago mas principalmente maturidade. É como ler um Nietzsche desiludido porém não recluso com uma garrafa de cerveja ou vinho na mão o tempo inteiro. E vamos caminhando por sua vida, a infância difícil de um filho que não amava o pai, não amava a mãe, não amava os amigos de escola...não amava porra nenhuma até descobrir sua salvação! Os livros e a bebida sem contar outras "cositas". É dele a famosa frase: "Tudo que peço da vida é um punhado de livros, um punhado de sonhos e um punhado de vulvas".: Adolescência difícil entre problemas com acne e a própria feiúra. Já adulto, muito sofrimento com a falta de reconhecimento, a falta de interesse por qualquer trabalho "normal", a falta de grana, mulheres duvidosas, muitas brigas em bares e porradas em garçons. Já na velhice o seu auto exílio provocado pela sua insatisfação com o mundo. Sem contar as apostas nos cavalinhos. As visitas femininas nas loucas madrugas e muita escatologia. Muito sarcasmo. Mas com tanto sofrimento também muita riqueza.O cara sobrevive até hoje e tem fãs no mundo todo e no Brasil uma verdadeira legião. Afinal escrever para ele era como comer, fazer amor dentre outras necessidades básicas Disse certa vez: "Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura". Enfim Bukowski é uma viagem imperdível. Mais uma vez recomendo sem pestanejar. Textos curtos sem grandes pretensões mas com muita verdade em sua substância. E a verdade dói. E a dor purifica. Afinal como diria o próprio Buk "um bom poeta pode fazer uma alma despedaçada voar."

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