terça-feira, 27 de novembro de 2012

sinal dos tempos

Percebo com total serenidade que os tempos são outros ao abrir o Jornal “Folha de S.Paulo” e observar na sua “Folha corrida” do dia 26/11/12 as seguintes manchetes: “Nova Roosevelt – após a revitalização, os aluguéis subiram e os Satyros vão sair da praça;” Caramba...essa é a realidade cruel do nosso teatro(penso)....Na mesma página “Dinheiro dos músicos. Por uma música ouvida um milhão de vezes na internet, algo raro, um músico recebe a miserável quantia de R$360,00”. Putz...que mal....não dá mais para viver de música(penso). Mas de súbito e na mesma página em contraposição vejo este quartzo rosa dos “tempos modernos” “Nerd Campeão - Jogadores profissionais faturam milhões disputando torneios mundiais de games.” (....) Milhões??? Games???? Para fechar a minha agradável leitura matinal o jornal destaca a insólita “frase do dia” “Atenção aos retardados que estão assistindo Pica Pau começou Tv Xuxa” – “Mário Meirelles diretor do TV Xuxa no seu twitter”. Pica Pau??... TV Xuxa???...Estupefato fecho o jornal, acabo de tomar meu café italiano, forte e amargo, como o meu pão amanhecido com manteiga, visto o meu paletó surrado para ir para mais um dia de trabalho enfadonho e ao despedir de meu filho de nove anos que está na TV jogando “Call of Duty Black Ops”....tenho enfim um alento matutino e digo com orgulho paternal:


-MATA...ATIRA...ATIRA....MAIS RÁPIDO..RÁPIDO PORRA... MATA todos eles meu filhão!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tropicália - o filme de Marcelo Machado



Aproveitando a ressaca de eleição com o fim do 2º. Turno aqui em Reb’s bem como o forum fechado fui assistir uma matinê no Cinépolis da “avant-première” em Ribeirão Preto do filme Tropicália do diretor Marcelo Machado. Dia 29 de outubro, 13:30 horas – ao escolher a cadeira tinha o cinema todo a minha disposição; “- Se for só eu a sessão acontece?” “- Sim, sem problemas, mesmo sem ninguém!”. Aliviado lá fui eu. Durante os trailers apareceu mais um nerd gato pingado (que não ficou até o final da sessão). Pedi para o operador da câmera acertar o foco que estava horrível e iniciou-se a sessão para os dois gatos pingados. Um e meio vai já que o meu cúmplice barbudo que deveria ter a minha idade foi embora antes do final. Me senti uma flor de lótus. Porém tudo isso é um pecado. Um desperdício. Um despautério. Sei que sou suspeito já que quero justificar o meu investimento(R$8,00 + a pipoca) mas o documentário é ótimo, as imagens selecionadas incríveis e o tratamento delas bem como os relatos muito felizes e com muita riqueza de detalhes. É fácil entrar no climão “flower power” utópico que envolveu a Tropicália com alguns dos nossos ídolos desfilando na telona com aquela trilha sonora tão prazerosa e familiar. O diretor foi muito feliz em deixar as imagens falarem por si com os relatos em off. Um despropósito aquela sala quase vazia... O filme deveria ser matéria obrigatória nas escolas. Já pensou? Hoje aula de Tropicália. Assunto: Liberdade de criação – Subversão – Utopia – Rebeldia - Criatividade.- Isso é que é utopia heim? A despeito do meu privilégio de ter uma sala de cinema exclusiva valia um ônibus escolar na porta do Shopping desovando a criançada para ver e saber ao menos superficialmente algo sobre Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Mautner, Torquato Neto, Hélio Oiticica, Maria Bhetania, Gal, Mutantes, Tom Zé, Rogério Sganzerla, Glauber Rocha & Cia.

Também está ali um libelo contra a mesmice de um ditadura acachapante de um período sombrio da nossa estória de familiares omissos e medrosos. Outrossim e apenas finalizando está ali uma pequena aula contra o conformismo muito apropriada para as novas gerações e essa moçada que fica por aí perdendo tempo com joguinhos de computador, boliche, novela, restart, nx zero.... e que não sabem sequer que um dia existiu um festival de Wigth. Será que tem Mutantes no Guitar Hero? E o assassinato do estudante Edson Luís será que essa moçada dourada e sarada sabe do que se trata?
Pois é...valia aquela gritaria, chicletes voando...neguinho sentado no chão, piadinhas....namoricos e outras interações e interferências para encher o saco deste quase velho triste naquela sala de cinema quase vazia.... Já não se fazem matinês e avant-premières como antigamente.... Vou levar meu filho de nove anos para ver o filme. É claro se eu conseguir tirar ele por algum tempo do minecraft. Missão quase impossível.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Desconstruindo Bukowski (monólogo em dois atos)

Numa pequena sala de aula com um espelho uma velha poltrona, algumas cadeiras de aula quebradas, um café, cafeteira velha, bolacha cream cracker e um copo com água, Chinaski começa a falar para si e para o vento com tom de desprezo. delírio e ressaca.(ao fundo a música “The end” do The Doors bem baixinho – versão instrumental ou repetição reiterada do solo ou qualquer música melancólica do Tom Waits ou Johnny Cash ).


Começa então o monólogo – entra CHYNASKI falando:
1º. ATO

- Compromisso enfadonho, medonho, camarim improvisado, fudido mesmo!, faculdade interiorana, sem grana, implorando para os céus, para o meu “cicerone” afrescalhado lembrar que o palestrante em questão sou eu... “HENRY CHYNASKI”;e que com café fraco e bolacha cream cracker a palestra simplesmente não vai rolar, não, não, não vai rolar legal. Diria até impossível. Improvável....E as dez horas da manhã? Quem foi o infeliz que marcou essa porra! Deve ter sido o cicerone bichinha. O que me leva a divagar, devagar...agora tudo é devagar...(a idade é foda): O que eu não faço por 100 pilas, um quarto de hotel barato e um bom rabo!

(olhando para o lado do palco)

“- O meu amigo, cumpâdi, meu irmão, meu chegado, sabe que fui com a tua cara? Tem como mandar aqui um uísque, um conhaque, que seja um bourbom barato, álcool 90, gasolina, etanol ou mesmo um vidro de perfume qualquer?

(volta a falar sozinho)
“É este o problema com a bebida.. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom,bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa”

Fico aqui nesse desacontecimento profundo....melancolia profunda...com uma sede do caralho e uma “melancia na bunda”.
Agora tenho que falar com esses “estudantes de literatura”...que porra é essa!? Literatura não se aprende nessa merda de catedral gótica e fria do inferno! Escritor que é escritor tem que levar é MUITA PORRADA MESMO pra ver se aprende sobre a vida sobre a morte, azar, sorte. A merda desta vida não é para amadores não...não... Tem que levar porrada desde criança. Sentir o desprezo de seus pares... ou seriam os ímpares? Nunca achei um ser vivente capaz de apaziguar a minha dor nessa terra de ninguém. Nenhum que chegasse perto da minha “genialidade” que seja, vá lá(modéstia é para os fracos).... Graças aos céus!!! Um Chinaski só já é demais. Mas não estou nem aí não! NÃO! Nunca precisei de amor....compaixão...gratidão....isso é para suburbanos que não podem ouvir a palavra CÚ.

Já fui casado, amigado, juntado com toda a fauna e flora do mundo, até flertei com o amor e paixão com aquela louca linda que enfiava espetos pelo corpo todo e foi embora para sempre. Como era o nome dela mesmo? Mas definitivamente não me venha falar de amor. Fora! Fora! FORA!!!!!! “O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece”.

Aliás que vontade de subir naquele palco agora e mandar todo mundo tomar no cú. Virar para a estudante mais gostosinha e tentadora e falar de forma bem lasciva. “– ô gostosa? Sabia que você é um tesão?, larga de perder tempo e vem aqui me dar esse seu cuzinho agora mesmo que eu vou te ensinar o que é literatura na prática. A litera dura. O “segredo” jamais revelado Ah Ah Ah!!!!! E sem vaselina heim? Ah Ah Ah você vai adorar sua puta!” Antigamente eu era capaz dessas coisas e as pessoas ficavam chocadas! Antigamente eu até me fingia de nazista para ver a reação óbvia do lugar comum. Hoje só faz parte do meu show de velho escritor decrépito. “O velho safado”.Tudo é “showbuzzines”, celebridades....Bem provável que depois que eu morrer esses filhos-da-puta mandem colocar uma estátua em minha homenagem em praça pública. Já estou até vendo os meus cacarecos expostos na Livraria Harlington.;vão estudar as minhas merdas e meu “delirium tremens” em universidades.Falsos...hipócritas....vendidos.

Hoje infelizmente é isso: 100 pilas e a seco. AGUA E CREAM CRACKER! é isso que estou valendo! Ainda se fosse um pãozinho com mortadela... E tenho que suar muita cerveja velha e barata pra subir naquela merda agora e “entreter” esse bando de boçais para pagar o aluguel do fim do mês.Boçais tá sabendo. “Tá ligado manoooo!.” Boçais. Todos uns boçais.

Tempos atrás casei com uma caipira/interiorana/rica/boçal e ninfomaníaca só de sacanagem.....é....todo mundo achava que eu queria a grana dela. Mas na verdade eu só queria tirar uma onda ...é....também sou filho de Deus...(esse filho-da-puta). Só que por óbvio também não deu certo. Ela também não agüentou o tranco. Tinha estomago fraco.

De sacanagem uma vez comecei uma conversa nonsense com a vadia:

“O que há de errado com os cus baby? Você tem um cu, eu tenho um cu, você vai ao mercado e compra um pedaço de filé, que é parte de algo que um dia teve um cu! Os cús cobrem a terra! De certa forma até as árvores têm cus, mas a gente não os vê, elas apenas deixam cair as folhas, seu cu, meu cu, o mundo está cheio de bilhões de cus, o presidente tem um cu, o garoto que lava os carros tem um cu, o juiz o assasino têm cus...até o alfinete roxo tem um cu!”

É não é que a suburbana vomitou? Não agüentou o tranco. Estômago fraco. Vadia.

(...pausa – olhar perdido – sério)

Lembro quando meu pai me batia e eu engolia a seco. Não derramava uma lágrima para aquele desgraçado. Não...não...nunca derramei lágrima para ninguém. Depois, vieram as espinhas, a feiúra e comecei a arrumar emprego a torto e direito para me “enquadrar” só para conseguir comer mulher. Um vendido. Um fingido. E era massacrado pelo sistema, pelos estúpidos...pelos capatazes...pelos encarregados.... ados...ados...ados VIADOS. Trabalhei em matadouros, correios e até para a Cruz Vermelha. Se arrependimento matasse.... “Que tempos penosos foram aqueles: ter a vontade e a necessidade de viver mas não a habilidade” Se bem que esse negócio de arrependimento é coisa de boiola não é? Ou não? É? E para extravasar um pouco ia para casa beber bebida barata. E para agüentar a benga entrando e o exame de próstata nosso de cada dia passei grande parte da minha vida emendando uma ressaca com uma bebedeira, com uma porrada, com uma ressaca, com uma bebedeira, com uma porrada....e por aí fui...até aqui... agora... nesse camarim fudido. Como é que eu ainda achei tempo para escrever esse monte de asneiras? Trinta e tantos livros muitos deles de poesia....loucura pouca é bobagem mesmo.

Bobagem? Quantas vezes não flertei com o suicídio em quartinhos minúsculos com venezianas fechadas. Quem mandou nascer na estrada na contramão, numa estrada infernal cheia de caminhões? Esse é meu problema. Nasci na época errada. Pacifista enquanto todo mundo era belicista, da contracultura enquanto nem sequer existia a palavra contracultura. O “underground” sozinho levantando a bandeira do fracasso enquanto todos almejam e almejavam o “sucesso” a qualquer preço. Sucesso? Que porra é essa?

Nos primórdios, subindo a rua numa noite chuvosa e fria me deparei com um mendigo sujo, cabelos enormes e desgrenhados enrolado em um cobertor grosso, felpudo, xadrez e fumando um baseado. Seus olhos eram azuis. Foi quando eu vi o que eu queria ser, o que eu queria ser...pelo resto da minha vida. Um vagabundo andarilho. Então comecei a escrever uma vez que esse era o caminho mais fácil para alcançar o meu intento. Quem ia querer ler um cara fudido como eu? E não é que hoje essas criançinhas aí fora gostam???? As gostosinhas que na hora “h” não querem me dar? E se eu vomitar em público daqui a pouco é bem provável que eu até seja ovacionado... Vai entender o ser humano(???);

Aliás nunca me considerei um ser humano. Nunca! Nunca quis participar de festinhas...confraternizações....”estar com meus pares”...ou seriam ímpares? Sempre gostei de beber sozinho, escrever sozinho, tudo sozinho... “Não, eu não odeio as pessoas. Só prefiro quando elas não estão por perto.”

E certa feita fiquei cinco anos sem sexo, só na punheta..., no mano a mano, na masturbação.....para não ter que implorar uma bocetinha qualquer, um cuzinho que seja. Isso seria se rebaixar de mais até mesmo para um cara fudido e feio como eu. E não é que quase enlouqueci? Loucura? Quem é louco aqui heim... heim... heim?

E então cheguei a inelutável conclusão: A única coisa que não dispenso nessa vida, como já disse é um bom rabo. Não tem como dispensar. Aliás acho que escrevo só para isso. Pra não ficar pensando em rabos o dia inteiro, ou talvez para teorizar os rabos que passam na minha mente, nas ruas, nos pontos de ônibus. No cú do judas. Quantos ônibus sem destino eu peguei para simplesmente prolongar o contato visual com tão adoráveis e tentadoras criaturas. O perfume natural... A mulher é a maior invenção do criador.
Esse criador filho-da-puta. Arregão! Uma vez eu chamei ele pro pau e ele não veio. Covarde! Fica aí escondido nas suas nuvens colocando essas gostosas para me tirarem do prumo porra! Deus é o caralho!

Nossa...quase ia me esquecendo dos cavalinhos...ahhh,.depois das mulheres a melhor coisa que o criador colocou na minha vida foram os cavalos de corrida. Principalmente os azarões que pagam 9 por 1 . Principalmente nos dias de sorte que não foram poucos....Aliás, melhor dizendo, sorte é para principiante não é?. Eu sei o que é ser um azarão vencedor. Basta olhar os dentes OS DENTES. Jóquei nenhum é capaz de estragar um animal e sua sina de animal, azarão e vencedor. LIVRE, LIVRE porém SEMPRE com um idiota baixinho e desprezível nas costas SEMPRE, diga-se. Vivemos, corremos e morremos e é só. E não há nenhuma glória nisso. E essas criançinhas ficam aí “teorizando” “esquematizando” “escrevendo teses” que nunca serão lidas, fazendo “oficinas”, indo à palestras.... Que vontade de falar para elas com todo o meu desdém: “Sinta mais. Pense menos”.

Uma vez me perguntaram o que era necessário para se tornar um grande escritor. Falei para o imbecil que ele deveria sair, ir para o hipódromo tomar uma cerveja e passar uma tarde apostando nas corridas. O filha-da-puta achou que era brincadeira! E não era. Nunca esses idiotas vão me entender. NUNCA.

Ahhhh....esses infelizes “jovens” querem conselho? Querem? Então toma lá, vamos ao ensaio:(com sarcasmo ensaiando a palestra) Você que é jovem e gosta de litera dura, digo, “literatura” - “Vá para o Tibet. Monte um camelo. Leia a bíblia. Pinte seus sapatos de azul. Deixe a barba crescer. De a volta ao mundo numa canoa de papel. Assine um jornal. Mastigue apenas com o lado esquerdo da boca. Case-se com uma perneta e se barbeie com uma navalha. E entalhe o seu nome no braço dela. Escove os dentes com gasolina. Durma o dia inteiro e suba em árvores à noite. Seja um monge e beba chumbo grosso e cerveja. Mantenha sua cabeça dentro d’agua e toque violino. Faça uma dança do ventre diante de velas cor-de-rosa. Mate seu cachorro. Concorra à prefeitura. Viva num barril. Rompa sua cabeça com uma machadinha. Plante tulipas sob a chuva. Mas não escreva poesia.”

Se alguém tivesse me dado esse conselho minha vida teria sido outra....agora é tarde! Agora fudeu de verde e amarelo!

E essa bichona que não me traz a bebida?...daqui a pouco vou começar a tremer....e quando isso acontece não respondo por mim. Sou bem capaz de virar as costas e simplesmente sumir nessa porra de cidade que sequer lembro o nome. Ai Meu Deus filho-da-puta lá se vão as 100 pilas do aluguel...

Não sei quanto às outra pessoas, mas quando me abaixo pra colocar os sapatos de manhã,penso,Deus filho-da-puta, o que mais agora ?”

Nomes? Nomes? O que são nomes senão uma imposição de alguém que pensa que entende o que ninguém entende e nunca vai entender!? Um sonho estético e patético de uma vida sob controle. Apropriação indébita. A vida inteira tentando fugir de imposições mas não consigo me livrar delas.(???) Virei um nome. Um totem. Um consolo gigante. Com o passar dos anos o pinto vai caindo, caindo, caindo e o nome vai subindo, subindo, subindo....como uma pipa. Sequer sou gente em carne e osso. Um Dostoievski, um Whitmam qualquer.... Um nome “para a posteridade”. “Chinaski O bêbado, louco e safado que escreve sobre a própria vida de merda”.

E como fico puto quando alguém me chama de “beatinique”. Beatinique o caralho bando de maricas pagando pau para um Buda mole filho-da-puta!!!!! “Preciso mais do que colares hippies, uma barba, um turbante indiano e maconha legalizada” Meu negócio é Mhaler...Brahms.... buceta! MUITA BUCETA!!!!

E por falar em buceta cadê o álcool Meu Deus? Você está sempre de brincadeira heim? Filho-da-puta!!!!! Sai daí...saí daí...vem....covarde....COVARDE. (levanta-se com gestual de luta olhando para o alto)

Cicerone entra e fala(ou voz em off) Ou o próprio Deus em off: -Chinaski entra....entra agora...a platéia está ávida pelos seus ensinamentos

Apaga a luz – o cenário muda agora é um banquinho e um microfone e uma mesa. Começa o

2º. ATO

Entra Chinaski ovacionado: ao terminar os aplausos, com cara de contrariado Chinaski fala desanimado

- Bom dia! (mais aplausos – pode ser uma gravação de aplausos)

(Chinaski então vomita homericamente ) deitando-se no chão e contorcendo-se (platéia Ohhh!!!!!!!)

Levanta-se todo sujo e acabado (silêncio) Olha por longo tempo para os olhos de todos(na platéia) de forma embasbacada e finalmente diz:

“-Cheguei numa fase da minha vida que vejo que a única coisa que fiz até agora foi fugir, fugir de mim mesmo, do meu nada, e agora não tenho mais para onde ir, nem sei o que vou fazer, fui péssimo em tudo” (silêncio).......

(A peça pode acabar aqui como uma incógnita ou continuar com o personagem vestindo novamente o personagem com o diálogo abaixo)

- e você aí na última fileira...tá olhando o quê babaca! Vai encarar? Aliás e aproveitando o ensejo porque Vossas Senhorias não vão tomar nos seus digníssimos cús, bando de filhos-da-puta!!!! Não têm nada melhor para fazer não?

(derruba o microfone e o banquinho a mesa, abaixa as calças mostra a bunda ONDE ESTÁ ESCRITO FUCK YOU , rebola, vira e saí de cena).

(APLAUSOS EFUSIVOS – FOGOS DE ARTIFÍCIO – HINO DOS ESTADOS UNIDOS)

FIM.

Luiz Tinoco Cabral 11/06/12

* os apartes em itálico, negrito entre aspas concomitantemente são frases de autoria de Charles Bukowski e extraídas de seus vários livros. (seria legal um efeito cênico para pautar a peça e ressaltar as citações do restante do texto)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

confabulando - a cobra e o velho


Tem uma estória que é mais ou menos assim:

A cobra e o velho

Lá vinha a cobra sincera, desprendida, inteligente e desapegada andando pela rua quando deparou-se com um velho safado, sujo, escorregadio, feio e venenoso pedindo esmolas.

- A senhora cobra não teria um “reá” aí pra eu tomar uma cachaça? Tô com uma sede infernal;

- Ora meu bom senhor, tome água. A cachaça além de fazer mal para o seu fígado não vai saciar a sua sede já que o álcool desidrata o organismo.

- Então me dá um “reá” aí pra eu comer pão. Tô com uma fome du caralho!

- Prezado Senhor, um pão não possui nutrientes suficientes para saciar a sua fome. O Sr. deveria sim tomar água e comer carne. Carne sim lhe faria bem nesse seu estado deplorável.

Então o velho, safado sujo, escorregadio, feio e venenoso sem qualquer consideração puxou uma pistola que estava no seu bolso traseiro deu um tiro e matou a cobra sincera, desprendida, inteligente e desapegada levando-a para sua morada embaixo de um viaduto, comendo-a posteriormente e deliciando-se com aquela carne tão tenra e nobre.

Moral da estória: em tempos de canibalismo quando o velho mendigo tem, sede, fome e uma pistola a cobra vira a própria esmola.

Tem outra estória que é mais ou menos assim:

O velho e a cobra:

Lá vinha o velho safado, sujo, escorregadio, feio e venenoso andando pela mata quando passou ao seu lado rastejando pela terra uma cobra sincera, desprendida, inteligente e desapegada. A cobra ao ver o velho falou:

- Por favor não me mate com o seu cajado, posso lhe guiar pela mata, lhe mostrar as belezas da região, locais com muita comida, água potável, flores em abundância, pássaros exóticos, plantações de canabbis a perder de vista e então lhe apresentar os Deuses da floresta e suas fadas e elfos iluminados que lhe trarão paz de espírito e prosperidade.

Então o velho safado sujo, escorregadio, feio e venenoso pegou seu cajado e com um só golpe certeiro esmagou a cabeça da cobra sincera, desprendida, inteligente e desapegada.

Moral da estória: A cobra se fudeu de novo!!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Na arte contemporânea vale tudo (ou quase?)


Cauê e Tinoco no IFF

Semana passada tivemos uma overdose de arte contemporânea no instrutivo e ilustrado curso ministrado pelo doutor, filósofo, professor e curador Cauê Alves no Instituto Figueiredo Ferraz de Ribeirão Preto. (vide foto acima)
Iniciamos pelo estudo de Greenberg intitulado “auto-consciência da arte” passando por todos os “ismos” e artistas relevantes até chegar ao fim da história da arte no estudo de Arthur C. Danto (pós-histórico).
No Brasil passamos pelo movimento Ruptura 1952 que visava claramente romper com os modernistas clássicos, com uma base do movimento concreto, neo-concreto, Tropicália, casa 7, Galerias etc. até chegar no pós-histórico “dantosco” brasileiro dos dias atuais e um olhar mais aprofundado sobre a novíssima geração que com certo alívio não necessita mais contrapor-se a ninguém.
E o que ficou pelo menos para mim sobre a arte contemporânea atual conceitualmente falando é que o romantismo “já era”. É o fim da utopia. A arte não é mais estilo é IDÉIA acima de tudo. Pode-se fazer tudo e qualquer coisa inclusive utilizar-se do passado que está aí disponível. Vale mais o não pensado que está no interior da obra de arte. A arte é heterogênea, plural e ocupa várias e inimagináveis dimensões. Não é necessário uma base sólida mas uma vaga idéia de liberdade. Vamos provocar o estranhamento, a interrogação, fugir do banal, “se perder” .... “Viver ultrapassa todo entendimento” já dizia Clarice Lispector.
E é com esse olhar que temos que fazer e enxergar a obra de arte, sem buscar somente e tão somente o entendimento. O olhar como exercício de liberdade e subjetivismo de nossa experiência, nossa vivência própria, exclusiva e única com a obra, com o mundo....
Resta saber se toda essa liberdade vai levar as artes para um novo patamar criativo ou ao contrário para um esgotamento angustiante. O pós-histórico vai dizer, ou quem sabe o pós-pós-histórico.
E digo que todos esses conceitos são auto-aplicáveis a literatura contemporânea que não está alheia a esta movimentação libertária sempre e incansavelmente em busca do novo. A comunicação entre os diversos segmentos artísticos é muito salutar e necessária. A ampla liberdade então nem se fala. Arte/poesia, inutilidade/necessidade essa eterna ambigüidade que nos faz calçar os sapatos pela manhã.
Particularmente e concluindo o momento histórico é bem interessante, basta conhecer e aproveitar.
E nessa de liberdade total só para ilustrar, descontrair ou avacalhar (como queira) termino este texto citando o narrador esportivo Milton Leite: “QUE BELEZA!”

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Por que os elefantes têm tromba?





Segundo a mitologia hindu, os primeiros elefantes do mundo possuíam asas e brincavam com as nuvens. Mas um dia, um grupo de elefantes pousou nos galhos de uma árvore debaixo da qual um santo asceta transava com uma linda prostituta indiana. Os galhos não suportaram o peso dos elefantes e com a inevitável queda o santo conseguiu salvar-se pulando para o lado mas os paquidermes mataram a linda prostituta indiana instantaneamente. O santo homem ficou tão puto que pediu aos deuses que tirassem as asas dos elefantes. Dito e feito. Os deuses tiraram as asas dos elefantes. Desde então eles que eram seres alegres, livres e brincalhões passaram a trabalhar pesado em circos, zoológicos e filmes de Bollywood. Com isso foram ficando carrancudos, macambúzios e zangados e  no lugar das asas criaram uma extensão nasal cilíndrica e comprida chamada “tromba” que serve para externar a insatisfação do maior dos animais terrestres contra os seres humanos e os deuses, bem como para cutucar os ânus de santos ascetas avaros que transam ao ar livre debaixo de árvores só pra não pagar motel!


terça-feira, 26 de junho de 2012

Contra a mesmice - Antônio Prata e Cláudio Assis


foto da Bela Dira Paes do filme "Baixio das Bestas" - Cláudio Assis


Quem é que disse que não tem mais sangue novo, transgressão e coerência  nas artes em geral?(...) Pois  deveria ler o ótimo artigo do Antônio Prata  “Autocontrole” onde ele escreve de forma clara e precisa: “que época bunda-mole a nossa! Elegemos como principal virtude justo a mais medíocre: o auto-controle.” Depois emenda que o Super-homem hoje não seria valorizado pelas marcas deixadas na história “mas pelo extrato da conta bancária e pela taxa de colesterol”(...) “o prazer e a poesia são drenados a cada dia pelos ralos da eficiência”. Triste realidade mas uma feliz constatação deste ótimo cronista.. Mas nem tudo é assim não caro “Pratinha”. Ainda existe vida inteligente na terra o que observo com a também precisa e necessária entrevista concedida por Cláudio “Baixio das Bestas” Assis onde este  com toda a sua concisão nos diz que: “O cinema brasileiro é careta e precisa de atitude. Eu não devo nada a ninguém. Nasci nu e estou vestido. A grande maioria do povo gostaria de fazer e não pode. Quem faz é um bando de filhos da puta”. E questionado sobre o interesse em “se dar bem” fala : “Não, eu quero defender o direito de errar. Arte não é certinha, feita no computador. Por que o filme não pode ser errado? Hoje é tudo enquadrado. Lula visita Maluf, o que é isso porra?”. Tais arroubos me levam a ter um alento, uma esperança nesta geração tão massacrada acreditando que o espírito anárquico e contestador do Glauber Rocha ainda está no ar e que tanto o cronista como o cineasta estão “antenados” contra a mesmice acomodada e reinante.  É verdade Antônio....é verdade Cláudio...hoje em dia  manter-se íntegro é uma guerra. Mas alguém tem que peitar não é? Parabéns e vida longa aos meninos.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Irvine Welsh - cultura por osmose

Leio na Ilustrada de 11 de junho uma entrevista com Irvine Welsh, autor do celebrado “Trainspotting” que está lançando agora o livro de contos “Requentando Repolhos”. O entrevistador Fábio Victor dá um tom de “déjà vu” na obra do cara, que diz que é isto mesmo, tem predileção pelos mesmos temas. Mas a frase melhor foi quando respondeu sobre o que gosta de ler ou ouvir: “Na era do iTunes e da Amazon, a idéia de gostar de algo é secundário. Não consumimos cultura porque gostamos, mas porque está lá”. Será possível? Ainda outro dia estávamos discutindo isso. Que o papel da arte se inverteu. O escritor e dramaturgo Roberto Alvim com o seu teatro do trans-humano quer que o espectador tenha uma experiência alheia ao gostar ou deixar de gostar da peça logo na saída do teatro. Prefere um lapso de memória no espectador logo após a encenação. Uma experiência ímpar momentânea e só, sem maiores conseqüências ou lembranças. O objetivo pelo visto é despertar algo no inconsciente...ou não, tanto faz. Mas será que a arte é só isso? Será que o nosso gostar ou não gostar é tão dispensável assim? Já Welsh propõe a cultura por osmose ou seja a tecnologia coloca a obra na sua mão e você consome como pipoca. Diante desse ponto de vista desnecessária a crítica literária ou musical. A porcaria está lá então vamos consumir. A pérola também está lá então vamos consumir. Gostar ou não gostar é dispensável. Pode mais quem pode mais. Partindo dessa premissa a liberdade é total, sendo uma verdadeira perda de tempo ficar aqui escolhendo palavras e tentando um diálogo com você. É.....você mesmo que está me lendo agora! Minto. Não acredito nessa baboseira toda. Irvin Welsh está rico, casou novamente, mudou para Miami, não tem mais saco para ficar dando entrevistas e apresentando de mão-beijada suas predileções. Roberto Alvin quer os holofotes, quer criar algo novo, quer aparecer pela transgressão, pela subversão, pela ruptura. Louvável como atitude, como aproximação do teatro às artes plásticas, ao abstracionismo, mas execrável para o saco do coitado do espectador, que numa obra de arte quer estética, mensagem e entretenimento, tudo ao mesmo tempo agora. O espectador quer pensar, entender a seu modo, apropriar-se conscientemente da obra, trazer para a sua vida e participar. De minha parte como leitor e espectador não vou resistir a um trocadilho: os malucos que me perdoem mas gostar é fundamental.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Descrição fálica de alguns objetos do meu escritório(um testículo)

estátua feita pela artista Vella Cristien em Luga/Malta

“Aos olhos do Criador, um excremento humano ou bovino pouco difere de um hambúrguer ou de uma pizza napolitana”. Carlos Heitor Cony.

 Este texto é uma homenagem a Manuel Maria Barbosa du Bocage(1765-1805)


 Na praia vejo vulvas suadas, alegres e livres andando pela areia. No escritório só vejo falos tristes.

A)Parece uma cobra naja africana com a cabeça em riste enraivecida, só que é uma cobra metálica, cinza e laranja com a base negra, negra como a asa da graúna. Lembrei-me daquele filme Transformers – o lado oculto da lua. Está todo sujo, mas ainda é viril, parece indestrutível; vários anos de uso para cumprir uma função das mais nobres e prazerosas. Abrir buracos, desvirginar superfícies frágeis sem qualquer pudor ou dó, guardando troféus para posteridade que com o passar dos anos são substituídos sem qualquer fidelidade. Um infiel por natureza. Um colecionador nato e lascivo guardando uma singela e vaga lembrança de todos os buracos que já entrou;

B) Esse já é todo negro mas poderia ser branco ou amarelo. Na verdade ele é Chinês. Rijo, com uma curvatura côncava muito interessante, não sei se para a direita ou para a esquerda.(??) depende da utilização que se pretende. É grande e forte sendo capaz de agir infindáveis e implacáveis vezes sem tirar. Não necessita de aditivos. Solta milhões de partículas acobreadas e reluzentes idênticas, agressivas, certeiras. Esse sabe a que veio. Também me acompanha a vários anos. Não seria nada sem ele. Minha vida seria um caos sem solução.... Páginas soltas ao vento;

C) O mais fálico de todos; um tubo arredondado e todo vermelho de exatos onze centímetros duro. Não...não é japonês. Por incrível que pareça ele é do México. Quando retiramos a chapeleta vermelha temos uma pasta gosmenta procurando a superfície certa para deleitar-se. Gosta de espalhar-se em várias direções;

D) Vários bambus envoltos em um laçarote colorido. Parece um palhaçinho com seu chapéu. Singelo “souvenir” made in Peru. Suas saliências, entrâncias e reentrâncias emitem sensações e arrebatamentos para o corpo e alma. Pequenas vibrações. Brinquedinho raramente encontrado em sex-shops e escritórios de advocacia. Mas pode acontecer....o que aliás está acontecendo exatamente agora.

Está lançado o enigma.Quem acertar as quatro ganha um presentinho especial oferecido pelo meu sócio Daniel Arthur Mead, mais conhecido como Long Dong Silver.  (atendendo a pedidos RESPOSTAS: A) furador de papel; B) Grampeador; C) Cola-bastão; D) Quena Peruana;

Para finalizar com anel de ouro um poema concreto que escrevi a muitos, muitos anos atrás – O PÊNIS.

O
PÊNIS
DURANTE
A EJACULAÇÃO
PULSA COMO UM CORAÇÃO
E MORRE DE INFARTO OLHANDO PARA O CHÃO

quinta-feira, 31 de maio de 2012

on the road, pé na estrada, Jack Kerouac

Essa é a história da América. Todo mundo faz o que pensa que deve fazer”Jack Kerouac on the Road – o manuscrito original - 1ª. Edição Editora L&PM página 194” 

 No meu caso tudo começou em 1994 quando comprei o livro “On the Road”, pé na estrada, Editora Brasiliense, 9ª. Edição com tradução de Eduardo Bueno e do ribeirão-pretano e conterrâneo Antonio Bivar – o beatnik brasiliero(escritor do fantástico “Verdes Vales do Fim do Mundo” que todo mundo deveria ler); os personagens principais são Sal Paradise(Jack Kerouac) e Dean Moriarty(Neal Cassady). O livro é pautado por capítulos e partes e o nome dos personagens secundários originais como Allen Ginsberg e Burroughs foram também ligeiramente trocados, talvez para garantir um pouco a privacidade aos seus pares numa época em que privacidade ainda valia alguma coisa. Hoje só a Carolina Dieckmann se preocupa com isso. Agora passados dezoito anos releio a tradução com base no manuscrito original “On the Road”, Editora L&PM, também com tradução de Eduardo Bueno porém com a saída do querido Bivar entrando Lucia Brito. A diferença é gritante. Aqui não temos capítulos e os nomes não foram trocados o que torna tudo muito mais autêntico e verdadeiro.(e mais difícil de ler). Acabamos por manter contato com episódios reais de outros grandes escritores beatniks. O legal é que muito embora o livro se divida em 4 partes(as quatro viagens cruzando os Estados Unidos até a chegada ao México e retorno a Nova Iorque ), temos um contato muito maior com a prosa espontânea de Jack Kerouac que escreve com um único fôlego, como se fosse um único parágrafo nos dando uma idéia melhor da estética pretendida; o hoje inimaginável teclar ininterrupto numa máquina mecânica, folha única em formato de rolo. Mais ou menos como começar a escrever um romance com caneta em um rolo de papel higiênico do início ao fim(???) Você então fica imaginando. Será possível? Mas é bacana porque essa espontaneidade tem toda uma relação com o imediatismo e o niilismo e a alta velocidade do viver beatnik, (por mais que critiquem este rótulo, não deixa de ser didático não é?). “Eles eram como o homem melancólico com a pedra da masmorra, erguendo-se dos subterrâneos, os sórdidos hipsters da América, uma inovadora geração beat à qual eu estava me ligando lentamente”(pág 178) Bom....acho que estou parecendo um chatinho querendo ensinar o padre-nosso ao vigário. Mudando de assunto voltemos ao livro ou melhor ao ditado existencialista que motivou toda esta louca viagem. “sair é viver, ficar é apodrecer”. É nessa base teórica que o livro se ergue. Pós-guerra, um vazio existencialista muito grande e uma vontade absurda da juventude recuperar o tempo perdido com guerras, com mortes, com destruição em massa. Chega de Hitler, Mussolini, Pearl Harbor, Bomba Atômica! Então surgem as auto-estradas infindáveis, a “Route 66” e o impulso desenvolvimentista e de integração de um país imenso, sem uma ideologia ainda definida(e que ficou caretíssima e sacal). A descoberta do jazz misturado com blues, uma mistura musical e comportamental muito rica e a eclosão de seus monstros sagrados, todas as drogas, bebidas e carros velozes fazendo a cabeça de todos. Para rechear um pezinho na estrada das religiões orientais em contrapartida à sisudez das religiões moralistas americanas. Está criado o totem de uma geração que por acidente acabou sendo muito bem representada exatamente aqui neste livro que tento esmiuçar agora. Ao reler o livro tive a mesma emoção da primeira vez. ) “podia sentir o impulso da minha própria vida me chamando de volta”(página 227) É um livro que você não sai ileso. Ele provoca. E provoca muito. Vivemos hoje com a cultura capitalista do enquadramento, buscamos a aceitação para um emprego, para um reconhecimento social, para o amor e o relacionamento estável. Aliás estabilidade infelizmente é tudo para muitos! Jack e Neal buscavam exatamente o contrário. A vagabundagem sadia. A Irresponsabilidade. “Mãe quero ser vagabundo um dia”.(fls. 150). Como um bunda-mole de um burocrata engravatado que mora num condomínio fechado pode sair salvo de uma ideologia panfletária escancarada como está? Isso aqui está inclusive no trailler do Waltinho Salles, verdadeiro crime de apropriação indébita: “porque as únicas pessoas que me interessam são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam ou falam chavões...mas queimam, queimam, queimam como fogos de artifício pela noite”(pág. 129). Uau! Bom e por aí vai....pegando carona, arrumando um trocado aqui, outro acolá, dormindo na casa de amigos, nas ruas, fazendo bicos, fazendo sexo desenfreado, bebendo e fumando maconha, benzedrina ... nossos anti-heróis vão cruzando o seu próprio país várias vezes e desvelando as peculiaridades de locais como Frisco, Denver, Chicago, Los Angeles, Nova Iorque, e por fim o México Monterrey... com uma promessa que não se cumpre de uma continuação até os confins da América do Sul. E vamos pinçando pérolas como está: “e dirigi muitas centenas de monótonos quilômetros entre moitas nevadas e colinas sisudas e escarpadas(pág 296) “estava condenado à estrada e à investigação capenga de meu país”(pág. 318) “a estrada é a vida”(página 351). Páginas que revelam o sentimento que motivou o título muito bem apropriado. Talvez seja o maior exemplo de roteiro de “road movie” da estória da literatura que infelizmente, pelo visto, Walter Salles não conseguiu capturar no seu tão esperado filme e que recebeu uma reação fria de público e crítica em Cannes; Que peninha! Isso é pior que vaia! Kerouac pelo visto merecia mais! Como disse acima é um livro que clama pelo imediatismo da vida aqui e agora em todas as suas nuances. Não podemos perder tempo. A felicidade está aqui agora e não no etéreo e nem nos casamentos de fachada, na acomodação. Vamos viver a vida real que nos apresenta, enquanto ela é possível. Esse trecho reflete muito bem o espírito do livro e “AQUILO” que ele combate e “AQUILO” que ele busca: “Agora saca só esse pessoal aí na frente...Estão preocupados, contando os quilômetros, pensando onde irão dormir está noite, no dinheiro pra gasolina, no tempo, como chegarão lá...e vão chegar lá de qualquer maneira percebe. Mas eles têm que se preocupar, suas almas realmente não terão paz a não ser que se agarrem a uma preocupação explícita e comprovada e tendo encontrado uma assumem expressões faciais adequadas e seguem em frente, e tudo isso não passa, você sabe, de infelicidade, uma expressão falsa realmente falsa de preocupação e mesmo de dignidade e o tempo todo tudo passa voando por eles e eles sabem e isso TAMBÉM os preocupa TOTALMENTE”(página 347). Aliás e aproveitando o ensejo necessário frisar que apesar da linguagem ser fácil, espontânea, simples o livro não é fácil. Requer trabalho de leitura, concentração, doação de tempo e se possível uma caneta na mão como se fosse a peneira de um garimpeiro. Temos que explorar o livro como Kerouac explorou seu país”, “todo o país era como uma ostra a ser aberta por nós; e lá estava a pérola, a pérola estava lá.”(pág. 273). Confesso que alguns trechos li bebericando uma cervejinha gelada. Existem trechos longuíssimos, trechos superficiais, trechos sinceramente dispensáveis, partes chatas e repetitivas, temas secundários enfadonhos, sem contar as infindáveis personagens que cruzam a estrada e logo somem na névoa sem deixar vestígios e sem dizer a que vieram. Se você quer moleza melhor sentar no colo de um impotente sem Viagra ou ler Paulo Coelho que dá na mesma.(risos). Bom...bem...voltando ao livro é fácil observar que essa moçada “beatinique” influenciou tudo que aconteceu depois de “subversivo” de “vanguarda”; dos Beatles aos Rolling Stones, do movimento hippie aos movimentos pela paz, da Tropicália aos Mutantes até chegar no Bob Dylan e viva o Arrigo Barnabé. Utopia? Hoje depois de Chapman, Altamon, Reagan, Bush, Margareth Tatcher, Guerra do Iraque, queda das torres gêmeas, terrorismo, yuppies e o Robertinho do Recife poderíamos dizer que o livro já era. "- JÁ ERA!” Aliás o próprio Kerouac no fim da vida, desiludido com sua carreira e na merda de certa forma renegou o livro que escreveu como se “pé na estrada” fosse um “pé no saco”(vide peça do Mário Bortolloto sobre o tema); como se tudo tivesse sido uma grande loucura inconseqüente. Um despropósito, um despautério!(diria o Reinaldo Moraes) Só faltou falar como o FHC “-esqueçam tudo que escrevi”. Outro dia conversando com o escritor Marcelo Mirisola que recentemente mostrou-se(por motivos diversos) bem satisfeito com o insucesso da investida “beatinique” de boutique do Walter Salles , fez uma leitura bem “sui generis” e bem humorada de “On the Road”. Confesso que dei muita risada. Disse o “homem da quitinete de marfim” que talvez “On the Road” seja o maior romance gay da literatura mundial! Um escritor(Jack Kerouac) cruzando um País inteiro motivado por uma idolatria e um amor visceral ao amigo caubói, metido a playboy e pretenso escritor chamado Neal Cassady. Ah Ah Ah! Só o Mirisola mesmo não? Mas não tiro sua razão não... muito pelo contrário, sendo inclusive evidente o lado também homossexual do escritor que inclusive é confesso e inerente a muitos de seus amigos de estrada e de farras diversas onde rolava de tudo e mais um pouco. Porém não é isso que é importante no livro que aliás, no tocante, é muito velado. Para dar uma guinada de 180 graus e mais uma vez pinçando o próprio texto “é difícil resolver as coisas quando você vive dia a dia nesse mundo febril e tolo”(página 355). Vivemos “como se a taça da vida tivesse sido entornada e tudo houvesse enlouquecido”(pág 376). Desta feita, falando por mim e mais ninguém prefiro acreditar na mensagem do livro ainda hoje. Sou um otimista ingênuo é verdade... Acreditar na estrada, na magia e nas visões sobrenaturais e loucas que a cercam. No inóspito, no desconhecido, na aventura de viver.“agora vamos sair e curtir o rio e as pessoas e cheirar o mundo” (página 276). Isso é muito pessoal ok? Sempre adorei uma estrada! É só sair viajando que me transformo em outra pessoa, mais segura, mais satisfeita, mais feliz. Afinal e para ilustrar mais uma vez tem uma passagem do livro que também é ótima e que questiona várias coisas importantes. Daí talvez o sucesso e a importância que mantém o livro vivo até os dias de hoje inclusive sendo eleito um dos 100 livros mais importantes de todos os tempos, salvo engano pela revista New Yorker. Uma obra-prima sem dúvida. Com altos e baixos como já frisado acima mas uma obra-prima. Aí vão os questionamentos que me vem agora: O que é melhor a ordem ou o caos? O que é vida real o que é maquiagem e enganação? O que fazemos das nossas vidas? É legal? Trabalho? Grana? Status? Casamento? Qual o valor disso tudo? Vale a pena? Será que não é melhor simplesmente deixar rolar? Cair de boca na estrada ouvindo jazz? Aí vai a passagem, meio extensa eu sei... (haja saco!) mas como é para uma palestra sobre o livro lá no espaço “A Coisa” na Rua Amador Bueno 1300, tá valendo: “Tá sabendo que Louanne casou com um marinheiro em Frisco e vai ter um bebê?” “Sim. Estamos todos entrando nessa agora”. Ele me mostrou uma foto de Carolyn em Frisco com a nova menininha. A sombra de um homem obscurecia a menina na calçada ensolarada, duas enormes pernas de calças tristes. “Quem é esse?” “É apenas o Al Hinkle. Ele voltou para Helen, estão em Denver agora. Passaram o dia tirando fotos.” Ele me mostrou outras fotos. Percebi que eram essas as fotografias que nossos filhos olhariam algum dia com espanto, pensando que seus pais tinham vivido vidas ordeiras e tranqüilas e acordavam de manhã para percorrer orgulhosamente as calçadas da vida, sem jamais sonhar com a loucura esfarrapada e a balbúrdia, de nossas vidas reais, de nossa noite real, o inferno disso, a estrada do pesadelo sem sentido. Escândalos denunciam o mundo, os filhos jamais sabem.”(página 401) Então é mais ou menos por aí. A pergunta que não quer calar é: - Que fotos(exemplos/sonhos) você vai querer deixar para seus filhos(amigos/eternidade)? Só para terminar necessário desfazer uma confusão comum: uma coisa é Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Lawrence Ferlinguetti, Bill Burroghs, Neal Cassady, Phillip Whalen, Gregory Corso, Charles Olson, Robert Creeley, dentre outros que são os Beats autênticos ligados por um laço estético, comportamental e expoentes de uma geração um tanto quanto coesa. Outra coisa totalmente dispare é Charles Bukowski e Henry Miller que sempre andaram à margem de qualquer movimento e com uma literatura única e isolada. Aliás o isolamento e o estranhamento é a marca desses ótimos escritores não afeitos a coesões. O que existe é uma influência direta ou indireta desses dois gênios em toda a turminha beat ali em cima, quer eles confessem ou não. Mas aí é outra estória. E tenho dito. “O amor é tudo” (página 282)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Raul Seixas - o filme "O início, o fim e o meio"

Está tudo lá, as diversas mulheres, amantes, as músicas fantásticas, os amigos, os “supostos amigos”, a bebida, drogas, roquenrou misturado com baião, as experiências místicas, as loucuras, os fartos cabelos e barba por fazer, as viagens, imagens antológicas,escatológicas, os fanáticos fãs, as controvérsias....Walter Carvalho tenta fazer em curto espaço de tempo(tarefa inglória) uma síntese dos 44 anos do músico e 17 de carreira deixando o documentário redondinho, redondinho....porém sinto que faltou alguma coisa. Acho que faltou trilha sonora, emoção, faltou cinema. Afinal eu estava no cinema e não assistindo o jornal das oito. Poderia ter misturado ficção com documentário deixado as músicas falarem por si e pelo riquíssimo personagem. Enfim, ficou tudo muito redondo e caretinha. Raul com certeza não aprovaria. Se é para falar do “início, o fim e o meio” por que não subverter a ordem cronológica dos acontecimentos? E por mais que o filme tenha um flerte com o distanciamento os julgamentos ficam no ar... Explico. O filme tenta mostrar um Paulo Coelho bonzinho e um Marcelo Nova vilão. Pois não é que tive exatamente a impressão contrária? Paulo Coelho mostrou-se extremamente formalista e frio numa visita ao camarim do Raul para simplesmente cumprir tabela e mostrar solidariedade ao “bêbado decrépito”. E questionado sobre o arrependimento em ter apresentado drogas a Raul se defendeu dizendo que o cantor era maior, casado com filho e vacinado. Demonstrou ainda uma pontinha de inveja e rancor travestido de competição “saudável” entre amigos pelas músicas que nunca escreveu . Triste...triste Paulo Coelho. Já quanto a questão “Marcelo Nova” fico com a visão de Caetano Veloso. Por mais que tenha se beneficiado indiretamente da situação o intuito do Marcelo Nova era nobre. Trazer à tona e para o seu verdadeiro lugar(o palco) um autêntico artista, um ídolo capaz de mostrar caminhos diante de toda essa mesmice. Afinal é melhor encerrar os dias no palco cantando e trocando idéias com o público ou no jardim zoológico dando pipoca aos macacos? Quem é o maluco e quem é o “normal” nessa estória toda? Meus caros amigos e inúmeros leitores; o que mata não é a droga e a bebida, o que mata é o comodismo e a indiferença. Aliás tem neguinho por aí que anda para lá e para cá com toda empáfia e não sabe que já morreu. Zumbis, mortos-vivos e sanguessugas em demasia com suas gravatas de bolinha e matronas com seus tailleurs estilo Chanel. E para finalizar ai vai o ponto forte do filme: O resgate,os depoimentos e as imagens do incrível parceiro Cláudio Roberto; ponto fraco: Pedro Bial urgh! Melhor nem comentar. E porque estou aqui neste espaço de literatura falando de um músico? Ora Raul era um grande escritor. Letra de música não é literatura? Bom...o papo está muito bom a cerveja gelada , a música está boa mas...será que não dava para tocar Raul? TOCA RAUUULLLL!!!!!!!!!!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Uivo Kaddish e outros poemas Allen Ginsberg

Um clássico da literatura beat. Poemas esparsos onde a vida do autor mostra-se e confunde-se com seus pensamentos sobre as coisas e pessoas que o cercam. Mensagens de liberdade poética total. Versos não afeitos à rimas, métrica e formas; um misto caótico de prosa, poesia, cotidiano, drogas e divagações. A tradução de Cláudio Willer(Editora L&PM) que inclusive conviveu com o escritor até a sua morte em 1997 tenta em vão explicar o inexplicável. Mais fácil perder-se na sonoridade do que ficar lendo as inúmeras notas de rodapé. Pelo menos para quem quer distância do academicismo como eu. Na literatura o melhor é a curtição, o barato que ela dá sem ter que obrigatoriamente ler a bula. Saliente-se que inevitavelmente a sonoridade perde-se na tradução. Mas melhor ler do que não ler para poder entender um pouco mais sobre um dos inúmeros protagonistas e expoentes de uma geração de loucos que mudaram o mundo com um misto de estrada, misticismo oriental, drogas, sexo, experimentações e um anseio anárquico vital. Como diz William Carlos Willians no prefácio “senhoras levantem as barras das suas saias, vamos atravessar o inferno”. E tudo começa no melhor estilo autobiográfico “on the road”. “Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus”(...). E por aí vai como um grito...como um uivo inspirador que infelizmente foi perdendo-se com o passar dos anos...com Charles Manson, Altamon, Chapman....Será que “o sonho acabou” meu amigo??? Espero que não! Aliás creio que não!

domingo, 13 de maio de 2012

dois palhaços no sinal


"irrita-me a felicidade de todos estes homens que não sabem que são infelizes" (Fernando Pessoa Versículo 313, Livro do Desassossego)

- Quem foi que inventou essa droga de depressão? Essa dor que começa do nada...e ao nada nos remete abrindo uma fenda exposta e rubra que vai do pescoço até o pênis expondo o ridículo de nossas vísceras até então invisíveis. E eu aqui amargando nesse trânsito horrível, nesse sinal de três tempos, vendo o tempo da minha vida amarelar entre um vermelho e um verde, massageando a barba por fazer, coçando nervosamente o nariz a procura de um sentido para esse ato mecânico e reiterado, olhando insistentemente o relógio do painel e logo a sua frente o vidro imundo do para-brisas e na faixa de pedestres lá está ele; aquele homem adulto com um chapéu rosa, um olho laranja, outro azul, bola vermelha no nariz arremessando para cima três pedaços de pau velho tamanho médio e sorrindo....sorrindo....Meu Deus! Com uma boca toda colorida de batom e me encarando porra!!!!Me encarando como se eu fosse um ser de outro mundo recheado de altruísmo. Quem esse infeliz pensa que é? Só rezando mesmo! AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA ABRA ESSE SINAL ANTES QUE EU COMETA UMA DESGRAÇA.

(CRASH – BARULHO DE BATIDA DE AUTOMÓVEL – APAGA A LUZ)

Aparece em cena o motorista com roupa de presidiário, já velho.

- Agora estou aqui, velho, rancoroso, nesse pátio de penitenciária imundo, esse sol estúpido, negociando o meu cú quase-de-ferro pela terceira vez com o “Ticão da Paraíba”. A última coisa que me resta nessa vida. A porra da minha DIGNIDADE. O tempo é curto...Tá certo eu matei o palhaço...é verdade...não me arrependo, não, não... nunca me arrependi de nada. Mas caralho, quem é normal e quem é palhaço nesse mundo? Nunca conseguiram me dar uma resposta para essa merda! E logo eu, aqui...agora, dependendo urgentemente da “solidariedade humana”. Será que não tenho um primo distante, que seja uma tia velha e carente capaz de lembrar que eu existo? Que estou aqui nesse buraco necessitando de míseros TRÊS maços de cigarro? E eu que na outrora da outrora acreditei em ONGs, Óvnis, Igrejas, Maçonaria, Rotary Club, Lions....Longa trajetória para descobrir no fim da picada que a felicidade está nas coisas simples da vida. TRÊS maços de cigarro. Será que é pedir muito?

(TICÃO DA PARAÍBA ENTRA EM CENA)

terça-feira, 24 de abril de 2012

uísque para Jim Morrison



Definitivamente na nossa breve passagem por aqui fazemos coisas totalmente loucas e sem sentido. Pois sabendo que tia Maria Augusta estava indo morar um ano em Paris, de súbito tive uma idéia: escrevi o bilhetinho abaixo em inglês com nome e endereço do remetente(como se fosse possível o cara ler e responder), juntei uma foto minha com uma guitarra bem como uma garrafinha de uísque daquelas de hotel(como se ele pudesse beber), tudo corretamente embalado e colocado numa caixinha preta personalizada para a longa viagem...
Titia falou que vai cumprir a “missão” com muito gosto!(risos). Essas tias maravilhosas....
Agora resta esperar o seu retorno para ver o desfecho desta crônica gonzo a la Hunter Thompson.

"To Jim:
This is not the end my lonely friend
Hugs to eternity"


Prezada Tia Maria Augusta,
Desculpe incomodá-la, mas gostaria de lhe pedir esse favor: Desde a minha adolescência sou fã confesso do Jim Morrison do “The Doors”; o cara me influenciou muito em todos os sentidos... Todo roqueiro atuante deixa uma “lembrançinha” no túmulo do Jim Morrison que está no Cemitério “Père-Lachaise” em Paris.(é como ir a Meca para um Muçulmano) Vai ser fácil achar – é o túmulo mais visitado. Balzac fica até enciumado. Se não for pedir muito seria legal uma foto do local no momento da entrega e também um breve oração para sua alma atormentada. Sei que a Sra. deve estar achando tudo isso no mínimo estranho, mas garanto que ele merece toda essa póstuma consideração. Abraços Au Revoir

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Acidente



O exercício foi proposto no curso de dramaturgia do dramaturgo e escritor Lucas Arantes no espaço "A coisa" que começou esta semana - Escrever um diálogo sobre acidente sem as palavras acima - vejam no que deu:

Enquanto isso na mesa de um bar decadente depois da oitava cerveja barata:
- Ô mermão. Conta uma estória de desastre qualquer aí. Dessas de esquina, de sinal....
- Pois é, agora já era! Foi numa noite de domingo que o desastre aconteceu. Tinha 14 anos. O livro estava lá na estante a esmo me chamando pelo título improvável. “Sexus”. E eu com os hormônios saltitando vendo aquelas letrinhas amarelas e vibrantes “Sexus”.
- É mesmo....não vejo desastre nenhum nessa porra de estória?
- Pois então rapaz, calma... Para alcançar a prateleira superior subi numa banquetinha velha e capenga e quando já estava pegando o maldito livro escorreguei e me espatifei de costas no chão com o livro do Henry Miller que mais parece um tijolo caindo na minha cara; tudo ao mesmo tempo...como....como...como um sinal.
- Sinal? Explique melhor por favor?
- Vejamos...algo assim como um desastre prenunciando um outro desastre a caminho, o que só pude entender logo depois quando li o primeiro capítulo daquela “porra de estória” que transformou toda a minha existência.
- Caralho! Então foi algo bom não? Um grande revés para o bem?
- Acho que não vejo bem assim. Apenas um desastre com certeza. Depois com a idade veio Nietzsche, Schopenhauer, Primo Levy....e então o tombo foi bem maior. Mas aí é outra estória...
(silêncio...)

- Seu Toninho – manda mais uma loira gelada aí!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Após o anoitecer....Haruki Murakami


Sempre me dei bem com pessoas de origem japonesa. Admiro o povo Japonês, sua disciplina, sua obstinação, seu poder de observação, seus silêncios que dizem tudo bem como a acurada visão simples da morte, da vida...Haruki Murakami talvez seja o maior escritor de “best-sellers” japonês porque além de escrever muito bem, tem uma pegada pop sempre temperada com muitas citações de fenômenos culturais recentes. Também é desprovido de afetação intelectual ou metafísica o que é um alento nesse mundo moralista e doutrinador. Esse livro “Após o amanhecer” é uma visão melancólica da madrugada e seus tipos solitários, nesse mundo multifacetado onde as pessoas não param para ver o outro, o outro lado dos estranhamentos. Os diálogos entre dois jovens que se encontram por acaso em um bar em Tókio servem para demonstrar que nem tudo está perdido...que a ternura de uma amizade sincera pode ser encontrada nos lugares mais improváveis: em um bar, numa praça cheia de gatos(Haruki adora gatos) ou mesmo em uma ante-sala de um motel barato. É a troca...é o outro....aquilo que brota da diferença. A experiência que transforma. Escritor de muita sensibilidade e habilidade na criação de personagens que não são utilizados para lições, ensinamentos ou segundas intenções disfarçadas. Apenas vivem....e são mostrados por cima, por baixo, por todos os lados onde o escritor coloca a sua câmera.. Seus livros parecem roteiros de cinema, onde vamos imaginando as cenas em suas diferentes tomadas com muitos detalhes do ambiente. A irmã linda que não quer acordar. A prostituta chinesa sendo espancada. O trabalhador solitário em seus momentos de introspecção obsessiva. Um traficante em sua moto. A proprietária de um estabelecimento comercial. Um trombonista... Vidas tão díspares que entrelaçam-se como no filme “Short Cuts” de Robert Altman. O que nos leva a crer que tanto faz estar em Los Angeles, Tókio ou São Paulo. Os problemas, os desafios e a solidão humana são semelhantes em qualquer parte do mundo "globalizado" e é preciso quebrar esse gelo. Não que a solidão seja ruim ela é importante, é o mote a inspiração do artista.(aqui recomendo o livro “Solidão. A conexão com o Eu” de Anthony Storr) Mas o livro questiona a solidão perniciosa, aquela que nos diz Francis Bacon: “A pior solidão é nos vermos privados da amizade sincera”. Dá-lhe Sandra de Sá!!!

segunda-feira, 5 de março de 2012

in-vagin-ação



cartaz do filme "A flor do Desejo" de Guilherme de Almeida Prado

“aquilo que não dizemos, nem reconhecemos torna-se segredo e este cria vergonhas, mitos e medos” Eve Ensler em “ Monólogos da Vagina”





Depois daquela milésima noite de sexo enfadonho e triste, com minha esposa nua já dormindo, que ela com seus cabelos negros sua pele rosada resolveu abrir seus grandes lábios carnudos e falar com toda a sua profundidade e sabedoria.
Tinha uma voz escura e triste mas com muita personalidade e como um eco distante foi logo reclamando:
- Você acha que isso que você está fazendo é certo não é?
- Uhunn não sei??? Faço o que posso!
- Pois saiba que tenho que ser bem tratada, ritmada, manuseada como uma música clássica, com estudo, com inteligência;
- É?
- Violência gratuita e nervosismo não estão com nada! Pressa então? Parece que você pegou um trem desgovernado a noite no escuro? Tem algum compromisso hoje a noite? Vai sair com aquela vadia de cheiro forte? Pois saiba que estou pouco ligando para suas vadias! Inclusive você poderia se inspirar mais nelas e fazer bem feito o serviço de casa não é? Não estou aqui para brincadeira...ou melhor estou aqui para brincadeiras sim! Para a arte para a poesia do amor e não para seus gestos mecânicos e repetitivos, sua introdução rápida e precipitada.
-Como??
- Não seja desentendido. Não é o seu gênero. Você sabe muito bem o que quer não é? Aqui estou eu toda cheirosa , aparada e bem tratada cheia de vontades e ambigüidades escondidas para seu deleite e sua cegueira não permite o vislumbre.
- Seja mais clara?
- Então vamos lá bobinho: Primeiro seria bom que você lavasse melhor suas partes íntimas. Afinal sinceramente eu não mereço misturar o meu perfume com o perfume dessas vagabundas que você pega por aí. Sem contar as doenças...faça o favor! Num segundo momento comece beijando com fervor, umidade e carinho, beijo de língua. Nós adoramos isso! Depois introduza bem devagar. Lembre-se daquela música do Martinho da Vila...”devagar....devagarinho”....e com o passar de alguns minutos, e não segundos, comece a aumentar o ritmo como um bolero, o bolero de Ravel. No auge da sinfonia ligue as guitarras e...aí sim....toque suas distorções pesadas de uma pedaleira Marshall, como um Kurt Cobain suicída, um Tom Waits desesperado. Deixe toda a sua loucura transparecer, sua verve criativa e criadora. O nosso êxtase. Finalmente não saia apressado. Permaneça em mim sem fingimentos. E é só isso.
- Só isso é?
- Sim! Fácil não? Da ternura à loucura à ternura novamente. E depois de algum tempo comece tudo de novo....no mesmo ritmo, com a mesma alegria....ahhh! como o Marcos na noite passada...
- Marcos? Caralho! Quem é Marcos???...
- Porra!. Eu e minha boca grande! Acho que falei demais.

(...)

E foi assim num diálogo bem aberto que descobri toda a verdade e que elas não conseguem guardar segredos. Desde então e graças ao Marcos me tornei um marido melhor. Corno é fato!...mas melhor.



Luiz Tinoco Cabral

sexta-feira, 2 de março de 2012

O HOMEM SEM SORRISO






“Vejam bem. O panaca leva um cascudinho e logo vai denunciar o colega para a diretora da escola ou para a Ong mais perto de sua casinha de bonecas. Se dependesse dos educadores de hoje, Flaubert jamais cogitaria em “Madame Bovary”... Henry Miller e Conrad não existiriam, e Kafka resolveria todos os seus problemas simplesmente soltando a franga. Tudo muito simples e colorido” (Marcelo Mirisola no conto “quatro alfinetes negros” do livro “Proibidão”)





Depois da interminável noite em mais uma festa literária de sorrisos falsos e letras apagadas, sem contar duas putinhas e o “ménage à trois” naquele hotel barato e sem estrelas...acordei com uma ressaca maior do que a Ilíada e a Odisséia juntas. Com a cabeça martelando repisadamente como uma música de Erik Satie fui tomar umas brejas na mercearia da esquina.

Lá encontrei os bêbados escrevinhadores de sempre em acalorada discussão sobre os poemas de Dylan Thomas. Tudo ia bem na minha mesmice confortável até aquele momento em que após uma piada maledicente sobre um conhecido escritor em que todos os presentes esboçaram uma gargalhada geral, unânime e burra o meu sorriso não veio.(???).No centro do Coliseu todos me olharam como se Nietszche em carne e osso aparecesse entre as prateleiras da mercearia travestido de apóstolo ensandecido proclamando o retorno do Messias.

Preocupado com a situação assaz constrangedora terminei meu estranho “mise-em-escène” e saí à francesa em direção ao banheiro.

Após uma bela “castigada na porcelana” que deixaria Marcel Duchamp orgulhoso, ao lavar as mãos, olhei fixamente no espelho quebrado e tentei em vão exercitar o sorriso.

Tentei lembrar piadas antigas, fiz cócegas no próprio corpo, gargarejos homéricos.....e nada! Tentei então levantar os cantos dos lábios com as mãos e em pânico “munchiniano” percebi que minha boca estava petrificada como um David de Michelangelo, e o que é pior, na horizontal, como um horizonte púrpura, triste e distante... Depois de duas horas de tentativas frustradas e sob os protestos veementes dos demais bêbados escrivinhadores que em fila aguardavam ansiosamente a vez de entrar no “WC”, tive um “insight” ou um “satori” que seja. Olhando no “fundo do âmago do meu ser” e dos olhos cansados percebi e disse a mim mesmo. “-Meu Deus! Sou um escritor velho e rancoroso em um mundo hipócrita e agora sem a capacidade de sorrir!!!!!! O que fazer?

No dia seguinte acordei da mesma maneira. Horizonte estático. Esperei até às dez horas fui na locadora de vídeos e aluguei todos os filmes do Monty Python. Passei a tarde inteira assistindo, inclusive aquela que é considerada a piada mais engraçada do mundo...e nada novamente! Tentei então Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo. Não resolveu!

Foi então que eu percebi que a situação era mais grave do que pensava....

Depois de dias e dias sem rir de nada e ninguém....sem inclusive conseguir rir dessa situação risível resolvi apelar. Veio-me a mente uma frase de um escritor que sempre abominei, mas que naquele momento tinha um apelo salvador...mágico....transcendental... “O medo de sofrer é pior que o próprio sofrimento”. Paulo Coelho. Resolvi então consultar um médico psicanalista.

Dr. Hermanoteu Kurrr Zimmerrr era adepto da terapia da regressão por hipnose. Ao entrar no seu consultório tudo o que eu esperava era que ele não fosse barbudo, grisalho usando óculos e com sotaque alemão. Dito e feito! Ele era barbudo, grisalho usando óculos e com sotaque alemão. Nem bem entrei já foi logo soltando esta pérola para “descontrair” o ambiente:

“-O psiquiatrrra vira para o paciente e diz: - Meu amigo, eu tenho uma boa e uma má notícia parrra você. A má é que você tem forrrtes tendências homossexuais. – Meu Deus Doutorrr! e qual é a boa notícia? – A boa notícia é que eu acho você um gato.”

Não fiquei em dúvida se ria ou chorava porque por óbvio eu não ria. Horizonte estático. Verdade momentânea estabelecida. Mas que pensei seriamente em virar as costas e ir embora pensei...pensei...e... muito contrariado e tendo em vista o meu desespero absoluto insisti já que o Dr. Kurrr foi muito bem recomendado por uma amiga da amiga da minha mãe lá de Taubaté.

-Pois então... Dr. Kurrr, desculpe-me pelo meu semblante é que o estou procurando exatamente porque não consigo sorrir mais.

- Ahhhhhrrr! Interrresante!(...)

- Vamos fazerrr uma sessão de hipnose parrra buscarrr os fatos marrrcantes e trrraumáticos do passado que deram orrrigem a essa aberrrrração emocional em seu rrrosto! E continuou:

- Ao vivenciarrr novamente e removerrr esse trrrauma, você vai adquirrrirrr um novo ponto de equilíbrrrio interiorrr que permitirrrá a sensação física de sorrrrrirrrrr novamente!!! Rrrá Rrrá Rrrá!

Ato contínuo apagou parcialmente a luz colocou uma música do Kitaro em parceria com a Ênia, acendeu um insenso de alecrim, erva cidreira e abacaxi e começou a falar baixinho...baixinho....como uma bossa nova...um banquinho e um violão:

- Relaxe...Relaxe. Deixe sua mente relaxarrr....

Eu - escritor por ofício - e por natureza com criatividade, imaginação fértil e adubada, ou seja, altamente susceptível, logo fiquei em posição fetal e entrei em transe profundo.

- Tente lembrrrar os fatos recentes até os mais longínquos....

A príncipio lembrei aquelas duas putinhas de noites passadas. Como eram vulgares....e uma delas insistia que eu fizesse cunillingus na sua amiga e eu dizia que não...que achava nojento e que ao chegar perto daquela fenda escura e fedida eu começava a imaginar os inúmeros paus entrando e saindo, entrando e saindo....E ela falou que eu era um babaca, “-um babaca da porra!” O que só piorou a situação e depois desse belo diálogo eu até broxei...broxei com as duas como nunca tinha broxado antes....E ao chegar em casa lembrei de Marlon Brando e Romy Schneider e do tempo em que os filmes eram proibidos... e toquei uma bela punheta com o pinto jorrando como uma garrafa de champanhe francesa e os espermatozóides chegando até o teto como se fosse uma oferenda aos céus!

Voltando um pouco mais no tempo, em um rápido vislumbre lá estava eu na festa literária de sorrisos falsos e letras apagadas no momento exato da entrega do prêmio tatu-bolinha. Estava esperançoso. Era a primeira vez que era indicado....isso depois de nove livros publicados em editoras marginais. O meu novo livro “Copofragia da Alma” tinha um apelo estético diferenciado; tinha até um lado metafísico que eu nunca tinha demonstrado antes. Já estava até me vendo tirando o pé da lama(no meu caso da merda mesmo!), pagando os aluguéis atrasados, a prestação do financiamento do corcel II....Mas tudo em vão. Aquela loira aguada, misto de apresentadora de televisão com lésbica virgem pedófila anunciou: “-E o vencedor do prêmio tatu-bolinha do ano é............ “O Mago Vampiro no Jardim Eterno” de Paulo Fonseca Testa”. Muitos aplausos; E ainda tive tempo no meu rápido vislumbre de ver o sorrisinho sarcástico do Paulo em minha direção. (Puta que pariu! Que transe do caralho!).

E depois dessas e outras no meu transe “dos diabos” continuei regredindo....regredindo até aquelas infindáveis recusas das grandes editoras e revistas de circulação nacional; vi aquelas cartas muito educadas, polidas e padronizadas que sempre diziam mais ou menos assim: “Prezado Sr. Agradecemos o seu interesse, bem como o envio de seu texto, porém por motivos de inadequação ao estilo, grande número de escritores e grade reduzida não poderemos aproveitá-lo nesta oportunidade. Atenciosamente(,,,)”. Essa é a maneira que os sacripantas arrumaram para dizer que os meus textos não serviam sequer para limpar suas bundas gordas.

Um pouco mais atrás no tempo e espaço(diria bem mais atrás!) me vi no lançamento do meu primeiro livro. “Expulso da Zona sentei no meio-fio e chorei”. Lá estava eu com meus fartos cabelos compridos(que hoje não existem), minha boina francesa e minha camiseta do Che naquele bar suspeito, com mais um amigo hippie, um amigo punk, minha mãe e....minha namorada no palco imitando a Betânia e tocando músicas do Vandré e do Mautner. Foi um sucesso estrondoso!!! E lotamos o bar naquela noite...nove pessoas.(Contando o Che, Betânia, Vandré e Mautner). Ahhh!!!! minha miséria dourada...eu ainda sonhava com a revolução...em coisas singelas como: “quem sabe faz a hora não espera acontecer”.

Mas toda a sessão de regressão caminhava de modo previsível e monótono até o momento fatídico daquela estranha visão do passado. Aquele que poderia em tese ser o trauma capaz de gerar toda a minha infelicidade que culminou na petrificação e materialização do sorriso travado. Meu Deus!!Lá estava ela com seus cabelos presos e negros, seus olhos escuros, raivosos e petulantes. Uma mistura de Virgínia Wolf com Simone de Beauvoir. Senti até calafrios....que medo!

Era ela! DONA DINORAH minha professora de português na sétima série do Colégio de Freiras em que estudava.

A escola lançou um projeto para a edição de um livro com textos dos alunos de todas as séries. Os melhores seriam publicados numa edição comemorativa dos 498 anos da congregação das freiras e distribuídos pela coletividade e quem selecionava os textos era...??? Resposta: DONA DINORAH!

Como até então e sempre eu era um nada no universo, uma insignificante partícula...um nêutron, ou pior, um projeto mal acabado de escritor, virgem e procurando seu lugar no mundo me empenhei de corpo, alma e mente e escrevi textos de extrema qualidade, muito ricos de humor e sagacidade. Eram textos geniais; algo novo que mesclava fluxo de consciência com fluxo de inconsciência, dadaísmo, anarquismo...com muitas menções e citações. Vanguarda pura! E eu só tinha 13 anos. Um Rimbaud dos trópicos!

Porém DONA DINORAH assim não entendeu. Não só não selecionou nenhum dos meus textos como me chamou na sala dos professores, esfregou-os literalmente na minha cara na frente de todos e disse que “aquilo” que eu escrevia era pornografia pura. “-Um desrespeito; Um despautério!!” Que só não me expulsava da escola em consideração ao meu saudoso pai. Ato contínuo pegou uma régua T daquelas de engenheiro e quebrou na minha cabeça. E ainda pude ver o sorrisinho sarcástico de um coleguinha, Emílio Zureta que não sei por que motivo estava na sala dos professores; escreveu o texto “Minhas férias na praia” e foi selecionado com menção honrosa. (Puta que pariu! Transe do inferno!).

(...)

- Mas....espera aí? O que é isso que nunca tinha reparado no rosto da DONA DINORAH ? Ah ah ah! Ela tem um buço português! Um bigodão parecido com o da Frida Khalo! Ah ah ah! E tem pelos saindo pela orelha também! É a cara do Chewbacca do filme “Guerra nas Estrelas” Ah ah ah!

-Meu Deus...quanto sorrisos amarelos....quantos livros “sérios” escritos....quanto tempo perdido.... –Socorro Marcel Proust!

Nesse instante final de estágio intermediário de consciência tive uma iluminação e uma ereção. Saí do transe e da posição fetal sem qualquer ordem médica nesse sentido para o espanto do Dr. Kurrr que nunca tinha visto nada parecido nos seus trinta anos de profissão. (em parte foi culpa do Kitaro!)

Virei para o coitado e falei: “-Vai tomar no currr Dr. Kurr! Enfia o meu salsichão no seu chucrute! Foda-se o tatu-bolinha!”; E com um sorriso no rosto que a muito tempo ausente sai pelas ruas desafiando a todos e escrevendo como um louco.

Eu estava curado.

Luiz Tinoco Cabral texto escrito no ano passado

sábado, 11 de fevereiro de 2012

um dia de chuva qualquer



Tem dias que não sinto a menor vontade de investir em planos, em futuro, em projetos que nem sei bem a razão de sua existência. Aliás nem sei bem a razão da minha própria existência. A chuva cai lá fora. Escuto os barulhos dos trovões na minha alma cansada. Onde estarão os pássaros agora? Embaixo de alguma marquise velha e descascada....quem sabe....Os amigos nos cobram atitudes. Os inimigos nos cobram atitudes. Todos nos cobram “algo mais”. E por quê? Que tal derramar o corpo nesse colchão branco em forma de nuvem e ficar simplesmente horas pensando em inércias, em insetos falecidos, em pássaros semi-molhados em marquises? Sinto o luz dos relâmpagos eclipsando a minha retina, seja lá o que isso signifique. No canto esquerdo desta mesa vejo um pequeno papel...um envelope... - uma conta que esqueci de pagar porra! E num lampejo trovejante e iluminado por um raio caio de boca na realidade. Definitivamente não nasci para poeta. Quem foi que disse que poeta bom é poeta morto? Zeca Baleiro ou Robim Willians? Dúvidas descem pela ladeira numa enxurrada de idéias desconexas. São as águas selvagens em demasia que nos levam para os “mares nunca dantes navegados”. Mas não desisto! Um dia encontrarei o melhor dos mundos possíveis...num verso de Camões...numa peça de Voltaire ou numa chuva du caralho!
(eu não resisto – eu sempre tenho que estragar tudo no final! – risos.)

domingo, 22 de janeiro de 2012

vinte e poucos anos atrás


Há vinte e poucos anos atrás eu era o cara aí em cima na foto. Estava na Europa no inverno muito bem acompanhado das amigas e irmãs Acosta de Porto Rico; conforme se verifica usava um casacão do meu avô, cachecol branco e tinha muitos sonhos e muito mais cabelo como é fácil constatar.
Desde essa época já escrevia com constância no meu “Diário” com a minha Remington portátil e guardava algumas coisas em pastas para “posteridade”. As religiões passaram, os espasmos atléticos, os ideais políticos, os fartos cabelos, a Remington portátil.... mas a literatura ficou em minhas entranhas, no meu modo particular de encarar as coisas e suportar a loucura do cotidiano.
De todos os escritores que li talvez tenha como maior ídolo Charles Bukowski que certa vez confessou: “essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura”.
E é mais ou menos nessa pilastra que a coisa toda se sustenta.
Num momento de nostalgia , gripe forte e falta de inspiração começo a reler essas coisas antigas, muito ruins, diga-se, mas que me protegeram e me ajudaram em algum momento da vida. Recomendo ler e escrever como forma de terapia gratuita, de auto-conhecimento.
E para não dizerem que estou mentindo aí vai um trecho do antigo “Diário”: “24/08/1992 – Hoje me vejo por outro ângulo. Abaixo do chão. Sem pretensões faraônicas, desejos demoníacos, sonhos onipotentes. Mais um mero mortal em busca de sexo, prazer, dor, aceitando suas imperfeições. Apaixonado pelo bar da esquina, árvores em torno de um lago, levar o cachorro na praça, escavar a terra, desmanchar torrões, suar...Sentir o vento, fugir da fumaça, tomar sol, andar de terno pelas ruas calorentas, ver os sonhos, escolher alguns e jogar outros fora. Filtrar os sentidos, tomar uísque ao cair da tarde, cair junto com a noite, despedir de tudo e de todos para longas viagens sem destino. Sentir a vida, beijar o erro, sublimar a relatividade. Hoje me vejo simplesmente assim. Simplesmente como tudo deveria ser. Mas não é. (...)
Legal não é? Poder relembrar estados de espírito, humores.... Acho que nessa época Kerouac e Hemingway já faziam parte da minha vida. Pois então...graças a boa literatura sobrevivi e ainda acredito no carinha lá de trás, do passado longínquo e do cachecol ridículo. Não é pouco. Não é fácil.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Henry Miller sempre...


o escritor e sua inspiração literária

Começo de ano e as velhas idéias e os velhos escritores de sempre. Mas fazer o quê? Não consigo achar nada que me diga mais do que Henry Miller por exemplo. Tá certo que o cara em determinados momentos deixa o lado autobiográfico de lado(o melhor) para aventurar-se em teses mais diversas sobre a vida (não tão melhor assim). Mas como não dar valor a isso: “Hoje o indivíduo está praticamente extinto. Hoje nós temos o robô, produto final da era da máquina. O homem funcionando como um dente de engrenagem numa máquina sobre a qual não tem nenhum controle”. Como discordar ? Mais atual impossível não? E não para por aí, o velho/novo Henry conclui “de geração a geração, isso continuará, até que uma criatura isolada escape às mãos dos vivisseccionistas e inicie um mundo próprio”. Resta portanto um fio de esperança. O escritor no seu “O mundo do sexo” escreve um verdadeiro tratado contra os horrores da vida cotidiana, do homem dormindo em berço esplêndido e deixando as coisas acontecerem ao seu redor sem a sua participação. O antídoto para o escritor é viver e gozar a vida sem pensar em progresso e invencionices. Não bloquear os desejos e prazeres....Fácil entender Henry Miller. Por isso que o leio....sempre....E leiam também Sexus Plexus Nexus(na minha modesta opinião o ponto forte de sua obra), assim como os Trópicos de Câncer e Capricórnio(os mais divertidos e despudorados).

Arquivo do blog