quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Van Gogh e a literatura


Carta de Van Gogh a seu irmão Theo: "talvez eu gostasse de escrever sobre muitas coisas, mas a vontade passou a tal ponto que vejo inutilidade nisso". Assim mesmo, curto e grosso - escrever é inútil. Quatro dias depois de escrever a frase acima o cara se matou com 4 tiros no peito. Essa constante relação da literatura com a morte. Alguns escrevem para não morrer outros pintam quadros, outros plantam árvores. Alguns ganham dinheiro. Outros colecionam relacionamentos, carros, ilusões.... Mas no fundo todos sabemos como a Márcia Denser . No fundo, no fundo e um pouco além de nossas motivações não nos resta muita coisa. A vida afinal de contas é... BESTA! E está ficando cada vez mais...leiam o belo artigo da Márcia Denser no site Congresso em foco. E eu ainda escrevo...e sigo escrevendo....mas a frase acima seria ótima para encerrar este blog não? Porém meu desespero e desilusão ainda é pouco. E ainda amo muito o lóbulo branco e tosco da minha orelha esquerda.



segunda-feira, 12 de outubro de 2009

BLOW-UP - DEPOIS DAQUELE BEIJO


Foi a primeira vez que fui beijado por Antonioni. Era um adolescente interessado. Não tinha a percepção de sua obra que tenho hoje. Revendo o filme que tanto me impressionou, vejo que ele permanece vivo. E como....
A princípio por mostrar a Londres de nossos sonhos tropicalistas, suas ruas, suas cores sombrias, seus tijolos vermelhos, seus carros negros. Só por isso vale o filme.
Aliás a idéia de Antonioni é essa. São vários filmes dentro do mesmo. A música incidental de Herbie Hancock em contraste com os silêncios das árvores, com os silêncios do filme em si. É o cinema como tem que ser. A imagem diz mais que mil sons, mil trejeitos e mil efeitos especiais.
Mas a estória em si que não se revela também é reveladora(Heim???). Um assasinato. Será? Ou será apenas uma forma de mostrar a vida de um fotógrafo na Londres efervescente? Da Londres do Rock e da benzedrina, da maconha, do vinho tinto. Da London London das festas regadas a muita droga e The Yardbirds?
Ou será a paranóia de um fotógrafo e sua desorientação e de suas modelos desorientadas, de uma época com várias, tantas opções que não se consegue vislumbrar uma certa sequer?
Caminhamos pelo filme vendo pessoas apáticas assistindo um show e desesperadas em busca de um souvenir(pedaço de guitarra jogado na platéia). Mímicos jogando um tênis imaginário; um vendedor de antiguidades que maltrata seus compradores e não quer se desfazer de seus pertences; uma passeata em fila militar de pacifistas contra a guerra; modelos perdidas e vendidas em busca de auto-afirmação e/ou diversão pura e simples. A aquisição de uma élice de avião antiga pelo puro deleite e prazer estético.
Na realidade Michelangelo Antonioni é um voyeur e um crítico sutil de sua sociedade. Basta a lente na realidade, basta a lente....
Sem contar que o filme conta com a belíssima Vanessa Redgrave e é inspirado em uma obra de Julio Cortazar.
Aula de cinema. Obra de arte. Imperdível!(aliás como todo o conjunto de Michelangelo Antonioni) . E este filme é de 1966. Não se fazem mais filmes como antigamente!
Boa noite; Beijo na testa!!!!!Durma com esta!

OH! BARBARELLA!!


Recomendo este filme para estilistas, travestis, cartunistas, drag queens, hippies tardios, descolados em geral....e principalmente para heterosexuais voyeristas que ainda não conhecem a angelical carinha e as adoráveis pernas de Jane Fonda no filme que lhe levou ao estrelato.
O filme é meio retrô, meio psicodélico, ficção-científica e baseado numa história em quadrinhos onde uma mercenária das galáxias(Barbarella), num mundo futurista e pacífico tem como missão encontrar o grande "Duran Duran" e barrar os seus anseios de dominar o universo com uma arma poderosa.
De quebra a mercenária até então civilizada, descobre toda a delicia do mundo pagão e atrasado, sexo selvagem, bárbaro, e transforma sua missão numa adorável ode ao sexo em contraposição ao sexo do futuro sem contato físico.
Enfim, uma deliciosa bobagem, com toques artísticos indiscutíveis e com uma protagonista deliciosa, Jane Fonda, no auge de sua beleza e usando as roupas mais extravagantes e sexys do planeta.
Para se ter uma idéia o filme começa com um strip-tease de Jane Fonda, flutuando e com uma roupa de astronauta. Cena impagável.
Vale a pena dar uma espiadela. E pensar que eu nem tinha nascido, o homem ainda não tinha pisado na lua e Woodstok ainda era um embrião. O filme é de 1968.
E como diria o Seu Jorge: "é isso aí"!



domingo, 4 de outubro de 2009

Emerson Wiskow e seu "Ovos de Touro"



provável auto-retrato extraído do site do Emerson "cavalos não correm deitados"

Eu gosto do Wiskow e é só. Poderia criticar o seu livro, dizer que tem erros de português gritantes, que as estórias muitas vezes não são devidamente aproveitadas, que falta surpresa em muitas delas mas não. Gosto do Wiskow. Da maneira como ele desenha e disponibiliza seus textos; gosto dos seus gostos e referências, o velho Buk, Gutierrez, mulheres gostosas, bares etc. Gosto da sua peregrinação em busca do auto-conhecimento como escritor. E gosto de algo que supera qualquer falha dele. Sua cara-de-pau! no sentido de ausência de pudores como escritor. A literatura está aí para quem quiser e isso é muito bom. E ele explora tudo isso muito bem aparentemente sem segundas intenções. O que é um alento. Seu anti-profissionalismo é salutar e sua crítica ao Daniel Galera melhor ainda. Tá certo - o cara (Daniel)conseguiu escrever um romance e isso já é muita coisa em um País como o nosso. Mas ele não é essa coisa toda! Dá pra compreender?Gosto inclusive de algumas fixações recorrentes. Me identifico. Wiskow é um grande voyeur! Seus suicidas, suas vagabundas, suas bundas com muita carne, seus prostíbulos decadentes, os bares gelados que não tenho por aqui(Rib 40 graus). Nem vou dizer que não gosto de marcianos, cigarros, mulheres verdes, uma cabeça-decepada, um encontro com Jesus na Zona, exaltação ao próprio pinto. Não! Não vou! Porque gosto do Wiskow e é só. Como um irmão de uma confraria secreta e restrita.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Incompletos Albano Martins Ribeiro

Ler Albano Martins Ribeiro não é fácil. Vc tem que entrar no site http://www.osviralata.com.br/ que dedica-se à publicação divulgação e distribuição de literatura independente, fazer um depósito e pedir o livro do autor supra que aliás e o proprietário e único empregado da editora independente como ele faz questão de frisar. O livro chega no prazo sem nenhuma cartinha num envelopinho padrão e causa um certo estranhamento. "- Como é que coube um livro de 100 páginas nesse envelopinho?" De quebra você tem que aturar as letrinhas miúdas de um mini pocket book e ficar amassando as páginas no meio para ler as linhas na íntegra sem malabarismos . Porém a surpresa é boa ou seja vale o pequeno sacrifício. Afinal para ler bestsellers bem encadernados e que não dizem nada é só ir na livraria mais próxima. Albano tem aquela escrita que chega como o vento, nua, com os acontecimentos da vida. Ele narra as putarias e sacanagens do cotidiano e das relações humanas(de amor ou...nem tanto). E se pudesse escolher entre os vários bons contos ficaria com o excelente "sexta à noite, no purgatório" que narra às desventuras de um personagem que, na esperança de um sorriso antigo e vibrante de sua companheira, tem que aturar uma reunião social nitidamente de conveniências numa noite gris. Peço "vênia" ao escritor para transcrever um trechão do conto que pode dizer muito mais do autor e do livro do que estas minhas "vênias" e "mal traçadas letras" urgh! Brincadeira heim!? Esse latinismo e essas frases feitas não me pertencem(influência do Garófilo - meu professor de Filosofia do Direito). Mas voltando ao assunto vamos lá: "pois é, Nina querida, eu sabia que ir a essa festa não era a melhor coisa a fazer naquela noite. Mas você disse tantas vezes que fazia questão, e eu acabei indo de sapatos duros com a roupa errada a um lugar de valetes surdos e anões, cheio de homens arrogantes mulheres putas e burras vestidas de vermelho e preto, de uísque bom e traiçoeiro, um lugar cheio de gente em que a gente se sente sozinho, sozinha, um lugar onde há pratos e pratos e garfo garfo garfo e faca faca faca e colher colher colher e taça taca taça, mas onde não se serve comida, só pães anões com micro-manteigas e quibes de pó-de-arroz com cheiro de peixe, telões que passam jogos de futebol ao vivo, um lugar onde há gêmeas idênticas identicamente horrorosas, onde só as mulheres inatingíveis dançam, onde os mágicos não tem assistentes de maiô e você chupa o pau - como ninguém o saberia fazer - dos canalhas de cabeça cúbica e sorriso de fauno que patrocinam seus projetos". AMR Uau! Inferno ou purgatório? Lembrei-me até de um conto do Mirisola "basta um verniz para ser feliz". Lembrei-me inclusive de Bukowski pela crueza e simplicidade que o conto chega à conclusão acima - ao grand finale. Tô até vendo a carinha do Albano , com ressaca, barbinha por fazer, coçando a testa e digitando o texto com ênfase, com verve com raiva. São os momentos únicos....É isso aí Albanão! pau no cú deles e delas , desses faunos e "deusas", daqueles que tem "o medo de mostrar o rabo, sujar a gravata".(essa é do Mirisola). E assim mesmo no seu estilo - sem vaselina!!!!!
Portanto caros e infindáveis leitores - entrem no site, naveguem com a devida atenção, descubram boas novidades, comprem o livro que é baratinho e aproveitem para adquirir(de graça) os e-books "O cabotino" do Polzonoff e "Ovos de Touro" do Wiskow. VIVA A LITERATURA INDEPENTENTE!!!