terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Scott Turow amigo de fé


Falar de Scott Turow é falar um pouco de um amigo muito próximo, embora não o conheça e sequer tenha a possibilidade remota de conhecê-lo pessoalmente. Scott Turow é aquele exemplo de pessoa bem sucedida . Advogado brilhante, formado em Harvard; além de advogado é um escritor de thrillers jurídicos de grande apelo comercial vendidos no mundo inteiro.
Mas para falar de Scott temos que lembrar de seu primeiro livro que não é um romance, mas uma breve autobiografia que relata um ano crucial em sua vida. O primeiro ano na Faculdade de Harvard. Ali temos a razão da pessoa bem sucedida. O esforço pessoal sem esquecer a ética, que aliás nunca é esquecida em seus livros. São os dilemas éticos dos operadores e estudantes do direito.
Depois disso veio o sucesso retumbante de “Acima de qualquer suspeita” e outros bons livros que culminaram no atual “Os limites da lei”, onde sempre somos obrigados a olhar para nós mesmos, na nossa conduta como advogados , membros do poder judiciário, Juízes e seres humanos em sentido amplo. A ética nunca dissociada da profissão e das relações humanas em geral.
Muitos podem falar que Scott escreve roteiros fáceis para cinema. É verdade...o aspecto comercial está sempre lá, na ânsia de entreter com boas histórias do mundo jurídico e com um tema que cai como uma luva para o público americano(principalmente) que adora as peripécias do “mundo legal”. Porém se o leitor pinçar melhor poderá ver um interesse maior nas entrelinhas...É só isso que gostaria de ressaltar de um amigo muito próximo. Afinal de contas “amigo é para essas coisas” e Scott foi algumas vezes crucial para não me afastar do direito, não me deixar levar pelo desânimo profundo que as instituições jurídicas e situações profissionais as vezes me causam. Scott Turow é pura paixão pelo direito apaixonante, o direito ético, o direito bonito dos livros e não o direito da realidade tacanha, precária e mesquinha que muitas vezes nos cerca.
Valeu my friend!!!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Arthur Schopenhauer


O que dizer de mais um livro de Irvin D. Yalom, “A Cura de Schopenhauer?
Primeiramente fico bem a vontade porque ninguém. Ninguém lê este Blog! Aliás ninguém lê quase nada a não ser aquilo que interessa para ganhar dinheiro ou coisa que o valha! Pessimista eu? Então conheça o personagem principal deste livro para saber o que é um cara pessimista. Um cara que simplesmente desiste da convivência humana considerando que esta convivência no sentido pleno de engrandecimento do ser humano é inviável. Vários filósofos beberam nessa concepção. Talvez os mais famosos sejam Nietsche e Schopenhauer. É verdade. Porém traídos por este estilo de vida enlouqueceram ou passaram a maior parte da vida como loucos marginais. Será que estou ficando assim? Não....ainda tenho um lastro de convivência humana, embora não suporte mais ir ao campo, shopping, clube, igreja....
Mas...voltemos ao livro – Tudo se passa com um psicanalista, Hertzfeld, que tem como base de seu trabalho a terapia em grupo. Num estágio de doença terminal(Câncer) , num balanço/acerto de contas final, resolve ir atrás de seus pacientes mais problemáticos, aqueles em que o tratamento não surtiu efeito. No início desta busca encontra o seu maior fracasso; Philip, uma pessoa totalmente mudada e isolada com base nas idéias de Schopenhauer, o maior pessimista de todos os tempos. Nessa convivência firmam um trato. Para Philip adquirir o aval de Hertzfeld para tornar-se um psicanalista , teria que participar de um grupo em terapia. Surgem os embates dialéticos e muitas desavenças motivadas pelo conflito e pelas diferenças latentes de todos os membros do grupo até à redenção improvável de Philip e dos demais. Paralelamente vamos em capítulos intercalados conhecendo a vida fantástica de Schopenhauer. Aliás o maior mérito de Yalon é trazer a filosofia para o leigo, para o cidadão comum, despertar essa paixão pelas idéias no sentido imaterial, amplo...
Enfim é uma leitura que cria um momento diferenciado...um algo mais filosófico de uma maneira divertida e voyeristica, como se pudéssemos observar uma sessão de terapia sem comprometimentos, à margem, como uma mosca.
Recomendo para os adeptos da terapia em grupo, porém acho que hoje observando melhor as coisas acredito muito mais em Schopenhauer, que certa feita disse: “o conhecimento é limitado, só a estupidez é ilimitada”. Desta feita morreu isolado como sempre viveu depois de ser obrigado a conviver com os “lastimáveis bípedes humanos”, como aliás se referia Shcopenhauer.

esses russos...


Vai escrever bem assim lá na Sibéria! no Cáucaso! Esses Russos são fantásticos(pra não cair na baixaria e dizer foda!). Acho que aquela neve toda, aquele frio de congelar Pinguím, e todas aquelas tragédias pessoais fez um bem danado para escritores Russos de um modo geral.
"Salada Russa" Editora Paulus, 1988, Coleção Asa Delta. Bela iniciativa para resgatar e introduzir escritores como Tolstói, Gorki, Púchkin, Tchêkov dentre outros que em pequenos contos vão desnudando para nós os mistérios da Rússia tão distante....e agora um pouco mais próxima.
Primeiro temos um conto de Púchin (1799/1837), exilado duas vezes é o maior dos poetas Russos. Morreu aos 38 anos em um duelo. O conto "Nevasca" a princípio lembra outro conto "Senhores e Servos" de Leon Tolstói. Mas de repente, de uma terrível tragédia nos sobra uma adorável surpresa. O conto brinca com o acaso, com as coincidências, com as surpresas que a vida reserva.
O Segundo conto é de Liérmontov(1814/1841), foi preso e deportado e morreu de duelo aos 27 anos(será que eu já li essa introdução?) Aqui também temos um conto que brinca com o destino na pessoa do "Fatalista", com a crença muçulmana que "o destino humano está escrito no céu", com aquela coisa de estar no lugar certo na hora certa ou no lugar errado na hora errada, concluindo o protagonista que não há que falar-se em predestinação mas que tudo depende do acaso. "quem pode saber com certeza se está ou não convencido de alguma coisa? E quantas vezes não tomamos por convicção um engano dos nossos sentidos, ou um equívoco de nossa mente"
Turguêniev(1818/1883) e seu conto "A codorniz" nos introduz, pasmem, naquela época na bárbarie de um hábito comum e deprimente. A caça e a natureza predatória do homem e sua insensibilidade. E olha que sequer existia o Greenpeace!
Mais um conto de Tolstói(já analisado neste Blog) "Depois do Baile" quando Ivan Vassílievitch inebriado com o feitio de uma donzela, seu pai e toda à pompa do momento entre danças e música, entorpecido com o encanto do momento é obrigado, "depois do baile" a ver a face trágica do ser humano com o pai da moça açoitando um servo até a morte. O encanto se desfez, inclusive em relação à donzela, o que levou Ivan a concluir que "o homem é incapaz de compreender sozinho o que é o Bem e o que é o Mal, que tudo depende do meio ambiente, que as circunstâncias violentam o ser humano"
Gárchin (1855/1888) sensível e impressionável foi internado em clínica psiquiátrica e matou-se no vão de uma escadaria durante uma crise nervosa). Meu é só tragédia! Vai...vai ser escritor vai....
O conto "O Sinal" conta a estória de um homem simples, do povo, que, na qualidade de trabahador da ferrovia tem seu destino de herói traçado pelas circunstâncias de uma amizade. E mais uma vez muitas reflexões sobre a natureza humana. "- Não é a triste sina que nos consome, a você e a mim, mas sim os homens. Não há fera no mundo mais feroz e selvagem que o homem".
Agora o grande gênio. Este é gênio: TCHÊKHOV(1860/1904) - depois de pobreza e privações, começou a escrever para ajudar a família, formou-se em medicina, morreu de tuberculose aos 44 anos e criou um estilo próprio, um clima, uma "atmosfera" única e especial.
O conto "obra de arte" é uma brincadeira com uma situação banal. O que fazer com aquele presente indesejável? Porque não somos sinceros as vezes?
"Pamonha" é uma aula de enrolação da classe proletária, concluindo o patrão: "como é fácil ser forte nesse mundo!"
Já o conto "O Diplomata" trata da incapacidade de um amigo de família de nome Piskariov, contar ao marido sobre o falecimento de sua esposa e o conto "Um problema" conta a estória da família Uskov e a tentativa vã e desesperada em honrar o nome da família denegrido por Sacha Uskov que em determinado momento de sua vida desconta uma letra falsa numa instituição bancária.
Enfim - Tchêkhov trata de situações do cotidiano, com muito humor e prosa refinada e desdiz a máxima de outro grande escritor João do Rio "de onde menos se espera, e dali mesmo que não sai nada".
Depois temos Gorki, outro dramaturgo (1868/1936) amigo de Tchêkov era o escritor dos vagagundos, miseráveis e marginalizados.
O conto "tão simples" nos mostra uma passeata socialista como se toda aquela utopia fosse "tão simples" assim.
Já o conto "Bolês" que no meu entender é o mais belo do livro, nos mostra uma prostituta solitária de traços grotescos que cria um noivo imaginário para corresponder-se imaginariamente por intermédio de um estudante letrado e insensível que em determinado momento cai em si: "Eu compreendi....E senti uma coisa dolorosa, tão ruim, fiquei com vergonha. Ao meu lado, a três passos de mim, vive um ser humano(...)" Uau!!!!!!!!!! e por fim para fechar o raciocínio "No fundo nós mesmos também somos decaídos" "...no abismo de toda sorte de presunção e convicção quanto à excelência e superioridade de nossos nervos e cérebros sobre os cérebros e os nervos daquelas pessoas que são tão-somente menos astutas que nós"
E a Coletânea fecha com Grin (1880/1932) preso e exiliado na Sibéria, o mais ocidental dos escritores russos e por isso mal visto por seus pares socialistas. Hoje a história mudou muito.
O conto "A voz e o olho" conta a aventura de um cego que volta a enxergar após uma operação bem sucedida e depara-se pela primeira vez com seu amor: "Naquele momento, a imagem coreta que Rabid formara dela, imagem gerada pelas trevas, foi e permaneceu aquela a que ela não esperava".
Portanto se "a coisá tá russa" pode ser um bom sinal! Para a Literatura então é um sinal claro e preciso, como respirar e tomar água.
Recomendo este livro para aqueles que como eu, logo de cara pegam o "Crime e Castigo" ou "Guerra e Paz" para ler!!!!
Melhor ir com calma e ir se ambientando aos poucos para curtir depois as grandes obras-primas russas. Esse livro "Salada Russa", como já disse, é uma excelente iniciativa. Um excelente início.

A vida não é um suicídio




Quando você estiver triste, achando que sua vida é uma droga, que tudo de ruim acontece com você, que nada mais vale a pena, que a alma se esvai em devaneios insanos, que tudo que vc passa são enganos. Leia o livro "É isto um homem?" de Primo Levi.
Nada nesta vida é por acaso e até em Auschwitz como perseguidor ou perseguido, um homem pode aprender um pouco sobre sua natureza e a dos demais;
O livro é de estarrecer. Melhor relato em primeira pessoa dos horrores de um campo de concentração que se tem notícia. É de arrepiar.
Então deixa o livro falar por si:
"Frente a este mundo infernal, minhas idéias se confundem; será mesmo necessário elaborar um sistema e observá-lo? Não será melhor compreender que não se possui sistema algum?"
"A capacidade humana de cavar-se uma toca, de criar uma casca, de erguer ao redor de si uma tênue barreira defensiva, ainda que em circustâncias aparentemente desesperadas, é espantosa e mereceria um estudo profundo"
"Porque assim é a natureza humana: as penas padecidas simultaneamente não se somam em nossa sensibilidade; ocultam-se, as menores atrás das maiores, conforme uma lei de prioridades bem definida"
"frente à pressão da nescessidade e do sofrimento físico, muitos hábitos, muitos instintos sociais são reduzidos ao silêncio"
"considera-se tanto mais civilizado um país, quanto mais sábias e eficientes são suas leis que impedem o miserável ser miserável demais, e ao poderoso ser poderoso demais"
"A não ser por grandes golpes de sorte, era praticamente impossível sobreviver sem renunciar a nada de seu próprio mundo moral; isso foi concedido a uns poucos seres superiores, da fibra dos mártires e dos santos"
"Parecia impossível que existisse realmente um mundo e um tempo, a não ser nosso mundo de lama e nosso tempo estéril e estagnado, para o qual já não conseguíamos imaginar um fim."
"Para os homens vivos as unidades de tempo sempre têm um valor, tanto maior quanto maiores são os recursos interiores de quem as percorre"
"Sorte que hoje não há vento. É estranho: de alguma maneira, sempre tem-se a impressão de ter sorte: de que alguma circunstância, ainda que insignificante, nos segure à beira do desespero, nos permita viver"
"Uma parte da nossa existência está nas almas de quem se aproxima de nós"
Ou seja um livro muito bem escrito que entra no cerne da existência e do ser humano, numa situação peculiar, do ponto de vista de uma pessoa de muita fibra, que vivenciou o pior dos pesadelos em terra e não perdeu a esperança e a fé.
E eu aqui reclamando da fila no banco, da espera prolongada no cartório!!!!
E dane-se a posição de vários biográfos quanto ao suicídio de Levi. NÃO ACREDITO!
Não acredito que um cara que passou por tudo aquilo com tanta dignidade e tesão pela vida ia entregar a vida num suicídio tosco, num fosso de edifício, queda do terceiro andar(sem nenhum bilhete). Legítimo acidente. Só não enxerga quem não quer ver!!!
E adorei a capa com a foto de um arame farpado envolto por uma delicada teia de aranha, um fundo verde e azul. O livro é exatamente isto. A poesia da natureza humana e da convivência nos lugares mais improváveis.
Bela foto. Bela capa. Belo livro. E como diria outro italiano ilustre - Roberto Benigni: "A vida é bela".

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O paraíso é na outra esquina Mario Vargas Llosa


O livro trata da vida de Paul Gauguin e sua avó Flora Trìstan, o primeiro dispensa comentários, grande pintor impressionista, radicado no Tahiti e posteriormente nas ilhas Marquesas, amigo e no final da vida inimigo do "holandês louco" Van Gogh, acreditava que o "paraíso" estava em fugir da vida burguesa, européia voltar as origens selvagens. Só assim a arte teria sentido, seria pura e interessante. E assim o foi no começo do século 20.
Viveu então uma vida riquíssima, porém pautada por grandes tragédias pessoais e doenças e miséria, originadas na sua escolha não convencional para a época. A liberdade total. Vide auto-retrato acima.

A sua avó Flora Trìstan também era uma figuraça. Uma das primeiras mulheres a se rebelar contra a revolução industrial, em meados de 1840; começou a perambular por toda a Europa divulgando e relatando os horrores sociais oriundos da indústria e condições de trabalho, jornadas absurdas, desrespeito às mulheres, a prostituição abundante na Inglaterra, crianças trabalhando em condições desumanas, a redução de pessoas à condição de escravo(a)....
Criou então a "União Operária" escreveu livros a respeito, e se tornou então, sem sombra de dúvidas, uma das primeiras sindicalistas e feministas da história. Personagem riquíssima. Buscou seu "paraíso" junto com os sansimonistas e foueristas, enfrentando muito preconceito e ignorância, numa utopia ideal da insubmissão dos operários às condições sub-humanas vividas na época. Uma heroína, que sacrificou sua vida em prol de um ideal.
Será que o Lula já ouviu falar alguma coisa sobre Flara Trìstan???? Duvido!
Grande livro, leitura extremamente agradável, na minha adorada Trindade, de um grande escritor Peruano Mário Vargas Llosa.
Esses escritores latinos só me surpreendem!
Viva os escritores latinos. Abaixo aquele louco nacionalista da Venezuela.

Alberto Fuguet - Baixo Astral


Trata-se de um livro, ou melhor um puta livro legal, que fala sobre um adolescente rico latino americano residente no Chile na década de 80.
Seus pontos de referência e alienação aos poucos e após várias crises vão se dissipando, culminando no apoteótico amadurecimento às duras penas.
Dosado com muitas situações hiper interessantes e bem escritas, cenas dignas de um "road movie", a estória se passa em uma semana(semana de votação do "Sim" e do Não" à Constituição de Pinochet).
O personagem Martìns Vicuna, um jovem de 17 anos(quase 18) extremamente inteligente,fruto de uma educação bem cuidada em escolas particulares, porém alienado e patético,passa seus dias em viagens estudantis, bares da moda, festas em casas cinematográficas de seus amigos ricos, prostíbulos de luxo, cheirando cocaína, se entupindo de bebida(rótulo preto) e criticando sua vida as pessoas qeu o cercam e o mundo como um adolescente mimado em constante baixo astral.
Aos poucos o personagem vai descobrindo a sua verdadeira identidade, bem como verdadeira situação de seu País e do mundo.
Dito desta forma a coisa toda parece piegas, cópia com final moralista do livro "O apanhador nos campos de Centeio" Sellinger
Não é bem assim já que o próprio autor brinca em seu livro com a comparação inevitável, traçando inclusive as diferenças e semelhanças de um jovem primeiro-mundista de Nova York com um jovem terceiro-mundista do Chile.
Vide algumas informações que reputo interessantes: Alberto Fuguet nasceu em Santiago, em 1964, e viveu na Califórnia até os 12 anos em virtude do trabalho de seus pais naquele País(não tem nada haver com exílio e outras cositas latinas) retornando posteriormente ao seu País de origem. Formado em Jornalismo na Universidade do Chile, foi crítico de rock, cinema e colunista do El Mercurio e é considerado um lider da nova literatura latino americana.
"...uma geração inteira de escritores pretende descartar a noção que realismo mágico é tudo na ficção latino americana. Alberto Fuguet emerge como a ''''''''mais irresistível voz'''''''', diz Mario Vargas Llosa, '''''''' por sua prosa segura e idéias ambiciosas, assim como a liderança que assume entre outros jovens parricidas''''''''." Revista Time"
Imperdível!!!