quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"Kawa Ton Aaimona Eaytoy"


Hoje poderia traçar um paralelo entre três livros que li ultimamente,” Satori em Paris” de Jack Kerouac, “Mal de Montano” de Enrique Vila-Matas e “Tanto Faz” do Reinaldo Moraes já que todos tem como pano de fundo Paris. Poderia (e posso) dizer que para o americano Kerouac a viagem tem um intuito, um propósito metafísico, místico, para o catalão Vila-Matas o intuito é, digamos, mais cultural filosófico e porque não literário. Ele é fanático por literatura, lugares com apelo literário e citações. Já para o brasileiro/paulistano Reinaldão como o próprio título diz – tanto faz. Aliás este tem sido o meu sentimento atual. Tanto faz. Cansei de teorizar o conhecimento. Gosto de literatura e só! Cansei de compreender, classificar e analisar a estética tendo espasmos intelectuais baseados no contexto das palavras e dos livros; sempre peregrinando em críticas em busca de um sentido mais amplo... Por exemplo e por falar em Paris, agora, neste exato momento, num vislumbre me veio a imagem do túmulo de Jim Morrison no Père-Lachaise na cidade luz de tochas em passeatas. Lembrei-me de um livrinho safado que li a muitos anos atrás “Jim Morrison por ele mesmo” da Editora Martin Claret. Mas será que o livrinho é safado?(lá vem o crítico). Se fosse safado não estaria lembrando dele agora!!! Adoro “The Doors” e seu improvável sucesso. Ora uma banda de rock com um baterista jazzista, um tecladista clássico, um guitarrista flamenco e um cantor/escritor suicida estava fadada ao fracasso retumbante. Pois não é que virou bandeira de uma enormidade de excluídos no auge do neo-conservadorismo? Portanto deve ser verdade aquela coisa do “passo do bêbado”, do acaso determinante. Do “Tanto Faz” tão bem retratado por Reinaldo Moraes que acaba direcionando realmente nossas vidas. No livro um estudante vagueia “livre, leve e solto” por Paris abandonando os compromissos de um curso que não lhe dizia mais nada. Descobre a verdadeira vida por baixo das fachadas austeras da universidade, dos compromissos, do mundinho tido como “normal”. A Paris de Santiago Gamboa em décadas diferentes. E nessa fuga consciente nos deliciamos com suas aventuras, com seus acasos determinantes. Na mesma esteira podemos colocar a vida de Jim Morrison. Um cara jovem com um pai militar no auge da Guerra do Vietnã poderia apenas rebelar-se afundando-se em drogas diversas matando-se ou ficando louco sem qualquer repercussão como tantos outros de sua geração. Mas não. O cara recebeu uma iluminação um “satori”. Dá-lhe Kerouac!!! E isso tudo, essa confusão e essa mistureba toda de livros, Paris e Rock and Roll é também para indicar um belo filme – peguem na locadora – “When You’re a Stranger” que traça toda a trajetória da banda “The Doors” durante seus 54 meses de existência; as imagens são belas e o relato apesar de um pouco caretinha e redondinho é bem legal(graças a Deus) tem também aquela coisa-lenda do cara ainda estar vivo, escondido num rancho, abduzido e coisa e tal. Enfim o bacana mesmo é o que me veio ao acaso e que me levou a não teorizar sobre os livros que ando lendo ultimamente. A frase na lápide de Jim: "Kawa Ton Aaimona Eaytoy". A inscrição em grego significa "queime seu demônio interior". Não existe conselho melhor para críticos incorrigíveis como eu. Obrigado Jim(que queria ser poeta/escritor acima de todas as coisas). E quanto ao paralelo literário supra deixa pra lá né. Tanto faz do Reinaldão. O negócio é ler sempre e tirar as próprias conclusões. Vamos fazer como o Aldous Huxley abrir “as portas da percepção”. Sem mescalina!!! Viver sem teorias. Apenas viver o acaso ao acaso....

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