quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Seminarista Rubem Fonseca




Hoje lendo um artigo no site “Congresso em Foco” deparei-me com mais uma dica do meu amigo Marcelo Mirisola – a dica é simples: quando você ler um livro qualquer que seja comente, fale, escreva. Sob pena de cometer um crime. Ficar falando sobre “Big Brother” a vida inteira. Crime contra o escritor, contra os leitores e contra si próprio. Gol contra.
Na Revista Revide deste mês temos ainda outra frase de outro grande amigo e companheiro de copo que admiro muito. Esta eu vou transcrever – “Tem gente que não dá livros para os filhos porque acha caro. Mas dá uma viagem a Disney. Depois o filho se transforma em um Pateta e ele não sabe por quê”. Grande Fernando Kaxassa. E é por essas e outras de grandes amigos que este blog não morre. Se: manifestando minha paixão por literatura e pela leitura em geral eu puder sensibilizar uma viva alma que seja já terá valido a pena essa maluquice toda de ficar escrevendo ao léu e de graça. Fazendo como diz minha outra grande amiga, prima e escritora Roberta Ferraz. “Atirando pra dentro, pra fora, pra onde?” Mas vamos lá. Está introdução toda está muito séria e melodramática. Como diria Cioran “A vida é um acaso – pra que levar isso a sério?” Na verdade hoje eu entrei aqui para falar sobre o novo livro do Rubem Fonseca – O Seminarista – Editora Agir/2009 – Cara foda o Rubem Fonseca. Ou melhor “fodão”! Num pequeno livrinho policial despretensioso tendo como mote um ex-seminarista que torna-se matador profissional e depois tenta redimir-se pelo amor de uma mulher viajamos numa mente atormentada e extremamente original, de um personagem “sui generis” como poucos já inventados. O “especialista” é um bandido da pior espécie mas que nas entrelinhas encanta pela sua paixão por citações latinas, gregas, por livros, por rock e por esta sua busca tão humana pela felicidade, pela transformação, pela digna aposentadoria. E é aí que mora o “fodão” do Rubem Fonseca. Na verdade todo livro é uma discussão de um tema universal. As pessoas tem a faculdade da transformação da redenção ou somos o que somos sem possibilidade consciente de mudanças? A resposta do livro é cristalina e opta por Cioran, por Nietsche, por Schopenhauer é claro! Não é possível deixar de ser um matador profissional da noite para o dia. O mundo inteiro conspira contra. Nascemos com um caráter e com uma consciência moral peculiar e nos afeiçoamos a isto. Como uma tatuagem. E aí podemos até discutir teorias evolucionistas. Um crápula será sempre um crápula? O que é um crápula? Um bandido que mata por dinheiro ou um bom pai de família que dá uma viagem à Disney para o seu filho emo? E o engraçado é que todos os grandes bandidos do livro são ex-seminaristas e nas entrelinhas podemos ver mais uma vez o “fodão” do Rubem Fonseca. Uma crítica sutil à igreja. Enfim, parafraseando o personagem do livro “como diria Cícero, a fabulis ad facta veniamus, passemos das lendas para os fatos”. É um livro delicioso. Para ser lido fácil e no meu caso em Arraial D’ajuda depois de 20 anos sem pisar por lá. E Arraial mudou muito. Mas o Rubem Fonseca continua o mesmo. Escrevendo sobre “pessoas empilhadas na cidade enquanto os tecnocratas afiam o arame farpado”. Essa eu tirei de sua pequena biografia de rodapé. E o Rubem é formado em direito....(mais um advogado escritor!)

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