segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Tigre Branco Aravind Adiga


Aqui estou novamente. Dizendo que tudo vai ser diferente! mas não - continuo rancoroso, lendo livros rancorosos, das castas inferiores, dos marginais que buscam escapar da "gaiola de galos". E é nesse espírito que acompanhamos a vida de Balram de uma maneira muito original. Vamos lendo um carta fictícia que ele, o "Tigre Branco", escreve para o Sr. Jibao, primeiro-ministro da China. Nessa carta ele vai narrando toda a sua vida desde a infância na aldeia de Laxmangarh, até a sua ascensão profissional como motorista na capital de um empresário corrupto e paternalista de araque e sua família idem. E vamos acompanhando toda a raiva, toda a indignação, toda a humilhação que os mais pobres e membros das "castas inferiores" empregados sofrem na Índia onde ao que tudo indica a diferença entre as classes sociais é gritante. (Qualquer semelhança com o outro ascendente Brasil não é mera coincidência). Mas o que é indignante é a corrupção nua e crua exposta de forma exemplar no livro (Alguém aí pensou no Brasil novamente???? Folha de arruda???). Bem...bom...na carta o protoganista que conforme já esclarecido acima é um membro das castas inferiores, vai mostrando um pouco da Índia distante das novelas globais, desnudando toda essa indignação para com as questões sociais e a verdadeira armadilha que os mais ricos preparam para os pobres para garantir a subserviência eterna, o servilismo e a "pacificação" social. É o sistema da "Gaiola de Galos"- só lendo o livro para entender. Mas o autor deixa bem claro o tempo todo. A gaiola está para ser arrombada. E os galos vão cantar em outra freguesia. E é exatamente o que acontece no final. O pobrezinho cansando de massagear os pés do patrão, servir scotchs enquanto dirije, ser barrado em shoppings, dormir no chão e calar-se perante todos os absurdos sofridos tem seu dia de glória. Consegue enfim escapar do sistema dando uma "aula de empreendedorismo" hindú e lavando a alma. Literalmente - matando o patrão. É o narrador que coloca tudo de uma forma muito simples; para ele é mera questão de trocar de lado. Facilmente após seu dia de catarse e êxtase torna-se um ser purificado, um empresário de sucesso e conclui na última página "acredito que valeu a pena saber, por um dia, uma hora, um minuto que fosse, o que significa não ser escravo". Difícil discernir até onde a ficção traduz a realidade porque o livro é muito bem escrito e apesar do tema difícil tem um humor irreprochável e sarcástico; mas se for como estou pensando a Índia é uma bomba relógio prestes a explodir e o escritor Aravind Adiga é um porta voz de extrema coragem. Muito persuasivo. Tanto que em 2008 com apenas 35 anos ganhou um dos mais importantes prêmios literários pelo livro: o "Man Booker Prize". E é isso aí - a boa literatura não tem classe social, não tem idade, não tem fronteiras, não tem País. É a rebeldia que move montanhas, chafurda na lama e encontra sua flor de lótus. Um abraço! ps- o Ministério da Saúde adverte: não saia por aí matando às pessoas, mormente o seu patrão após ler este post. É como nos ensina o grande mestre e escritor Peruano Mario Vargas Llosa. "É claro que quando alguém - Dom Quixote ou Madame Bovary, por exemplo - teima em confundir a ficção com a vida e tenta assemelhar a vida à ficção, o resultado pode ser dramático. Os que agem dessa forma em geral sofrem desilusões terríveis".

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