sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

mensagem bukowskiana de final de ano


Sem "onçinhas pintadas, zebrinhas listradas e coelhinhos peludos"; somente assim poderia ser a minha mensagem de final de ano. Aliás ano bem estranho não? Começei como sempre todo atlético progressista e terminei todo artístico decadente. Lendo "Abacaxi" de Reinaldo Moraes e "O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio" de Charles Bukowski. O primeiro livro tem o mérito de narrar a transa mais nojenta e suja da história da literatura. Não é pouco....O segundo nos mostra que a velhice e a rotina chegam para todos até para o velho Buk. Pois é dele e do já citado livro que extraio a aludida mensagem de final de ano : "Não há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada a lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até a sua morte. Não reverenciam suas próprias vidas". Desta feita desejo a todos que por aqui passaram um ano novo regado de vida bem vivida e sem desperdicius vivendis!!!!Com muita literatura de qualidade é claro! Abraços.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Primavera do Dragão


“A Primavera do Dragão” de Nelson Motta , Editora Objetiva é uma primorosa edição e bem delineada biografia de Glauber Rocha no curto período compreendido entre a infância do cineasta na Bahia e a consagração em Cannes com o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (infelizmente coincidindo com o golpe militar de 1964). Nelson Motta como todos sabem é um cara “antenado”, “ligadão” que inclusive me convenceu em outros tempos a visitar uma Igreja Batista no Harlem às oito da manhã de domingo. Tudo pela música!(desconfio até hoje que ele “leva um” do Pastor). O Nelson tem essa coisa de ampliar o mito e de quebra sem qualquer dor na consciência lucrar algum. Deixando a falta de distanciamento e mercantilismo de lado é delicioso embarcar em outros tempos especialmente no período de meados dos anos 50 e 60 quando a cultura era algo grandioso, com intuitos nobres, ideologias, os artistas se conheciam eram amigos, se ajudavam etc. Os “causos” durante as filmagens de Deus e o Diabo na pequena Monte Santo são ótimos. A população local achava que a Yona Magalhães era uma princesa e foram seduzidos a trabalhar como figurantes durante horas e dias em troca de leite em pó. Bons tempos....Acho que é isso que está faltando no cinema atual e porque não nas artes em geral. Precariedade, falta de profissionalismo. Não quero dizer que tudo se resume a “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”. Tudo tem seu tempo é claro, ninguém agüenta mais isso; mas verifico que Glauber e os demais precursores do cinema novo ainda tem muito a ensinar. Glauber é o exemplo da vontade de mudar as coisas, do inconformismo, da subversão, do radicalismo. Nos dias de hoje só isso é um alento, uma inspiração. (e desconfio que vem continuação da biografia por aí!). Isso é claro se o sertão não virar mar.

domingo, 13 de novembro de 2011

Charque de Marcelo Mirisola



Todo lançamento de um novo livro de Marcelo Mirisola não é apenas um lançamento mas um acontecimento(para desespero de muitos). Deixando todas as polêmicas de lado fico com o que disse o escritor e roteirista Renzo Mora em seu blog :” Mirisola é importante por ser um grande escritor.(...) Somos contemporâneos de um grande artista”. Tanto que de minha parte não deu para esperar a boa vontade das livrarias daqui de Ribeirão Preto e logo encomendei o meu exemplar de “Charque” na competente e simpática Livraria Travessa do Rio de Janeiro. Foi muito engraçado quando o meu filho de oito anos chegou na sala e me perguntou? “-O quê você está lendo pai? Tubarão? “-Tubarão?” “–É pai...Charque (Shark) não é tubarão em inglês?” Muitos risos o que me levou a explicar para ele que Charque não era tubarão mas sim e provavelmente isca de tubarão; Pois não é que o livro me fisgou de primeira? Está tudo lá novamente: as empregadinhas, os azulejos, os manos, os pastores, o mundinho literário, a classe média, a velha apresentadora...e o improvável lirismo que o escritor consegue tirar de coisas tão díspares e multifacetadas. E por falar em risos a muito tempo que eu não ria tanto com um livro na mão. (desde Pornopopéia). Meu filho deve achar que estou ficando louco, variando, rindo sozinho....E não sei quem foi que falou que o Mirisola não arrebenta no exterior porque é impossível explicar para os gringos e traduzir por exemplo: “Sérgio Malandro”. É verdade....coisas do gênio incompreendido. O bom e velho Mirisola está cada vez melhor. E como tenho conhecimento de causa e li todos os livros dele posso eleger os três melhores: “O Azul do filho morto” , “Bangalô’ e agora o “Charque”. Vamos mandar uns exemplares para a “Acadimia”, “Acadimia”, “Acadimia”.(essa é dele) Mirisola está pleiteando a vaga do Paulo Coelho. Tem meu apoio! Se precisar faço até campanha!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Lendo romances com Orhan Pamuk


Geralmente nesse espaço coloco em foco análises superficiais de livros. Aos poucos fui abandonando a análise de músicas, discos, artigos de revista, shows e outras manifestações culturais. Estou errado! O site é de literatura e afins e não há qualquer motivo para priorizar a arte literária. Tudo é arte, tudo é vida, tudo é imitação da vida e tudo pode servir de enredo para escola de samba. Entendeu? Toda essa introdução é para indicar um artigo que reputo essencial para pretensos escritores e ávidos leitores. “Ler um romance” de Orhan Pamuk na revista Piauí de novembro, número 62. É um textão em todos os aspectos e se você tiver fôlego lá poderá aprender a diferença constatada por Schiller entre o escritor ingênuo e o sentimental e aumentar o seu arcabouço crítico quando estiver com os olhos enterrados em mais um calhamaço arcaico de papel ou com os olhinhos vidrados na tela do seu tablet. Marcelo Mirisola tem reservas em face da revista Piauí. Na minha modesta opinião ele também está errado. É uma das poucas revistas que nos permite um texto mais tranqüilo, estudado e longe da ejaculação precoce reinante nas fábricas de texto(bordéis?) espalhadas por aí. Sou contra misturar política com arte e a submissão artística ao capital. Mas definitivamente não vou deixar de ler ou escrever em uma determinada revista só porque ela é patrocinada por este ou aquele banco, por aquela ou aquela mesma empresa do ramo petrolífero. Acho que nesse ponto talvez eu me enquadre na classificação de Schiller como um escritor/leitor ingênuo. Fazer o quê!? Orhan Pamuk tem a tranqüilidade neste belo ensaio em demonstrar todas as nove "operações mentais" elaboradas por nossa mente durante a leitura de um livro de ficção citando e usando como exemplo livros fundamentais como “Don Quixote” de Cervantes, “Anna Kariênina” de Tolstoi, “A montanha Mágica” de Thomas Mann, “A Educação Sentimental” de Flaubert dentre outros. Toda essa “operação mental” (ler) visa uma busca incessante por uma identidade própria/nossa com o romance, “a idéia de um centro” que é, segundo Pamuk, o objetivo de todo o leitor. O texto ainda traz dicas fundamentais como essa: “Quando lemos um romance, a moralidade deve ser parte da paisagem, não algo que emana de dentro de nós e se volta contra as personagens”. Deixe a moral de lado meu caro; Não fique julgando o Raskólnikov de “Crime e Castigo” de Dostoievski como um membro de um júri em um regime ditatorial.Aliás, se me permitem, ando de saco cheio de Juízes implacáveis e acima de qualquer suspeita que peidam em seus gabinetes e botam a culpa no réu.(risos). Entendo que ao ler qualquer livro devemos deixar os nossos preconceitos de lado inserindo-se na paisagem como um homem invisível, uma névoa chegando devagar...devagarinho....como uma música do Martinho.(não resisti a esta deplorável riminha) Como muito bem concluído por Pamuk “cada frase de um bom romance suscita em nós um senso de conhecimento profundo e essencial do que significa existir no mundo”. Precisa dizer mais alguma coisa? Corra para a banca mais próxima e de quebra leia na mesma revista o ótimo texto de Ricardo Lísias que tem como mote às diferentes matizes entre a dor e a solidão após uma perda ou o esgotamento de uma fase. O título do texto é “Divórcio”. Bem sugestivo...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

metamorfose ambulante



Relendo o livro ou conto "A metamorfose" de Franz Kafka, sempre sou surpreendido com a capacidade do escritor em dizer tanto de uma maneira tão sutil e com tanta imaginação. Uma estória meio sem sentido, flertando com o realismo fantástico serve para analisarmos as relações familiares, o trabalho, as relações sociais dentre outras inúmeras interpretações e estudos que o livro suscita. Mas a questão principal que fica(pelo menos para mim) é até onde vai a nossa tolerância com as diferenças nos diversos âmbitos, inclusive o estético e cultural.(???). Mais pop e atual impossível.(livro escrito em 1912 publicado pela primeira vez em 1915).

Mulheres de Bukowski


Será que existe assunto melhor? Que me desculpem os amantes do futebol e da cerveja, mas nada melhor do que falar, analisar e porque não deleitar-se com elas; é o mistério feminino que jamais será desvendado. O livro traduzido por Reinaldo Moraes é uma sucessão de erros e acertos de um escritor cinquentão no auge de sua maturidade entre junkies, putas, donas de casa, comerciantes, garçonetes, fãs de literatura, ricas, pobres, feias, bonitas, sujas, loucas.....até um final surpreendente onde Chinaski após toda a sua jornada assume a sua culpa, insignificância e sordidez perante um ser tão sagrado. Um verdadeiro Martinho da Vila ensandecido. Um Jece Valadão sem sua ridícula "conversão". E de todas aquelas e outras termina o livro com uma mulher improvável. O oposto. O “verso do reverso da medalha”. Para espanto do guru Drayer Baba (só lendo o livro para entender). No dizer de Sara, a mulher derradeira “-Trepar não é tão importante”. Pode isso???? Até o velho Buk (e o Mirisola também em seu “Joana a contragosto”...). Para espanto geral da nação Bukowskiana é dele(ou de Chinaski tanto faz) a seguinte frase: “um homem pode perder a sua identidade de tanto galinhar”. O que me leva a crer que esse negócio de machismo é só fachada, uma defesa natural do homem. Agora...essa literatura não é para qualquer um já que Bukowski como já salientado várias vezes escreve com sangue, fezes, porra e diversos excrementos sem poupar ele próprio, a sociedade, suas esquisitices e as pessoas que perambulam em sua circunferência. Tenta a todo custo demonstrar que a vida não é para amadores, para desavisados, para garotos(as) corados(as) com seus shortinhos em restaurantes da moda. Enfim, Bukowski é para quem gosta de ir direto ao clímax com poucas preliminares. Essa é minha introdução! (sem duplo sentido é claro).

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

- Ele é o cara!


Tá certo que Schopenhauer não é o principal jogador do Santos da atualidade ,não tem cabelo estilo moicano, mas um cara que tem “Schope” no nome e fala verdades sem qualquer receio ou pudor só poderia ser devidamente homenageado nesse espaço. A tempos que venho criticando o rebuscamento de linguagem e livros sem algo de substancial a dizer. Pois este livro de Schopenhauer “A arte de escrever” Editora L&PM, organizado, traduzido e prefaciado por Pedro Sussekind vai de encontro a quase tudo que penso e observo na literatura contemporânea. E olha que são textos extraídos do livro “Parega e Paralipomena” escrito pelo velho “Schope” em 1851. Poderia citar várias passagens que grifei mas em respeito a síntese e considerando o quanto exposto acima apenas esta é suficiente: “Quem tem algo digno de menção a ser dito não precisa ocultá-lo em expressões cheias de preciosismos, em frases difíceis e alusões obscuras, mas pode se expressar de modo simples, claro e ingênuo, estando certo com isso que suas palavras não perderão o efeito. Assim, quem precisa usar os artifícios mencionados antes revela sua pobreza de pensamentos, de espírito e de conhecimento.” (pág 84). E tenho dito! O velho “Schope” com todo o seu sagrado mal humor é o cara!!!!

De corpo e alma




Hilda Hilst em Biarritz (1957)

Ontem estive numa palestra de signos e literatura revendo uma antiga musa inspiradora. Ao contrário da Bruna Lombardi e Magda Cotrofe a escritora Hilda Hilst ao envelhecer foi ficando melhor(mulher uísque); e quanto mais o tempo passa, mesmo após a sua morte, mais entendo os motivos dela inspirar tanta inspiração em contrapartida às outras duas que só inspiravam tesões e gozos descartáveis em um passado longínquo de hormônios enfurecidos.(Desculpe Bruna! Desculpe Magda!) É que de Hilda Hilst eu gosto das curvas e da sensualidade de suas palavras que são únicas em seu contexto, são eternas. Como diria a própria : “líquidas, deleitosas, ásperas, obscenas”. E como não vou levar nenhuma delas para cama pelos mais diversos motivos e também porque não sou necrófago fico sem pestanejar com os livros que não me cobram sentimentos ou atuações. Não os livros de Bruna(que pecado! Um dia ela acerta a pena!) mas os de Hilda. Sei... sei que Hilda Hilst não quer sua alma na minha cama. Aliás a taurina nunca quis sua alma na cama de ninguém como decantado em um belo poema.(a Deus o que é de Deus!) Mas o que posso fazer? O corpo foi-se infelizmente. Ficaram somente algumas fotos amareladas, uma casa velha e a alma da poetisa em suas belas e erotizadas palavras. (-Os livros porra!) E posso garantir que não é pouco. Tesão incomensurável. No dizer da escritora nunca é tarde assim como é desejável transmudar-se. Será que estou amadurecendo ou é a morte dobrando a esquina? Onde foi parar minha coleção de “playboys” antigas? São tantas dúvidas....
(para Roberta)

domingo, 30 de outubro de 2011

- Eu preferia não fazê-lo


Não é de hoje que sou fã de Herman Melville. A muito tempo atrás li o clássico Moby Dick sem conseguir desgrudar os olhos do livro. Uma aventura épica da obstinação humana até a sua anunciada destruição.(o homem e suas “pretensões”) Mas esse livrinhho “Bartleby, o escrivão” Herman Melville com apresentação de Jorge Luis Borges Editora José Olympio também não deixa nada a desejar. (guardadas as devidas proporções). É o relato da vida de um escrivão e sua rotina cheia de burocracia e tédio que o leva a uma revolta pacífica com a simples frase “-Eu preferia não fazê-lo”; atitude esta que desmonta por completo toda a ordem pré-estabelecida e a paz reinante, criando uma revolta e uma incompreensão no ambiente e na sociedade. Um singelo libelo contra o autoritarismo, o trabalho como forma de garantia do “pão nosso de cada dia”, preconceito contra as diferenças e porque não contra o sistema capitalista de uma forma ampla. É por isso que Jorge Luis Borges compara Melville a Edgard Alan Poe. Precisa dizer mais alguma coisa? E poderia ficar aqui horas enaltecendo e analisando o livro mas para não perder uma piada pronta: “-Eu preferia não fazê-lo”. E lá vai o mantra leiamleiamleiamleiammmmmmmmmm.

"Killing an Arab"


Música do The Cure inspirada no livro “O Estrangeiro” de Albert Camus. O livro relata a rotina do protagonista Mersault que leva uma vida ordinária mas autêntica até a morte de sua mãe e o assassinato de um árabe, que o leva a prisão, julgamento e condenação. São reflexões do absurdo da vida que nos empurra para prisões; do ser humano que cria códigos, sistemas, convenções “morais”.....que no fundo o privam de sua própria liberdade de agir e principalmente de pensar. É a total falta de sentido do cotidiano criado e repisado exaustivamente pela história, pelas instituições e pela sociedade em geral. A angústia do personagem que pretende apenas uma coisa. Ser livre. E o preço da liberdade é seu pescoço na guilhotina e o ódio dos conformados. E o livro termina exatamente assim na tradução de Valerie Rumjanek 32ª. Edição, Editora Record, 2011 página 126: “(...)enfim, senti que tinha sido feliz e que ainda o era. Para que tudo se consumasse, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muitos espectadores no dia da minha execução e que me recebessem com gritos de ódio”. Sem sombra de dúvidas patente a influência da filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre. Livro delicioso e indispensável. Ahhhh....você está aí reclamando que eu escancarei o final do livro. Pode ficar tranqüilo, a graça não está no final mas no estilo, nas entrelinhas e no desencadear de toda a trama. Obra prima é assim! Au revoir.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Roberta Ferraz e Tinoco



Aqui estou eu em mais um lançamento de livro, desta feita da escritora Roberta Ferraz numa edição repaginada de seu primeiro livro Desfiladeiro. Roberta além de escritora estuda astrologia e vai dar uma oficina aqui no Instituto Figueiredo Ferraz unindo suas duas paixões.(astrologia como forma de linguagem analisando clássicos da literatura mundial) Fica a dica - é só entrar no site do instituto http://www.institutofigueiredoferraz.com.br

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Roland Barthes na playboy da ante-sala do cabeleireiro




Sigo nesse exercício solitário de ler, longe da arrogância que “circula, como um vinho forte entre os convivas do texto”. Frase entre aspas de Roland Barthes extraída do livro “Roland Barthes por Roland Barthes” Editora Estação Liberdade.
Uma vez no 2º. Colegial do Colégio Santa Úrsula fizemos uma aposta com um amigo; ele não seria “macho” o suficiente para chegar no professor de física e entabular o seguinte diálogo:

-Professor sabe o que descobri?
- O que foi meu filho!
- Que eu sou burro!

E vocês podem acreditar que perdemos a aposta?(esse amigo sempre foi arrojado) E sabe qual foi a resposta do professor?
- Que bom! Isso é sinal que você está deixando de ser burro!
Ótimo não? Homenagem ao professor Peres que teve grande presença de espírito e ensinou uma grande lição para todos nós que estávamos no auge das bobagens reinantes da pós-adolescência arrotando certezas e falsas premissas.
Pois é....lendo esse livro do Barthes com considerações tão inteligentes a primeira coisa que sou obrigado a reconhecer é exatamente isso. “-Sou burro!”
O filósofo em questão tem uma consideração peculiar e única com pontos de vista sempre bem abalizados sobre todos os assuntos reinantes na face da terra. Assuntos que para um filósofo de boteco como eu sequer poderiam ser assuntos, muito menos discutíveis, mesmo após meia dúzia de cervejas e quatro caipirinhas. Barthes no auge de todo seu conhecimento nunca encerra uma conclusão fechada em si, tendo ojeriza das verdades absolutas e das ideologias que procuram acobertar o lado obscuro das proposições.
Você se acha acomodado? Resposta de Roland Barthes: “é somente ao olhar o infinito que o olho normal não tem necessidade de acomodar-se.”
Estou envelhecendo? Resposta de RB: “Lembro-me com loucura, dos odores: é porque envelheço”
Uma cena de casamento por RB: “quantas cenas conjugais não se acomodam ao modelo de um grande quadro pictórico.”
Utopia da ciência: “Imagino, utopicamente, uma ciência dramática e sutil, voltada para reviravolta carnavalesca da proposta aristotélica, e que ousasse pensar, pelo menos num relâmpago: só há ciência na diferença”.
E acreditem se quiserem mas cheguei até esse livro por uma indicação de leitura da Revista Playboy na ante-sala do cabeleireiro. (???)
Em suma: livrinho bom para ler várias vezes mantendo-o na cabeceira da cama para várias noites de prazer. Nunca é tarde para uma descoberta e o reconhecimento da ignorância nas belas curvas de uma coelhinha. Nem só de instintos carnais vive o homem. De asno a pégaso; uma patada bem dada e merecida no estômago.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Não sou jamesiano


pintura "Henry James" do pintor americano John Singer Sargent 1913


Pois é – programinha cultural em São Paulo, Masp/Modi, Teatro Municipal, Churrascaria Rodeo, Cytibank Hall e o escambau. São Paulo definitivamente é foda ! Variedade de possibilidades para todos os gostos e todas as tribos. Então volto para o marasmo de Ribeirão Preto e imediatamente cai a ficha. “-Tenho que ler alguma coisa de peso.” Ato contínuo pego um clássico com um nome no mínimo intrigante e forte. “A fera na selva” de Henry James. Considerado por muitos uma obra-prima tal e coisa, coisa e tal.... Em resumo é a estória de um cara que vive sob os auspícios de uma eminente tragédia que um dia ira se consumar(a fera a espreita) . Descobre então que a tragédia é o seu hedonismo, seu egocentrismo e sua cegueira para o amor e a paixão latente que por conta de sua personalidade centrada passou sem a devida percepção pela vida afora. Só descobre isso após a morte de sua adorada amada. Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!! Romance existencialista de “fin-de-siècle.” Ainda bem que o velho Buk não está aqui para ver eu lendo essa coisinha linda rsssssssssssssss! E me desculpe o resenhista e escritor Modesto Carone e todos os inúmeros jamesianos, mas compará-lo ao velho e bom Machado de Assis é forçar a amizade. E podem me xingar a vontade! Gosto estético não se discute. Tenho um grande amigo que casou com uma mulher no mínimo “esquisita” para a maioria dos mortais. E ele a adora, é feliz ao seu lado. Enfim cada um tem a fera que merece. E nessa selva tem espaço para jamesianos e para indivíduos como eu que preferem uma cerveja gelada no boteco sujo da esquina. Abraços a La Bianca que me mandou uma camiseta de brinde e é vizinha do Bortolotto!!!! Salve Marião!!!!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Carta para Márcia Denser



Certo dia de pessimismo com o andar das coisas escrevi o texto abaixo para a musa Dark Márcia Denser, uma das poucas colunistas atuais que têm uma voz própria. E o incrível é que a musa dark está vendo um horizonte blue.

Preciso escrever, preciso desabafar, todas as minhas utopias me deixaram. Sonhos andando por aí em alguma ilha distante. Boçais no poder. Um “way of life” que nada me diz. Não dá mais para interpretar esse papel que não me diz respeito. Escolas priorizam o “bom comportamento” em detrimento das diferenças. Funcionários públicos dão prioridade ao seu salário no fim do mês. Juízes que deveriam ser intelectuais dão aulas de cretinismo absoluto e arrotam indiferença. E onde estão os mestres e doutores? Para onde vai o dinheiro de tanta formação??? Onde está a produção intelectual “relevante” e capaz de mudar alguma coisa? Nada. Nada. Nada. Só me resta correr e escrever como um Jack Kerouac ensandecido. Ou beber como um Bukowski conformado. Até o velho safado já foi incorporado pelo “mainstrean”. Os “beats” viraram rave. E os poucos que sobraram vivos da década de 70 tem que defender “o seu” no fim do mês para pagar as pensões alimentícias de farras diversas e o cheque especial da padaria. Tá, ta bom! Estou reclamando novamente. É verdade. Vcs tem razão. Todos tem razão menos eu. Perdi mais essa. Só peço que me deixem em paz e longe de toda esta produção intelectual medíocre e dessa política de gabinetes. Não posso mais olhar aquelas revistas na banca pedindo para serem lidas. Quem casou com quem, quem roubou quiçá; a última novidade da mais nova celebridade. E as livrarias que parecem museus de tanta auto-ajuda - capinhas bonitas, coloridas enfileiradas? Não agüento mais tantas falácias, tantas mentiras sob o manto de verdades absolutas. Até ditadores caem, jogadores de futebol aposentam mas a cretinice continua a mesma. É o mercado nivelando por baixo, pedra rasa. E o povo pasmo e embasbacado olhando tudo....o carnaval...o futebol....a religião.......o big brother......e bem legal vc(Márcia Denser) e o Moore ainda acreditarem no poder “revolucionário” do jovem para mudar as coisas....mas não eu. Minha esperança foi para as Ilhas Seychelles ver morcegos gigantes . Chega desse mar de lama. Desses vampiros engravatados! Socorro Márcia!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

É necessário mudar antes que seja tarde!



Mesmo que seja para pior. O importante é não cambiar a vida por nada. É só descobrir o seu real desejo e adequar o lado racional (e um tanto quanto obscuro) ao emocional e lírico. Quer um conselho? Esqueça os conselhos. Leia Nietzsche e Bukowski e seja feliz. Uhhnnn...isso foi um conselho???? Esqueça também. É a tática de Roland Barthes: "desfazer a enfatuação de nossos enunciados, a arrogância de nossa ciência". Sei que é batido (e talvez até piegas) mas não poderia deixar de finalizar este texto sem uma citação de um conhecido traficante de armas e negociante na Abssínia: "O poeta se faz vidente por um longo, preciso e racional desregramento de todos os sentidos".(A.R.).

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

fada é foda


desenho do artista Adriano Monteiro

Depois de um longo e tenebroso solstício retorno para esse espaço quase sideral. Tempos atrás cometi um desatino - a despeito da minha opinião contrária sobre o assunto fiz uma oficina de contos do professor e escritor Menalton Braff. Bukowski em uma de suas coletâneas assim escreveu sobre as "oficinas": “Bukowski, se você fosse dar um curso sobre escrita o que diria para os alunos fazerem? Respondi: - Mandaria todos eles para o hipódromo e os obrigaria a apostar cinco dólares em cada corrida. O cretino achou que eu estava brincando(...)” .Então é isso aí. Melhor definição impossível. Mas como sou adepto da teoria da Marta Suplicy relaxei e "gozei" da melhor maneira possível. Em determinada manhã de sábado o professor pediu que fizessemos um conto de fada. Só podia dar no que deu... - vejam o meu conto, salientando que eu tiro zero mas não perco a piada:

FADA É FODA PORRA!

“Tudo que a mamãe tem do bom, peguei” Rogéria



Mon dieu! Não consigo acreditar que isso está acontecendo. Je suis désolé! E essa sirene irritante? E essa enfermeira horrível usando esse baton Ca-fo-nér-ri-mo? E porque as ambulâncias são brancas? Porque não “pink” ou mesmo um lilás? E eu aqui agonizando. Chiquérrimo não? AGONIZANDO.
Dizem que um pouco antes da morte conseguimos verificar em “flash back” todas as coisas marcantes da vida. É verdade. Lá estou eu atrás da igreja em Guaxupé ainda criança dando pela primeira vez. Para dez garotinhos em fila. Já comecei bem não?
Depois foram as brigas ridículas com meu pai que não suportava a minha “ausência de masculinidade”. Teve também aquele dia em que ele no auge de sua revolta baixou as calças e me comeu também. E me arrombou com força. Até meu pai.....(e se eu disser que gostei ninguém acredita).
Mas essas coisas não mudam. Eu tinha que ser vitima disso tudo. São coisas do destino. Estava traçado na minha curta vida que eu chegaria onde cheguei. Nessa ambulância Ca-fo-nér-ri-ma AGONIZANDO. Uau que chique! Será que vou para o Sírio-libanês?
E quanto mais o sangue esvai sigo nos meus devaneios e visões. Lá estou eu: um rapazinho lindo, olhos azuis, pele rosada, mãos lisas e com aquele ar feminino tão puro, tão angelical... fugindo as pressas para o meu sonho, para minha sina. São Paulo e seus inferninhos, suas boates e sua diversidade. U-la-lá! E no ônibus dando para o motorista na primeira parada para economizar a passagem.
Em São Paulo me travestia de Fada. A fada da Rua Augusta. A transformista mais gostosa do “Foie Gras”, uma casinha de “espetáculos” de uma sordidez exemplar.
Sempre gostei de contos de fada e vestia essa personagem com muito afinco. Um sucesso. Entrava no palco ao som de Olivia Newton-John “hopelessly devoted to you” me sentindo aquele ser sobrenatural cheio de graça, espírito, vontade e beleza. Uma Barbie dançarina seduzindo Peter Pans, Travoltas, Jacarés e Capitães. Uma peruca loira, saia branca rodada, bustiê e bons enchimentos faziam parte do pacote completo. (Sem contar o pacotão frontal propriamente dito)
E não tinha uma noite que eu não saia de lá para programas diversos e era comida....e dava ui....como dava. COMO É BOM DAR! Se eu não estivesse aqui agora nessa ambulância “démodé” com certeza estaria dan-do tu-do. E como boa fada pegando nas varinhas e de preferência nas varonas e gritando com muito êxtase para deleite dos fregueses: “pirlimpimpim! pirlimpimpim!”
Mon dieu! Como fui idiota. Très fou! Nessa vida não se pode brincar com o sagrado.
Aquele senhorzinho de gravata borboleta e suspensório comparecia no “Foie Gras” a semanas. Sempre com o mesmo ar estranho e soturno e com aquele volume no bolso esquerdo que jamais poderia ser um pau duro turbinado por viagra.
Todos os clientes me olhavam com desejo e volúpia. Ele me olhava com ódio, com raiva, como se eu fosse uma aberração da natureza. Tomava duas doses de uísque e ia embora. Nunca dei qualquer importância para aquele inseto desprezível. Quelle Horreur!
Mas hoje não. Hoje aquele senhorzinho chegou com seu olhar raivoso tomou meia dúzia de doses de uísque e no meio da minha performance aproximou-se do palco e falou com voz de choro e olhos lacrimejantes: “- Isso não! FADA É FODA PORRA!” Puxou o velho 38 do bolso esquerdo e descarregou sete balas no meu peito.
Agora estou aqui. AGONIZANDO. E se não me levarem rápido para o Sírio-libanes com certeza amanhã serei manchete de primeira página no Notícias Populares.” FADA ENCONTRA A MORTE EM INFERNINHO DA RUA AUGUSTA” ou quem sabe “ FADA TRANSFORMISTA FAZ SEU ÚLTIMO NÚMERO E VIRA PRESUNTO” Credo! Ca-fo-nér-ri-mo. Será que o Sírio-libanês tem convênio com o SUS? Mon Dieu, espero que sim.

Luiz Tinoco Cabral

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O lobo bobo e a vovó bossa nova




Sei lá, autobiografia em vida me cheira merchandising puro. Ainda mais quando o cara tem apenas cinqüenta anos. Pois é – o cidadão pega um senhor jornalista chamado Cláudio Tognolli e faz mais uma das suas “reinvenções” para dar sentido a tantas coisas sem sentido. E pega no pé do coitado do João Gilberto, da Bossa Nova, Chico Buarque, Herbert Vianna dentre outros. Enaltece Sepúlveda Pertence (cruzes!!!!), seu advogado e a si próprio, achando que é bonito ser o responsável pelo suicídio da própria mãe e pai. O que na verdade é outra grande balela. Outro merchandising. Acha “cool” ainda ser preso, ser perseguido pela polícia, cheirar cocaína sem freios, bater moto em poste dentre outras maluquices. Rebeldia para o Lobão é entrar na gravadora e quebrar o escritório do executivo babaca. Tirar sarro de sargentinho e ser sarcástico com Juiz retrógrado no meio de audiência. Cacilda Becker! Acho que já vi esse filme várias vezes....Alguém precisa avisar o Lobão que os Sex Pistols e os Rolling Stones já fizeram melhor. Com esse calhamaço de papel chamado “50 anos a mil” o Lobão me passou a imagem de um playboy classe média alta mimado dando festinhas na chácara da vovó, dormindo na casa da titia e batendo em bêbado. E o que é pior. Errando o alvo. Está mal de mira! E o engraçado é que é tudo muito engraçado.(Desculpem o pleonasmo. Não resisti!) Cláudio Tognolli capta o “nonsense” do personagem. É a “mágica do absurdo”. Se Lobão não me trouxe nada de novo nesse livro uma coisa é inegável. Ele tem um carisma nato. Gostei mais da concorrida palestra na Feira do Livro de Ribeirão Preto onde demonstra toda a sua capacidade de comunicador. Um verdadeiro Lula do rock and roll. Como literatura “necas de pitibiriba”, “nadica de nada” . E como nessa vida “tudo vale a pena se a alma não é pequena”(F. P.) ao menos uma bandeira que ele levanta é muito... mas muito boa mesmo. A dessacralização da cultura como um todo. Mesmo errando o alvo é útil um artista que não se conforma com as coisas estabelecidas. E é isso aí “a unanimidade é burra”(N.R.) e nessa “lobãotomia” não vou puxar o saco de ninguém. Foi o que deu vontade de escrever nesse espasmo de metralhadora giratória.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Antônio Prata, Reinaldo Moraes e Tinoco no Pinguim




Pois é...aí estou eu confraternizando com dois grandes escritores na Feira do Livro de Ribeirão Preto 2011. Prazer incomensurável. Ainda mais no meu bar predileto.
Bem os caras dispensam apresentação. Ambos já foram devidadamente homenageados neste Blog. E como diria o Ibrahim Sued "ademã que eu vou em frente. De leve"

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Eu sou uma máquina de Pinball





Engraçado....lendo a Clara Averbuck no seu “Máquina de Pinball” me senti como se estivesse lendo uma carta de uma antiga namorada que morava na Paulista com a Consolação. A personagem principal Camila (qualquer semelhança com a escritora é mera coincidência ou nem tanto) é a típica paulistana, suburbana, doidivanas, que embarca nas paixões como quem pega um trem desgovernado a noite no escuro. E dá-lhe anfetaminas e “vódega” com coca-cola. E dá-lhe Strokes e Nirvana para encarar as “bad e good trips”! O livro é uma viagem de Porto Alegre a Londres, São Paulo e Rio de uma pretensa escritora sem um puto no Bolso que gosta de rock, gatos, Fante e Bukowski. Não necessáriamente nessa ordem. Camila em determinado momento esclarece: “preciso me apaixonar toda hora, ou não consigo produzir porra nenhuma”. Depois solta uma tiradinha de efeito para justificar o título do livro: “-Eu sou uma máquina de pinball. – Ah... Ah? – Tem que apertar os botões certos na hora certa para ganhar? Sim!” E é isso aí. E o legal é que dá para puxar de graça na internet! Livro bom para ler no banheiro depois da noitada as 3 horas da manhã . (embriagado e escutando Tom Waits); Isso é claro se vc não conseguir pegar ninguém! E veja a Clarinha beldade aí acima – mulher de personalidade forte...uau! Impressionei.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Misto-quente com Veuve Clicquot em Copacabana



Lolita Pille - autora de Hell



Misto-quente Bukowski – trata de toda a infância , adolescência e juventude do meu escritor favorito. Já é o oitavo livro de Bukowski que leio. A maneira simples, sem compromisso e despudorada que o escritor relata os eventos deveria ser observada por todos os escritores chatos de galocha que acham que a verdadeira arte está no rebuscamento. Enfim uma aula de como o escritor deve analisar seu ofício e avaliar seu estilo. Passamos por todas as dificuldades de um menino que era surrado pelo pai autoritário e boçal; pelo ensino sem relação com os anseios de aprendizado; pela sociedade que não aceita as diferenças, quer de ponto de vista, quer de aparência, quer de postura perante o mundo. E a postura de Bukowski é bem simples. Odeio tudo e a todos! Menos a bebida, literatura e uma boa briga para florear tudo e enaltecer o descontentamento! Muita porrada! Muita sujeira!! Muita sacanagem!! E o engraçado é que o escritor enfoca sem sarcasmo. Tudo é o que é e pronto. Não há razão para mudar o mundo! Num determinado momento do livro chama Deus literalmente para uma briga. Mas para algo pessoal e não coletivo. Sem utopias, sem desespero. O protagonista e alter-ego Henry Chinaski só deseja uma coisa. Um bom lugar para dormir por cinco horas sem ser interrompido. E quando o jovem é expulso de casa pelo pai que joga todos os seus pertences na rua sua única preocupação é com as folhas avulsas de seus primeiros contos que estavam sendo levadas pelo vento. A literatura como vingança! A literatura para mostrar o mundo como ele realmente é, sem zebrinhas listradas , onçinhas pintadas e coelhinhos peludos (valeu Titãs!). Obrigado Hank por mais esta habilidade!

E li Hell de Lolita Pille uma francesinha linda e gostosa que escreve muito bem sobre seus amigos endinheirados e vazios nas altas rodas de Paris. O primeiro capítulo em que ela através da protagonista “Hell” aponta a diferença entre NÓS e VOCÊS em um único fôlego é um dos melhores capítulos que li nos últimos tempos. E o primeiro parágrafo então? "Eu Sou uma putinha. daquelas mais insuportáveis, da pior espécie. Meu credo: seja bela e consumista" ... E então vamos andando em belos carros conversíveis, respirando muita cocaína, tomando “Veuve Clicquot” com muitas roupas da moda e muitos calmantes para suportar o vazio da falta de sentido, amor, sentimentos verdadeiros....O legal é que Lolita não poupa ninguém, nem mesmo ela própria. Postura muito em voga hoje em dia. Sem sangue não há literatura decente.

Também li “Romance de Geração” de Sérgio Sant’ana, um diálogo cortante em um apartamento no Rio entre uma jornalista e um escritor fracassado onde entre muita vodka, sexo e rock and roll e num único dia os personagens vão desfilando todos os sentimentos de frustração e ódio de uma geração tolhida no seu momento mais criativo. A juventude perdida...ou quase. Sei lá , livrinho que virou filme recentemente e foi muito bem recebido em festivais e coisa e tal (já está passando no canal Brasil). Mas achei tudo aquilo meio datado e teatral demais.

Enfim, poderia ficar horas aqui falando dos livros que li e que não representam nada para ninguém ou apenas para uma confraria restrita mas cansei! Cansei desse diálogo infame e jogado a esmo na rede mundial. O mundo já tem informações demais. O negócio agora é a desinformação. Fico com o velho guerreiro “eu vim para confundir não para explicar”. E valendo de um jargão filosófico manjado pra caramba: o importante é a pergunta e não a resposta.

"- Que horas são? -Hoje fez um calorão heim?" Sou eu no elevador descendo para pegar meu filho na escola. Bye Bye Brasil!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Na superfície e/ou no subsolo

Cansei de demonstrar meu espanto toda vez que leio Dostoiéviski. Mas como não demonstrar após ler esse “Notas do Subsolo”? Está praticamente tudo ali...o contraponto entre aqueles que enxergam algo e daqueles que buscam o sucesso pessoal cegamente. A vida difícil , para não dizer desesperadora daquela grande massa de seres humanos que não foram convidados para o banquete do “belo e sublime”. Daqueles que não conseguem se adequar à sociedade. E o espanto ocorre por qual motivo? Ora... Dostoievski escreveu esse livro em 1864 e podemos dizer que pouca coisa mudou. Existem duas grandes massas, duas manadas. A daqueles que vivem adequados a sociedade reinante e cegamente vão levando....e os outros com visão crítica desesperados/arrebatados. A qual grupo vc pertence? E o livro trata exatamente deste conflito. De um homem entre as duas massas ....tentando a inserção mas ao mesmo tempo não se inserindo, rebelando-se contra suas próprias vontades. Pensando uma coisa e fazendo outra, como se o cosmos ou o universo jogassem contra. E não é necessário falar que Nietzsche está ali nas linhas deste belo livro. Não nascemos para o vazio mas ao mesmo tempo a razão não ajuda. A metafísica também não. Vários escritores beberam em sua fonte dentre os quais Kafka é o que mais me vem a mente. O desajuste e o arrebatamento. Algo entre a fúria e o êxtase. O anti-herói que na verdade é esse “clown” inserido em nossas entranhas. Como livrar-se dele? É impossível não observar que no momento em que o personagem principal critica a prostituta/novata Lisa, com todo o moralismo falso está desmoralizando-se bruscamente. Somos todos insetos, ou como diria o Zé Ramalho. Somos um gadão! Povo marcado ou povo feliz? A humilhação liberta! Também impossível não vislumbrar a dignidade do criado Apollon com seus gestos lentos e livres de qualquer opressão. Empregado sim! Submisso não. Sem contar a reunião de aparências no “Hotel Paris” para a despedida de um “vencedor” e a inutilidade da raiva e da amargura perante àqueles que não vêem um palmo diante da proposta geral e irrestrita e porque não dizer “única” para a grande maioria dos fantoches manipuláveis . Pois como disse o escritor através do personagem principal deste livro no patamar mais alto de toda sua sapiência: “o homem é, acima de tudo, um animal que constrói, condenado a buscar conscientemente um objetivo e exercer a arte da engenharia, ou seja, a abrir caminho para si mesmo incessantemente e eternamente, não importando aonde esse caminho o leve”. E aí daqueles que se desviarem...Cuidado ao ler este livro! Vc vai ser obrigado a pensar na vida. Será que vale a pena?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Muta em três atos

Já faz um bom tempo que venho lendo Lourenço Mutarelli. Instigado pelo filme “O Cheiro do Ralo” li “A Arte de Produzir Efeito sem causa”. Gostei da simplicidade de uma estória de um personagem que numa crise de casamento e trabalho volta a morar com o pai. As reminiscências próximas, o clima de desconforto perante a vida etc. Um livro gostoso de ler que muito embora tenha muitos diálogos também tem parágrafos de autor, ou seja, um livro equilibrado. Já no outro livro “O Natimorto” o livro é praticamente um diálogo só que questiona a sanidade e a loucura envolvendo poesia e teatro. Já achei um livro desequilibrado, assim como os personagens principais. Talvez funcione mesmo em teatro (ainda não vi o filme) Já este último “Nada Me Faltará” sinceramente eu achei um porre. Chato de ler, uma estória muito inverossímil; tudo bem flertar com o fantástico e caprichar nos diálogos, mas só diálogos o tempo todo (???). E a estória parece aquela piada que não acaba mais até chegar naquele final irritante. O tempo todo o personagem principal Paulo tenta entender o que aconteceu num breve período em que perdeu a memória, com análises repetitivas, diálogos curtos e inconclusivos sem qualquer profundidade ou análise mais acurada. Os demais personagens também tentam entender entre várias conjecturas, cada qual com seu enfoque mais ou menos igual. Já sei...o autor não quer dar nada mastigado. Que o bom leitor deve usar a imaginação, trabalhar a estória de acordo com suas conveniências...pera aí?! Eu sou o leitor e não o escritor caramba! É óbvio que espero alguma coisa inteligente quando leio um livro e não uma junção de palavrinhas que vai do nada até lugar nenhum. Este livro talvez até funcionasse como estória em quadrinhos, com as imagens auxiliando os diálogos e vice-versa. Mas sinceramente como livro não funciona. É o perigo da profissionalização do escritor. Parece que o escritor não tem o que dizer mas por compromissos profissionais tem que escrever no mínimo 150 páginas para inserir na capa “romance” e soltar nas livrarias. Senti um cheirinho ruim vindo do ralo. Mesmo assim Lourenço Mutarelli é ótimo, muito acima da média. Deveria ter se aprofundado mais quando citou Foucault – poderia relacionar o personagem principal Paulo com o protagonista do livro de Foucault Pierre Rivière. Mas aí o livro acaba e pronto!... Estive na última feira do livro aqui da cidade acompanhando sua oficina/entrevista intermediada pelo meu amigo, músico e jornalista Régis Martins. O cara(Lourenço) é uma figura, um pouco melancólico, um pouco desajustado, mas exatamente por isso intrigante. (em certa momento puxou uma garrafinha com uísque e deu uma talagada no meio da entrevista ah ah!)Só não pode ceder as pressões de Editoras, livreiros etc. Quem sabe nos brindará num futuro próximo com mais uma bela obra. Com todo respeito nesse último livro ele ficou devendo, pelo menos para este pobre escriba de resenhas e críticas. “Nada me faltará” – só uma boa estória e um bom final. Será pedir muito??? O leitor merece e o escritor é capaz.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Desesperar jamais


Não pensem que morri, continuo aqui, incomodando muita gente que acha que a vida resume-se a um holerite no final do mês e um serviço “burrocrático” para passar o tempo e enaltecer a sua “superioridade” fabricada. A vida é mais do que um Corcel 73. E como diria Plínio Marcos indagado se tinha rancor e ódio daqueles que lhe perseguiram, censuraram etc. a resposta é negativa, “- Eu fiz por merecer!”. Dizia o bardo dos excluídos. “DJ- canções para tocar no inferno” de Mário Bortolotto. Livro fácil e agradável; algo assim como tocar e ouvir um blues. O assunto recorrente dos boêmios da noite urbana, da música e da bebida; acompanhado de muita violência e altas filosofias de boteco. Texto muitas vezes em 1ª. pessoa e que demonstra um pouco da vida do autor e seu modo peculiar de encarar as coisas. Estive vendo e ouvindo o Mário numa palestra aqui em Ribeirão. Totalmente recuperado dos tiros que levou em seu teatro numa tentativa frustrada de assalto. Bom vê-lo a todo vapor e agora dando tiros certeiros. Um pouco deprimido é certo mas acho que ele sempre foi assim mesmo. Descobri também um grande escritor Marçal Aquino no seu livro “O Invasor”. Já tinha visto o filme mas não posso deixar de cair naquele famoso lugar comum. “-o livro é muito melhor!”. É a estória de uma sociedade de engenheiros e toda a podridão humana por trás das aparências. A falta de moral e ética do mundo moderno. Com grande maestria Marçal por trás de uma estória aparentemente simples acaba por escrever um verdadeiro tratado da condição humana. E vale a pena ver sua entrevista no “Provocações”. Entre no You Tube. E é isso. Ontem foi meu aniversário e desta feita agradeço sinceramente todos os amigos que lembraram, passaram lá em casa, me ligaram etc. A cerveja como sempre acabou. O que vale nessa vida são as amizades sinceras! E um bom livro de cabeceira. Que cachorro nada! O melhor amigo do homem é o livro. E o título deste post é uma alusão a um dos contos do Marião estranhamente baseado na música de Ivan Lins. Quem diria heim? Marião/Ivan Lins. Dupla improvável. Agora estou lendo o novo do Lourenço Mutarelli “Nada me faltará”. Quando terminar escrevo qualquer coisa aqui.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A mesma praça....

Haruki Murakami - correndo para escrever


Mais um ano começa e com ele as velhas promessas, ler mais, estudar mais fazer mais esporte. Porém como não vou cumpri-las mesmo prometo: não bater o carro até o final do ano; beber moderadamente; comprar bilhetes da mega-sena. A promessa adequando-se às reais possibilidades do compromissado. Começou bem o ano. Estive na Praia Grande onde: meu filho teve disenteria ou sindrome decorrente de inflamação intestinal e na passagem de ano muita...muita gente. Teve os fogos tradicionais, aquela barulheira e coisa e tal... Para compensar o “agito” fui para um Hotel Fazenda em Dourado/SP. Muita cavalgada, muita tirolesa, piscina, sauna, comida calórica, cerveja original e nada...um nada que a muito tempo não me brindava!!! Como é bom fazer nada!!! Absolutamente. Obviamente com um bom livro a tira-colo. Adorei o livro do Haruki Murakami(vide acima) “O que eu penso quando penso em corridas”. A princípio parece um daqueles livros chatos, que simplesmente procuram fazer apologia das corridas e da vida saudável. Nada disso! Murakami faz um belo ensaio sobre a influência da corrida em sua vida de romancista e todas as nuances filosóficas que envolvem as duas atividades. Uma verdadeira paixão insana, com muita verdade uma vez autobiográfico. Teve também a autobiografia do André Agassi, que li pulando mais do que uma bola de tênis. Dispensável mas ao mesmo tempo corajoso. Li alguns livros da Roberta Ferraz que sinceramente não consigo alcançar - a sua cultura específica e sua formação mística, cabalística e lingüística. Sabe aqueles livros que vc lê e fica pensando...pensando...onde a autora quer chegar? Mas o “Fio, Fenda, Falésia” até que tem algumas coisas legais e inteligíveis, como: escrever um livro a três, um projeto conjunto, sem contar o interessantíssimo projeto gráfico das capas e inversões , os cenários praianos e as frases cheias de poesia. Desculpe prima!!! Um dia ainda chego lá. Devo ser um leitor chucro mesmo. Caipirão. Gostei de algumas passagens do livro de uma amiga dela “Acorrentados” Ana Rusche . Bem interessante mas com um roteiro um pouco confuso. Não adianta sou tradicional gosto da coisa mais careta, mais retinha, bem delineada em matéria de roteiro, de história . Fazer o quê??? Uma verdadeira descoberta foi a Graphic Novel “Os Beats”. Ai estou tranqüilo no meu terreno. Volta às origens. A Graphic Novel narra em quadrinhos a vida de vários ídolos que tenho como Ginsberg, Kerouac e o loucaço do Burroughs dentre outros poucos conhecidos do movimento Beat e também a história da banda “The Fugs”. São vários desenhistas e roteiristas de ponta no cenário americano para simplificar e desmistificar o movimento que tem muita coisa boa, mas muita coisa ruim também. A única crítica que faço é que os quadrinhos poderiam ser maiores, a revista poderia ter outra formatação nos moldes grandes, capa dura etc. e não no tamanho caderninho de escola. Não poderia deixar de elogiar(como sempre!!!) Reinaldo Moraes e seu livro de contos “Umidade” , esse é um verdadeiro talento. Escreve fácil, joga na cara todas as inconveniências, toda a podridão da vida sem atalhos. E o conto em que narra as aventuras e desventuras de um pseudo-playboy que casa com uma gostosa virgem é de estarrecer. Vai ter imaginação doentia assim lá na China!!!! E assim começa mais um ano(acho que já falei isso lá em cima). Muita literatura boa para todos!!!! Sem redundâncias....sem enganos. A vida começa aos 42. “Não confie em ninguém com mais de 30/Não confie em ninguém com 32 dentes”. Que texto barroco!!!! Viva o Aleijadinho!!!! E nessa inspiração termino com Gregório de Mattos “E quer meu mal, dobrando os meus tormentos/Que esteja morto para as esperanças/E que ande vivo para os sentimentos.” Sarava iemanjá!!!!!

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