segunda-feira, 11 de abril de 2011

Misto-quente com Veuve Clicquot em Copacabana



Lolita Pille - autora de Hell



Misto-quente Bukowski – trata de toda a infância , adolescência e juventude do meu escritor favorito. Já é o oitavo livro de Bukowski que leio. A maneira simples, sem compromisso e despudorada que o escritor relata os eventos deveria ser observada por todos os escritores chatos de galocha que acham que a verdadeira arte está no rebuscamento. Enfim uma aula de como o escritor deve analisar seu ofício e avaliar seu estilo. Passamos por todas as dificuldades de um menino que era surrado pelo pai autoritário e boçal; pelo ensino sem relação com os anseios de aprendizado; pela sociedade que não aceita as diferenças, quer de ponto de vista, quer de aparência, quer de postura perante o mundo. E a postura de Bukowski é bem simples. Odeio tudo e a todos! Menos a bebida, literatura e uma boa briga para florear tudo e enaltecer o descontentamento! Muita porrada! Muita sujeira!! Muita sacanagem!! E o engraçado é que o escritor enfoca sem sarcasmo. Tudo é o que é e pronto. Não há razão para mudar o mundo! Num determinado momento do livro chama Deus literalmente para uma briga. Mas para algo pessoal e não coletivo. Sem utopias, sem desespero. O protagonista e alter-ego Henry Chinaski só deseja uma coisa. Um bom lugar para dormir por cinco horas sem ser interrompido. E quando o jovem é expulso de casa pelo pai que joga todos os seus pertences na rua sua única preocupação é com as folhas avulsas de seus primeiros contos que estavam sendo levadas pelo vento. A literatura como vingança! A literatura para mostrar o mundo como ele realmente é, sem zebrinhas listradas , onçinhas pintadas e coelhinhos peludos (valeu Titãs!). Obrigado Hank por mais esta habilidade!

E li Hell de Lolita Pille uma francesinha linda e gostosa que escreve muito bem sobre seus amigos endinheirados e vazios nas altas rodas de Paris. O primeiro capítulo em que ela através da protagonista “Hell” aponta a diferença entre NÓS e VOCÊS em um único fôlego é um dos melhores capítulos que li nos últimos tempos. E o primeiro parágrafo então? "Eu Sou uma putinha. daquelas mais insuportáveis, da pior espécie. Meu credo: seja bela e consumista" ... E então vamos andando em belos carros conversíveis, respirando muita cocaína, tomando “Veuve Clicquot” com muitas roupas da moda e muitos calmantes para suportar o vazio da falta de sentido, amor, sentimentos verdadeiros....O legal é que Lolita não poupa ninguém, nem mesmo ela própria. Postura muito em voga hoje em dia. Sem sangue não há literatura decente.

Também li “Romance de Geração” de Sérgio Sant’ana, um diálogo cortante em um apartamento no Rio entre uma jornalista e um escritor fracassado onde entre muita vodka, sexo e rock and roll e num único dia os personagens vão desfilando todos os sentimentos de frustração e ódio de uma geração tolhida no seu momento mais criativo. A juventude perdida...ou quase. Sei lá , livrinho que virou filme recentemente e foi muito bem recebido em festivais e coisa e tal (já está passando no canal Brasil). Mas achei tudo aquilo meio datado e teatral demais.

Enfim, poderia ficar horas aqui falando dos livros que li e que não representam nada para ninguém ou apenas para uma confraria restrita mas cansei! Cansei desse diálogo infame e jogado a esmo na rede mundial. O mundo já tem informações demais. O negócio agora é a desinformação. Fico com o velho guerreiro “eu vim para confundir não para explicar”. E valendo de um jargão filosófico manjado pra caramba: o importante é a pergunta e não a resposta.

"- Que horas são? -Hoje fez um calorão heim?" Sou eu no elevador descendo para pegar meu filho na escola. Bye Bye Brasil!

Nenhum comentário: