segunda-feira, 4 de abril de 2011

Muta em três atos

Já faz um bom tempo que venho lendo Lourenço Mutarelli. Instigado pelo filme “O Cheiro do Ralo” li “A Arte de Produzir Efeito sem causa”. Gostei da simplicidade de uma estória de um personagem que numa crise de casamento e trabalho volta a morar com o pai. As reminiscências próximas, o clima de desconforto perante a vida etc. Um livro gostoso de ler que muito embora tenha muitos diálogos também tem parágrafos de autor, ou seja, um livro equilibrado. Já no outro livro “O Natimorto” o livro é praticamente um diálogo só que questiona a sanidade e a loucura envolvendo poesia e teatro. Já achei um livro desequilibrado, assim como os personagens principais. Talvez funcione mesmo em teatro (ainda não vi o filme) Já este último “Nada Me Faltará” sinceramente eu achei um porre. Chato de ler, uma estória muito inverossímil; tudo bem flertar com o fantástico e caprichar nos diálogos, mas só diálogos o tempo todo (???). E a estória parece aquela piada que não acaba mais até chegar naquele final irritante. O tempo todo o personagem principal Paulo tenta entender o que aconteceu num breve período em que perdeu a memória, com análises repetitivas, diálogos curtos e inconclusivos sem qualquer profundidade ou análise mais acurada. Os demais personagens também tentam entender entre várias conjecturas, cada qual com seu enfoque mais ou menos igual. Já sei...o autor não quer dar nada mastigado. Que o bom leitor deve usar a imaginação, trabalhar a estória de acordo com suas conveniências...pera aí?! Eu sou o leitor e não o escritor caramba! É óbvio que espero alguma coisa inteligente quando leio um livro e não uma junção de palavrinhas que vai do nada até lugar nenhum. Este livro talvez até funcionasse como estória em quadrinhos, com as imagens auxiliando os diálogos e vice-versa. Mas sinceramente como livro não funciona. É o perigo da profissionalização do escritor. Parece que o escritor não tem o que dizer mas por compromissos profissionais tem que escrever no mínimo 150 páginas para inserir na capa “romance” e soltar nas livrarias. Senti um cheirinho ruim vindo do ralo. Mesmo assim Lourenço Mutarelli é ótimo, muito acima da média. Deveria ter se aprofundado mais quando citou Foucault – poderia relacionar o personagem principal Paulo com o protagonista do livro de Foucault Pierre Rivière. Mas aí o livro acaba e pronto!... Estive na última feira do livro aqui da cidade acompanhando sua oficina/entrevista intermediada pelo meu amigo, músico e jornalista Régis Martins. O cara(Lourenço) é uma figura, um pouco melancólico, um pouco desajustado, mas exatamente por isso intrigante. (em certa momento puxou uma garrafinha com uísque e deu uma talagada no meio da entrevista ah ah!)Só não pode ceder as pressões de Editoras, livreiros etc. Quem sabe nos brindará num futuro próximo com mais uma bela obra. Com todo respeito nesse último livro ele ficou devendo, pelo menos para este pobre escriba de resenhas e críticas. “Nada me faltará” – só uma boa estória e um bom final. Será pedir muito??? O leitor merece e o escritor é capaz.

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