quinta-feira, 7 de abril de 2011

Na superfície e/ou no subsolo

Cansei de demonstrar meu espanto toda vez que leio Dostoiéviski. Mas como não demonstrar após ler esse “Notas do Subsolo”? Está praticamente tudo ali...o contraponto entre aqueles que enxergam algo e daqueles que buscam o sucesso pessoal cegamente. A vida difícil , para não dizer desesperadora daquela grande massa de seres humanos que não foram convidados para o banquete do “belo e sublime”. Daqueles que não conseguem se adequar à sociedade. E o espanto ocorre por qual motivo? Ora... Dostoievski escreveu esse livro em 1864 e podemos dizer que pouca coisa mudou. Existem duas grandes massas, duas manadas. A daqueles que vivem adequados a sociedade reinante e cegamente vão levando....e os outros com visão crítica desesperados/arrebatados. A qual grupo vc pertence? E o livro trata exatamente deste conflito. De um homem entre as duas massas ....tentando a inserção mas ao mesmo tempo não se inserindo, rebelando-se contra suas próprias vontades. Pensando uma coisa e fazendo outra, como se o cosmos ou o universo jogassem contra. E não é necessário falar que Nietzsche está ali nas linhas deste belo livro. Não nascemos para o vazio mas ao mesmo tempo a razão não ajuda. A metafísica também não. Vários escritores beberam em sua fonte dentre os quais Kafka é o que mais me vem a mente. O desajuste e o arrebatamento. Algo entre a fúria e o êxtase. O anti-herói que na verdade é esse “clown” inserido em nossas entranhas. Como livrar-se dele? É impossível não observar que no momento em que o personagem principal critica a prostituta/novata Lisa, com todo o moralismo falso está desmoralizando-se bruscamente. Somos todos insetos, ou como diria o Zé Ramalho. Somos um gadão! Povo marcado ou povo feliz? A humilhação liberta! Também impossível não vislumbrar a dignidade do criado Apollon com seus gestos lentos e livres de qualquer opressão. Empregado sim! Submisso não. Sem contar a reunião de aparências no “Hotel Paris” para a despedida de um “vencedor” e a inutilidade da raiva e da amargura perante àqueles que não vêem um palmo diante da proposta geral e irrestrita e porque não dizer “única” para a grande maioria dos fantoches manipuláveis . Pois como disse o escritor através do personagem principal deste livro no patamar mais alto de toda sua sapiência: “o homem é, acima de tudo, um animal que constrói, condenado a buscar conscientemente um objetivo e exercer a arte da engenharia, ou seja, a abrir caminho para si mesmo incessantemente e eternamente, não importando aonde esse caminho o leve”. E aí daqueles que se desviarem...Cuidado ao ler este livro! Vc vai ser obrigado a pensar na vida. Será que vale a pena?

Nenhum comentário: