Cansei de demonstrar meu espanto toda vez que leio Dostoiéviski. Mas como não demonstrar após ler esse “Notas do Subsolo”? Está praticamente tudo ali...o contraponto entre aqueles que enxergam algo e daqueles que buscam o sucesso pessoal cegamente. A vida difícil , para não dizer desesperadora daquela grande massa de seres humanos que não foram convidados para o banquete do “belo e sublime”. Daqueles que não conseguem se adequar à sociedade. E o espanto ocorre por qual motivo? Ora... Dostoievski escreveu esse livro em 1864 e podemos dizer que pouca coisa mudou. Existem duas grandes massas, duas manadas. A daqueles que vivem adequados a sociedade reinante e cegamente vão levando....e os outros com visão crítica desesperados/arrebatados. A qual grupo vc pertence? E o livro trata exatamente deste conflito. De um homem entre as duas massas ....tentando a inserção mas ao mesmo tempo não se inserindo, rebelando-se contra suas próprias vontades. Pensando uma coisa e fazendo outra, como se o cosmos ou o universo jogassem contra. E não é necessário falar que Nietzsche está ali nas linhas deste belo livro. Não nascemos para o vazio mas ao mesmo tempo a razão não ajuda. A metafísica também não. Vários escritores beberam em sua fonte dentre os quais Kafka é o que mais me vem a mente. O desajuste e o arrebatamento. Algo entre a fúria e o êxtase. O anti-herói que na verdade é esse “clown” inserido em nossas entranhas. Como livrar-se dele? É impossível não observar que no momento em que o personagem principal critica a prostituta/novata Lisa, com todo o moralismo falso está desmoralizando-se bruscamente. Somos todos insetos, ou como diria o Zé Ramalho. Somos um gadão! Povo marcado ou povo feliz? A humilhação liberta! Também impossível não vislumbrar a dignidade do criado Apollon com seus gestos lentos e livres de qualquer opressão. Empregado sim! Submisso não. Sem contar a reunião de aparências no “Hotel Paris” para a despedida de um “vencedor” e a inutilidade da raiva e da amargura perante àqueles que não vêem um palmo diante da proposta geral e irrestrita e porque não dizer “única” para a grande maioria dos fantoches manipuláveis . Pois como disse o escritor através do personagem principal deste livro no patamar mais alto de toda sua sapiência: “o homem é, acima de tudo, um animal que constrói, condenado a buscar conscientemente um objetivo e exercer a arte da engenharia, ou seja, a abrir caminho para si mesmo incessantemente e eternamente, não importando aonde esse caminho o leve”. E aí daqueles que se desviarem...Cuidado ao ler este livro! Vc vai ser obrigado a pensar na vida. Será que vale a pena?
Nenhum comentário:
Postar um comentário