Geralmente nesse espaço coloco em foco análises superficiais de livros. Aos poucos fui abandonando a análise de músicas, discos, artigos de revista, shows e outras manifestações culturais. Estou errado! O site é de literatura e afins e não há qualquer motivo para priorizar a arte literária. Tudo é arte, tudo é vida, tudo é imitação da vida e tudo pode servir de enredo para escola de samba. Entendeu? Toda essa introdução é para indicar um artigo que reputo essencial para pretensos escritores e ávidos leitores. “Ler um romance” de Orhan Pamuk na revista Piauí de novembro, número 62. É um textão em todos os aspectos e se você tiver fôlego lá poderá aprender a diferença constatada por Schiller entre o escritor ingênuo e o sentimental e aumentar o seu arcabouço crítico quando estiver com os olhos enterrados em mais um calhamaço arcaico de papel ou com os olhinhos vidrados na tela do seu tablet. Marcelo Mirisola tem reservas em face da revista Piauí. Na minha modesta opinião ele também está errado. É uma das poucas revistas que nos permite um texto mais tranqüilo, estudado e longe da ejaculação precoce reinante nas fábricas de texto(bordéis?) espalhadas por aí. Sou contra misturar política com arte e a submissão artística ao capital. Mas definitivamente não vou deixar de ler ou escrever em uma determinada revista só porque ela é patrocinada por este ou aquele banco, por aquela ou aquela mesma empresa do ramo petrolífero. Acho que nesse ponto talvez eu me enquadre na classificação de Schiller como um escritor/leitor ingênuo. Fazer o quê!? Orhan Pamuk tem a tranqüilidade neste belo ensaio em demonstrar todas as nove "operações mentais" elaboradas por nossa mente durante a leitura de um livro de ficção citando e usando como exemplo livros fundamentais como “Don Quixote” de Cervantes, “Anna Kariênina” de Tolstoi, “A montanha Mágica” de Thomas Mann, “A Educação Sentimental” de Flaubert dentre outros. Toda essa “operação mental” (ler) visa uma busca incessante por uma identidade própria/nossa com o romance, “a idéia de um centro” que é, segundo Pamuk, o objetivo de todo o leitor. O texto ainda traz dicas fundamentais como essa: “Quando lemos um romance, a moralidade deve ser parte da paisagem, não algo que emana de dentro de nós e se volta contra as personagens”. Deixe a moral de lado meu caro; Não fique julgando o Raskólnikov de “Crime e Castigo” de Dostoievski como um membro de um júri em um regime ditatorial.Aliás, se me permitem, ando de saco cheio de Juízes implacáveis e acima de qualquer suspeita que peidam em seus gabinetes e botam a culpa no réu.(risos). Entendo que ao ler qualquer livro devemos deixar os nossos preconceitos de lado inserindo-se na paisagem como um homem invisível, uma névoa chegando devagar...devagarinho....como uma música do Martinho.(não resisti a esta deplorável riminha) Como muito bem concluído por Pamuk “cada frase de um bom romance suscita em nós um senso de conhecimento profundo e essencial do que significa existir no mundo”. Precisa dizer mais alguma coisa? Corra para a banca mais próxima e de quebra leia na mesma revista o ótimo texto de Ricardo Lísias que tem como mote às diferentes matizes entre a dor e a solidão após uma perda ou o esgotamento de uma fase. O título do texto é “Divórcio”. Bem sugestivo...
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