quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Quinzinho, Raul, Paulo Coelho uma prima e eu




Uma vez num bar ainda jovem, conversava com uma prima mais velha todo animado falando em escrever uma música, um livro, quem sabe lançar um poema. Eu era, como disse, jovem e ainda acreditava nas coisas....
Foi quando ela me disse em tom desiludido e profundo que já tentou tudo isso e terminou num apartamento/quarto/sala dando aulas de inglês para débeis mentais da classe média.
Porra, cacete, minha prima predileta, aquela que assistiu um Show do Queen em um teatro para 50 pessoas em Londres, que tocava violão 8 horas por dia e separou do marido americano pela arte, pelos amigos, quem sabe para escrever uma música, um livro, um poema...;(???)
Sem esquecer que ela morou nos Estados Unidos, que flertou com Woodstok, que era a cara da Rita Lee e fazia uns solos do Yngie Mallmsteen.
“- Dou aulas de inglês para débeis mentais da classe média e vejo o meu filho crescer ; e vou todo mês buscar a pensão alimentícia no Banco do Brasil, faço o supermercado e sonho com um aumento na pensão para o ano que vem”
...ela não sabe, sequer se lembra, mas naquele dia criou mais um iconoclasta desiludido, mais um ser autômato em busca do maldito salário no final do mês.
Eu tinha 15 anos, já bebia cerveja de forma constante, usava um maldito cabelo na testa e era um pretenso artista. Assistia filmes de arte no Cine Clube Cauim, (Fellini, Godard, Antonioni) e acreditava que o mundo podia ser mudado e que “o destino é a gente que faz” e outras babaquices adolescentes que hoje só o Paulo Coelho acredita.
Mas eu acreditava de coração porra! E tinha 15 anos (ao contrário do Paulo Coelho).
Desde então a cerveja começou a amargar em minha boca. Passei para o uísque (o demônio engarrafado). Chafurdei na lama, lambi paredes, beijei sarjetas, mijei em becos sujos. Dormi com mulheres suspeitas, sem carinho; abusei da boa vontade de outras. Chorei sozinho nos quartos escuros.
Foi quando então fiz cursinho, depois Faculdade, casei, tive um filho, me tornei um cidadão respeitado (“ganhando quatro mil cruzeiros por mês”) e escondi no fundo do baú as músicas os livros os poemas e as pretensões.
Neste intervalo Raul Seixas morreu!
Hoje sigo firme para a aposentadoria, tomando a cerveja amarga e o uísque falso, curando ressacas com bebedeiras, na esperança de passar meus dias na praça XV dando comida aos pombos, lendo os classificados e jogando dominó.
Mais um cafezinho(da Única) por favor...um chopinho do Pinguim...um cigarro quem sabe...
- Olááá Quinzinho....tudo bem????

Nenhum comentário:

Arquivo do blog