quinta-feira, 2 de outubro de 2008

vagabundos iluminados com o pé na estrada





"agosto finalmente chegou com um golpe que fez tremer a minha casa e trouxe pouco augúrio de agosticidade. Fiz gelatina de framboesa da cor de rubis ao sol poente."



Acordei cedo hoje e li meu horóscopo: "dia ótimo para você se conectar com as altas instâncias, cultivando a arte, a espiritualidade e as formas de união sagrada com a natureza e o universo".
Então terminei de ler o livro supra "Vagabundos Iluminados" de Jack Kerouac, que estabelece exatamente esta conexão.
O duro é trabalhar depois desta passagem do livro:"seu único problema é nunca ter aprendido a visitar lugares assim, você permitiu que o mundo o afundasse no esterco"
ou esta: "este pobre rapaz, dez anos mais novo do que eu esqueceu, durante os recentes anos de bebedeira e decepção, todos os ideais e prazeres que conhecia anteriormente, ele não liga a mínima para o fato de não ter dinheiro nenhum, tudo que necessita está dentro de sua mochila"
e por aí vai...; deu para sentir o climão flower power? Os beats é que começaram tudo. Woodstok , hippies, beatles etc não existiriam sem Alan Ginsberg, Jack e Cia que estão lado a lado no Beat Museum nos EUA.
O livro é uma versão radical/zen/budista de outro livro que li em 1994 "On the road" Pé na Estrada também de Jack Kerouac.
Aliás já escrevia resenhas dos livros que lia naquela época - vejam uma transcrição dos meus arquivos: "Soltando as palavras como Jack Kerouac, em seu livro "on the road". Total liberdade de expressão, exatamente o que estou a precisar agora. Sair da linha, sonhar um pouco, esquecer o dinheiro, os compromissos e as responsabilidade.
Com muito Jazz, estradas, velocidade, bebida e um descantamento com a vida fútil, a geração "beat" tem neste livro uma cartilha para um modo de ser diferente, inconsequente e livre, uma válvula de escape do capitalismo.
Os ídolos são pessoas errantes, andarilhos, cantores e músicos de bares suspeitos, mulheres idem(suspeitas), mendigos e...pilotos de corrida.
O ideal é passar pelo mundo sem fincar raízes ou constituir famílias tradicionais. O correto é correr cidades, conhecer pessoas fantásticas, diversas e em quantidade.
Bebida e comida barata, hotéis à preços módicos, caronas, empregos simples para juntar dinheiro e cair na estrada.
Um mondo ideal, uma leitura fascinante pela singeleza e inocência de um escritor que acreditou com veemência numa utopia. Aula de vida para os "inhos". Explico: "menininhos" "mauricinhos" que acreditam ser a vida um "Audi" na Garagem e férias na Disneylandia.
Enfim, o livro é um convite ao SONHO tão distante do americam dream " LTC 1994
Agora lendo o outro livro de Kerouac impossível não comparar com este meu primeiro relato, minha primeira impressão. Continua tudo lá...as caronas, as viagens, as pessoas fantásticas, comida barata o sexo desenfreado...com dois fatores novos e que sempre fizeram a minha cabeça: NATUREZA E MONTANHAS.
O Prazer de escalar montanhas: Vide mais uma transcrição - "para mim uma montanha é um Buda. Pense na paciência, centenas de milhares de anos só paradas ali perfeitamente silenciosas e como se estivessem rezando por todas as criaturas vivas naquele silêncio e só esperando que a gente acabasse com toda a nossa complicação e nossas bobagens".
Pelas citações acima dá para ver porque a maioria dos especialistas e fãs de literatura beat consideram o "Vagagundos" como o melhor romance de Kerouac.
Tesão puro. E não é o tesão do Aurélio, mas o tesão pela vida!!!!! I O que esta geração "beat" com certeza tinha de sobra.
O duro é saber que enquanto estes caras curtiam a vida os Republicanos faziam a festa...culminando neste "Bush", nesta guerra imbecil do Iraque e tantas outras atrocidades do momento atual.
Mas vá lá... ninguém é de ferro né: e politica e cultura sempre ficaram um pouco dissociadas!
O livro conta a história de Ray Smith que insatisfeito com seu "way of life" conhece Japhy Rider, um montanhista zen/budista que lhe apresenta a outra face da moeda da consumista sociedade americana.
Pasmem! O livro é de 1958 e por consequência do que falei acima é de uma atualidade estarrecedora. Será que ainda existe espaço para tanta utopia????
VAMOS SONHAR MINHA GENTE!!!!!!
E por falar em sonho acabo de ler outro livro da minha sonhadora predileta Hilda Hilst "A obscena Senhora D" que em determinado momento do livro e suas elocutiones define bem o que é viver: "viver é afundar em cada caminhada" "a vida foi isso de sentir o corpo, contorno, vísceras, respirar, ver, mas nunca compreeender".
Mas aí e outra estória para outro post! Beijo na testa!
E encerro com uma oração de Hilda Hilst/Casa do Sol/1981:
"Livrai-me, Senhor, dos abestados e dos atoleimados"

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