quinta-feira, 2 de outubro de 2008

o cinema novo morreu ou será que fui eu?


O estudante de cinema fã de Glauber saiu de São Paulo aquela manhã no vôo das 7:00 e foi para o Festival de Cinema de Brasília. Gastou todo o seu dinheiro na viagem;
Chegando no Espaço Cultural Renato Russo um suntuoso tapete vermelho lhe aguardava! Canapés, bebidinhas coloridas, gente descolada com cavanhaques aparados e carecas reluzentes; pessoas todas muito parecidas fazendo o estilo “intelectual cool de boutique”.
Não era nada disto que esperava encontrar na Capital Federal. Deslocado e com sua roupa sem grife começou a pensar quando aquelas pessoas iriam adquirir consciência da pobreza e sair do estado de inércia social.
A primeira exibição mostrava um filme sobre a “bossa nova” para ele no pior estilo hollywoodiano. O segundo filme era uma comédia romântica em que atores conhecidos das novelas macaqueavam aquela velha estória repetida várias vezes e que no fundo só servia para duas coisas: exibir caras e bundas e produtos para serem usados nas caras e bundas . Os descolados aplaudiam em pé!.
Cansado e deprimido saiu para o saguão para ler um jornal: “Favelados insistem em comer carne condenada” Uau! Era uma noticia de peso sobre uma carne estragada enterrada no aterro sanitário de Brasília junto com rejeitos hospitalares e desenterrada pelos favelados locais que a dois dias patrocinavam na favela um estranho churrasco à despeito do risco de intoxicação. A fome falara mais alto. E isso tudo a poucos quilômetros do Festival acético e bem comportado em que estava. Da civilização à barbárie. Do” mundinho” ao” mundão real”.
O estudante de cinema fã de Glauber com sua câmera super 8 em riste e com uma idéia na cabeça partiu para a favela para compreender a fome e sua estética tão enaltecida pelo cinema novo.
Esperava encontrar a cultura da fome minando a sua própria estrutura em busca de uma estética capaz de expressar a realidade e o imaginário brasileiro e que ao mesmo tempo causasse um impulso transformador e revolucionário. A miséria dourada e engajada de Jorge Mautner.
Mas...que desilusão....
Chegando lá deparou-se com churrasqueiras improvisadas em latões imundos e uma carne seca e salgada sendo repartida pelos moradores do local numa intangível festa. Rostos tristes e conformados sem qualquer esperança perambulando pelo chão de terra batida e árida. Jorge Mautner? Glauber? Quem?
Logo relacionou-se com eles que mesmo desconfiados lhe ofereceram a malfadada carne. Lembrou-se de Glauber e que para compreender a fome era necessário “violentar a percepção, os sentidos e o pensamento”. Aceitou em decorrência e até que a carne não era ruim.
Porém saciada a fome física a realidade nua e crua veio de súbito no comentário de um favelado que observando a sua câmera em riste lhe perguntou “– E aí moço! Vai sair na Globo?”
Triste concluiu que não é chegada a hora da revolução na América Latina. A consciência da própria pobreza ainda não chegou quer no Festival dos descolados, quer na Favela dos desgraçados. Na verdade “somos todos iguais, braços dados ou não”. (já dizia Geraldo Vandré)
O estudante de cinema fã de Glauber, para desopilar e desintoxicar, passou o resto da noite com uma terrível dor de estômago no centro de saúde local voltando no dia seguinte para São Paulo com sua câmera entre as pernas.
Largou a Faculdade de Cinema e pichou no muro do MIS, (Museu da Imagem e do Som) “Aqui jaz Glauber Rocha”
Enquanto isso... o Presidente Lula(que até então não tinha entrado na estória) comia uma chuleta temperada à moda mineira, cozida na grelha e acompanhada de uma boa porção de fritas, arroz, feijão e salada no Restaurante Gijo’s em São Bernardo do Campo.

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