Em tempos de Cuba na ponta da língua da mídia e de ponto final da era Fidel Castro(será?), necessário resgatar esse escritor que demonstrou toda a instabilidade da ilha, seu regime de ditadura socialista bem como toda a instabilidade daqueles que lá residem, inclusive o escritor, sem deixar de ressaltar o fascínio pela ilha. Tipo:"me bate mas eu te amo".
Em "Trilogia Suja de Havana" temos um relato visceral da vida do próprio escritor, cercado de sexo, excrementos e muita bebida e drogas; acompanhamos o mesmo pelas suas "bad e good trips" pelas ruas sujas de Havana, bem como pelos corredores dos edifícios do Malecon, limpando a bunda com jornal e jogando o papel nas coberturas improváveis de tempos de outrora, levando a vida possível, passeando em carros da década de 50, fazendo bicos, se prostituindo, e buscando o prazer imediato para satisfazer a falta de compromisso com o futuro, o ápice do descompromisso com a vida e seus objetivos.
"Sexo não é para gente escrupulosa. Sexo é um intercâmbio de líquidos, de fluidos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen, merda, suor, micróbios, bactérias. Ou não é. Se é só ternura e espiritualidade etérea, reduz-se a uma paródia estéril do que poderia ser. Nada".
Não ia dizer mas vá lá! A comparação com Bukowski e Henri Miller é inevitável, porém com uma dose de latinidade, cores mais vivas e calientes.
Num segundo tempo me deparei com "O Rei de Havana" onde um anti-herói fictício que perambula pelo mesmo ambiente miserável de Havana e cercanias porém com um texto meio realista com momentos de realismo fantástico, situações fictícias beirando o absurdo da degradação física e moral que fatalmente culmina com a morte do protagonista.(sem qualquer moralismo – aponta apenas a verdade nua e crua).
Não gosto de ser desmancha prazeres, mas para aqueles que não vão ler o livro , e para aqueles que vão(sacanagem!) apresento o seu final, que para mim é o que ficou e é uma síntese do que acabo de falar:
"Sua agonia durou seis dias com suas noites. Até que perdeu os sentidos. Por fim morreu. Seu corpo já estava apodrecendo por causa das úlceras feitas pelos ratos. O cadáver se corrompeu em poucas horas. Chegaram os urubus. E o devoraram pouco a pouco. O festim durou quatro dias. Foi devorado lentamente. Quanto mais apodrecia, mais gostavam daquela carniça. E ninguém jamais ficou sabendo de nada."
Livro menor do autor comparado ao anterior, mas de leitura obrigatória para compreender a trajetória de Pedro Juan Gutierrez.
Agora retomamos o texto em 1ª pessoa. O autor já um pouco mais famoso(Até o Supla se apropriou indevidamente do "papito") mas sem abandonar sua Cuba, escreveu o relato de sua experiência com uma fã sueca e seus dias no 1º mundo como "escritor convidado". O livro "Animal Tropical" para mim é um dos melhores. Pedro Juan narra de forma hilária, muitas vezes trágica, às diferenças existentes entre o "Animal", latino e o "humanismo" Europeu, ressaltando as diferenças em todos os campos, principalmente no campo da sexualidade.
Imaginem um cubano nú, fumando charuto e bebendo rum na sacada de um edifício de três andares de sua amante sueca em Estocolmo? É como se o Homem das Selvas retornasse à civilização.
E nesse jogo de contrastes e diferenças o livro se sustenta muito bem, culminando com o retorno do protagonista e escritor à sua adorada e deteriorada Cuba não suportando o "bem estar" asséptico do mundo nórdico e Europeu, do 1º mundo do tédio, das facilidades da internet, e-mail(até isso é novidade para ele), das ações indenizatórias, da falta da liberdade de expressão.
No fundo temos que fazer uma alto crítica já que de certa forma também somos animais tropicais e Cuba não está tão distante de nossa realidade. (eles não tem pasta de dente, desodorante, mas pelo menos têm saúde, educação, cinema...) . Quanto saio do Brasil também tenho a mesma sensação de deslocamento, de apego a toda esta bagunça, esta esculhambação generalizada. Um livro que trata também desse assunto, porém de forma romanceada é Budapeste, de Chico Buarque, essa coisa do estrangeiro, do viajante...mas aí é outra estória.
Preciso retomar a leitura de Gutierrez, já que estou um pouco por fora das suas produções atuais. Já saiu o "Mucho Corazón"? Comentários e dicas por favor!
Um pouquinho de informação: "Pedro Juan Gutiérrez(1950, Cuba) foi vendedor de sorvetes, soldado, instrutor de natação, trabalhador rural, locutor de rádio e jornalista entre outros ofícios É escultor, pintor e autor de vários livros de poesia. Com Animal Tropical , conquistou o Prêmio García-Ramos de Romance 2000, para obras em língua espanhola"
"Vamos dormir que as visitas querem ir embora" Fuad Hanna
Em "Trilogia Suja de Havana" temos um relato visceral da vida do próprio escritor, cercado de sexo, excrementos e muita bebida e drogas; acompanhamos o mesmo pelas suas "bad e good trips" pelas ruas sujas de Havana, bem como pelos corredores dos edifícios do Malecon, limpando a bunda com jornal e jogando o papel nas coberturas improváveis de tempos de outrora, levando a vida possível, passeando em carros da década de 50, fazendo bicos, se prostituindo, e buscando o prazer imediato para satisfazer a falta de compromisso com o futuro, o ápice do descompromisso com a vida e seus objetivos.
"Sexo não é para gente escrupulosa. Sexo é um intercâmbio de líquidos, de fluidos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen, merda, suor, micróbios, bactérias. Ou não é. Se é só ternura e espiritualidade etérea, reduz-se a uma paródia estéril do que poderia ser. Nada".
Não ia dizer mas vá lá! A comparação com Bukowski e Henri Miller é inevitável, porém com uma dose de latinidade, cores mais vivas e calientes.
Num segundo tempo me deparei com "O Rei de Havana" onde um anti-herói fictício que perambula pelo mesmo ambiente miserável de Havana e cercanias porém com um texto meio realista com momentos de realismo fantástico, situações fictícias beirando o absurdo da degradação física e moral que fatalmente culmina com a morte do protagonista.(sem qualquer moralismo – aponta apenas a verdade nua e crua).
Não gosto de ser desmancha prazeres, mas para aqueles que não vão ler o livro , e para aqueles que vão(sacanagem!) apresento o seu final, que para mim é o que ficou e é uma síntese do que acabo de falar:
"Sua agonia durou seis dias com suas noites. Até que perdeu os sentidos. Por fim morreu. Seu corpo já estava apodrecendo por causa das úlceras feitas pelos ratos. O cadáver se corrompeu em poucas horas. Chegaram os urubus. E o devoraram pouco a pouco. O festim durou quatro dias. Foi devorado lentamente. Quanto mais apodrecia, mais gostavam daquela carniça. E ninguém jamais ficou sabendo de nada."
Livro menor do autor comparado ao anterior, mas de leitura obrigatória para compreender a trajetória de Pedro Juan Gutierrez.
Agora retomamos o texto em 1ª pessoa. O autor já um pouco mais famoso(Até o Supla se apropriou indevidamente do "papito") mas sem abandonar sua Cuba, escreveu o relato de sua experiência com uma fã sueca e seus dias no 1º mundo como "escritor convidado". O livro "Animal Tropical" para mim é um dos melhores. Pedro Juan narra de forma hilária, muitas vezes trágica, às diferenças existentes entre o "Animal", latino e o "humanismo" Europeu, ressaltando as diferenças em todos os campos, principalmente no campo da sexualidade.
Imaginem um cubano nú, fumando charuto e bebendo rum na sacada de um edifício de três andares de sua amante sueca em Estocolmo? É como se o Homem das Selvas retornasse à civilização.
E nesse jogo de contrastes e diferenças o livro se sustenta muito bem, culminando com o retorno do protagonista e escritor à sua adorada e deteriorada Cuba não suportando o "bem estar" asséptico do mundo nórdico e Europeu, do 1º mundo do tédio, das facilidades da internet, e-mail(até isso é novidade para ele), das ações indenizatórias, da falta da liberdade de expressão.
No fundo temos que fazer uma alto crítica já que de certa forma também somos animais tropicais e Cuba não está tão distante de nossa realidade. (eles não tem pasta de dente, desodorante, mas pelo menos têm saúde, educação, cinema...) . Quanto saio do Brasil também tenho a mesma sensação de deslocamento, de apego a toda esta bagunça, esta esculhambação generalizada. Um livro que trata também desse assunto, porém de forma romanceada é Budapeste, de Chico Buarque, essa coisa do estrangeiro, do viajante...mas aí é outra estória.
Preciso retomar a leitura de Gutierrez, já que estou um pouco por fora das suas produções atuais. Já saiu o "Mucho Corazón"? Comentários e dicas por favor!
Um pouquinho de informação: "Pedro Juan Gutiérrez(1950, Cuba) foi vendedor de sorvetes, soldado, instrutor de natação, trabalhador rural, locutor de rádio e jornalista entre outros ofícios É escultor, pintor e autor de vários livros de poesia. Com Animal Tropical , conquistou o Prêmio García-Ramos de Romance 2000, para obras em língua espanhola"
"Vamos dormir que as visitas querem ir embora" Fuad Hanna
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