terça-feira, 10 de março de 2009

Tristessa de quem não leu



Mais um livro de Jack Kerouac, uma ode ao amor por uma “junkie” decaída chamada Tristessa; uma mexicana índia com olhar de Madona viciada em morfina. Entre tremores, bebedeiras, quebradeiras, num México perdido em cidades distantes de qualquer mundo urbano, conversando com galinhas, porcos e animais domésticos diversos, em busca de um pico, de uma cama....a espera da morte.
Na verdade neste livro somos obrigados a perceber que Jack Kerouac na verdade não era muito normal mesmo. Sua prosa espontânea e sua técnica de “fluxo de consciência” nos mostra toda sua loucura. Parece em determinados momentos que estamos conversando com um daqueles americanos cabeludos, cheios de cartazes coloridos que anunciam o fim do mundo e/ou a invasão da terra por ovnis e alienígenas.
O livro todo é um poema: “nunca é suave o chuviscar que não perturbou a calma”
Num País distante, num México inexistente: “os xales azul-claros das mulheres, os xales roxo-escuros, os lábios das pessoas levemente rosados em meio ao azul geral do alvorecer”
Escrito por um louco chamado Jack Kerouac que na sua juventude foi afastado da marinha por “razões psiquiátricas” . O livro é baseado em episódio de sua própria vida; quando perambulou pelo México com o amigo Allen Ginsberg e teve um caso com uma índia chamada Esperanza.
Agora não consigo entender como um cara que teve o budismo como bandeira e escreveu “On the road”, resolveu no fim da vida apoiar a Guerra do Vietnã e criticar os hippies.(???)
Porém que se dane a política e “de médico e de louco todo mundo tem um pouco”. Afinal quem nesse mundo é totalmente coerente??? Quem não teve vontade de flertar um pouco com o imponderável?
Fico com minha devoção aos beats, Allen Ginsberg e Jack Kerouac – que nos brindam com constância com parágrafos “loucos” como este:
"Vou acender velas para a Madona, vou pintar a Madona e comer sorvete, anfetamina e pão – “Maconha com carne de porco”, como disse Bhikku Booboo – Vou para o sul da Sicília no inverno e pintar lembranças de Arles – Vou comprar um piano e me mozartear – vou escrever histórias tristes e compridas sobre pessoas na lenda de minha vida – Este é meu papel no filme, vamos ouvir o seu.”
Isto é apenas... literatura.

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