Leio na Ilustrada de 11 de junho uma entrevista com Irvine Welsh, autor do celebrado “Trainspotting” que está lançando agora o livro de contos “Requentando Repolhos”. O entrevistador Fábio Victor dá um tom de “déjà vu” na obra do cara, que diz que é isto mesmo, tem predileção pelos mesmos temas. Mas a frase melhor foi quando respondeu sobre o que gosta de ler ou ouvir: “Na era do iTunes e da Amazon, a idéia de gostar de algo é secundário. Não consumimos cultura porque gostamos, mas porque está lá”. Será possível? Ainda outro dia estávamos discutindo isso. Que o papel da arte se inverteu. O escritor e dramaturgo Roberto Alvim com o seu teatro do trans-humano quer que o espectador tenha uma experiência alheia ao gostar ou deixar de gostar da peça logo na saída do teatro. Prefere um lapso de memória no espectador logo após a encenação. Uma experiência ímpar momentânea e só, sem maiores conseqüências ou lembranças. O objetivo pelo visto é despertar algo no inconsciente...ou não, tanto faz. Mas será que a arte é só isso? Será que o nosso gostar ou não gostar é tão dispensável assim? Já Welsh propõe a cultura por osmose ou seja a tecnologia coloca a obra na sua mão e você consome como pipoca. Diante desse ponto de vista desnecessária a crítica literária ou musical. A porcaria está lá então vamos consumir. A pérola também está lá então vamos consumir. Gostar ou não gostar é dispensável. Pode mais quem pode mais. Partindo dessa premissa a liberdade é total, sendo uma verdadeira perda de tempo ficar aqui escolhendo palavras e tentando um diálogo com você. É.....você mesmo que está me lendo agora! Minto. Não acredito nessa baboseira toda. Irvin Welsh está rico, casou novamente, mudou para Miami, não tem mais saco para ficar dando entrevistas e apresentando de mão-beijada suas predileções. Roberto Alvin quer os holofotes, quer criar algo novo, quer aparecer pela transgressão, pela subversão, pela ruptura. Louvável como atitude, como aproximação do teatro às artes plásticas, ao abstracionismo, mas execrável para o saco do coitado do espectador, que numa obra de arte quer estética, mensagem e entretenimento, tudo ao mesmo tempo agora. O espectador quer pensar, entender a seu modo, apropriar-se conscientemente da obra, trazer para a sua vida e participar. De minha parte como leitor e espectador não vou resistir a um trocadilho: os malucos que me perdoem mas gostar é fundamental.
ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?
Há uma semana
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