Sempre me dei bem com pessoas de origem japonesa. Admiro o povo Japonês, sua disciplina, sua obstinação, seu poder de observação, seus silêncios que dizem tudo bem como a acurada visão simples da morte, da vida...Haruki Murakami talvez seja o maior escritor de “best-sellers” japonês porque além de escrever muito bem, tem uma pegada pop sempre temperada com muitas citações de fenômenos culturais recentes. Também é desprovido de afetação intelectual ou metafísica o que é um alento nesse mundo moralista e doutrinador. Esse livro “Após o amanhecer” é uma visão melancólica da madrugada e seus tipos solitários, nesse mundo multifacetado onde as pessoas não param para ver o outro, o outro lado dos estranhamentos. Os diálogos entre dois jovens que se encontram por acaso em um bar em Tókio servem para demonstrar que nem tudo está perdido...que a ternura de uma amizade sincera pode ser encontrada nos lugares mais improváveis: em um bar, numa praça cheia de gatos(Haruki adora gatos) ou mesmo em uma ante-sala de um motel barato. É a troca...é o outro....aquilo que brota da diferença. A experiência que transforma. Escritor de muita sensibilidade e habilidade na criação de personagens que não são utilizados para lições, ensinamentos ou segundas intenções disfarçadas. Apenas vivem....e são mostrados por cima, por baixo, por todos os lados onde o escritor coloca a sua câmera.. Seus livros parecem roteiros de cinema, onde vamos imaginando as cenas em suas diferentes tomadas com muitos detalhes do ambiente. A irmã linda que não quer acordar. A prostituta chinesa sendo espancada. O trabalhador solitário em seus momentos de introspecção obsessiva. Um traficante em sua moto. A proprietária de um estabelecimento comercial. Um trombonista... Vidas tão díspares que entrelaçam-se como no filme “Short Cuts” de Robert Altman. O que nos leva a crer que tanto faz estar em Los Angeles, Tókio ou São Paulo. Os problemas, os desafios e a solidão humana são semelhantes em qualquer parte do mundo "globalizado" e é preciso quebrar esse gelo. Não que a solidão seja ruim ela é importante, é o mote a inspiração do artista.(aqui recomendo o livro “Solidão. A conexão com o Eu” de Anthony Storr) Mas o livro questiona a solidão perniciosa, aquela que nos diz Francis Bacon: “A pior solidão é nos vermos privados da amizade sincera”. Dá-lhe Sandra de Sá!!!
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