quarta-feira, 2 de novembro de 2011

De corpo e alma




Hilda Hilst em Biarritz (1957)

Ontem estive numa palestra de signos e literatura revendo uma antiga musa inspiradora. Ao contrário da Bruna Lombardi e Magda Cotrofe a escritora Hilda Hilst ao envelhecer foi ficando melhor(mulher uísque); e quanto mais o tempo passa, mesmo após a sua morte, mais entendo os motivos dela inspirar tanta inspiração em contrapartida às outras duas que só inspiravam tesões e gozos descartáveis em um passado longínquo de hormônios enfurecidos.(Desculpe Bruna! Desculpe Magda!) É que de Hilda Hilst eu gosto das curvas e da sensualidade de suas palavras que são únicas em seu contexto, são eternas. Como diria a própria : “líquidas, deleitosas, ásperas, obscenas”. E como não vou levar nenhuma delas para cama pelos mais diversos motivos e também porque não sou necrófago fico sem pestanejar com os livros que não me cobram sentimentos ou atuações. Não os livros de Bruna(que pecado! Um dia ela acerta a pena!) mas os de Hilda. Sei... sei que Hilda Hilst não quer sua alma na minha cama. Aliás a taurina nunca quis sua alma na cama de ninguém como decantado em um belo poema.(a Deus o que é de Deus!) Mas o que posso fazer? O corpo foi-se infelizmente. Ficaram somente algumas fotos amareladas, uma casa velha e a alma da poetisa em suas belas e erotizadas palavras. (-Os livros porra!) E posso garantir que não é pouco. Tesão incomensurável. No dizer da escritora nunca é tarde assim como é desejável transmudar-se. Será que estou amadurecendo ou é a morte dobrando a esquina? Onde foi parar minha coleção de “playboys” antigas? São tantas dúvidas....
(para Roberta)

Um comentário:

Roberta Ferraz disse...

uau. e segue a fruição aberta das delícias. partilho tudo e amo a possibilidade de um devir-whisky numa casa cheia de fantasmas e com a tua visita trazendo sempre um gato um cão e um poema no colo, será ótimo este dia alcóolico esta fauna deslumbrada na velhice mais remoçada. estamos aqui, carpindo esta terra da página. e fico feliz de saber ver nesta visão do paraíso o futuro de uma amizade já iniciada num mesmo sangue, que não diz nada não significa nada, a não ser que venha a dizer muita coisa. esse é o nosso caso. muito querido, um beijo e té semana próxima. já sem corpo, mas com muitas cabeças: Pessoa.