“A Primavera do Dragão” de Nelson Motta , Editora Objetiva é uma primorosa edição e bem delineada biografia de Glauber Rocha no curto período compreendido entre a infância do cineasta na Bahia e a consagração em Cannes com o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (infelizmente coincidindo com o golpe militar de 1964). Nelson Motta como todos sabem é um cara “antenado”, “ligadão” que inclusive me convenceu em outros tempos a visitar uma Igreja Batista no Harlem às oito da manhã de domingo. Tudo pela música!(desconfio até hoje que ele “leva um” do Pastor). O Nelson tem essa coisa de ampliar o mito e de quebra sem qualquer dor na consciência lucrar algum. Deixando a falta de distanciamento e mercantilismo de lado é delicioso embarcar em outros tempos especialmente no período de meados dos anos 50 e 60 quando a cultura era algo grandioso, com intuitos nobres, ideologias, os artistas se conheciam eram amigos, se ajudavam etc. Os “causos” durante as filmagens de Deus e o Diabo na pequena Monte Santo são ótimos. A população local achava que a Yona Magalhães era uma princesa e foram seduzidos a trabalhar como figurantes durante horas e dias em troca de leite em pó. Bons tempos....Acho que é isso que está faltando no cinema atual e porque não nas artes em geral. Precariedade, falta de profissionalismo. Não quero dizer que tudo se resume a “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”. Tudo tem seu tempo é claro, ninguém agüenta mais isso; mas verifico que Glauber e os demais precursores do cinema novo ainda tem muito a ensinar. Glauber é o exemplo da vontade de mudar as coisas, do inconformismo, da subversão, do radicalismo. Nos dias de hoje só isso é um alento, uma inspiração. (e desconfio que vem continuação da biografia por aí!). Isso é claro se o sertão não virar mar.
Um comentário:
Achei o seu blog por acaso, capitão. Darei uma lida e retornarei sempre!
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