quinta-feira, 14 de abril de 2011

Eu sou uma máquina de Pinball





Engraçado....lendo a Clara Averbuck no seu “Máquina de Pinball” me senti como se estivesse lendo uma carta de uma antiga namorada que morava na Paulista com a Consolação. A personagem principal Camila (qualquer semelhança com a escritora é mera coincidência ou nem tanto) é a típica paulistana, suburbana, doidivanas, que embarca nas paixões como quem pega um trem desgovernado a noite no escuro. E dá-lhe anfetaminas e “vódega” com coca-cola. E dá-lhe Strokes e Nirvana para encarar as “bad e good trips”! O livro é uma viagem de Porto Alegre a Londres, São Paulo e Rio de uma pretensa escritora sem um puto no Bolso que gosta de rock, gatos, Fante e Bukowski. Não necessáriamente nessa ordem. Camila em determinado momento esclarece: “preciso me apaixonar toda hora, ou não consigo produzir porra nenhuma”. Depois solta uma tiradinha de efeito para justificar o título do livro: “-Eu sou uma máquina de pinball. – Ah... Ah? – Tem que apertar os botões certos na hora certa para ganhar? Sim!” E é isso aí. E o legal é que dá para puxar de graça na internet! Livro bom para ler no banheiro depois da noitada as 3 horas da manhã . (embriagado e escutando Tom Waits); Isso é claro se vc não conseguir pegar ninguém! E veja a Clarinha beldade aí acima – mulher de personalidade forte...uau! Impressionei.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Misto-quente com Veuve Clicquot em Copacabana



Lolita Pille - autora de Hell



Misto-quente Bukowski – trata de toda a infância , adolescência e juventude do meu escritor favorito. Já é o oitavo livro de Bukowski que leio. A maneira simples, sem compromisso e despudorada que o escritor relata os eventos deveria ser observada por todos os escritores chatos de galocha que acham que a verdadeira arte está no rebuscamento. Enfim uma aula de como o escritor deve analisar seu ofício e avaliar seu estilo. Passamos por todas as dificuldades de um menino que era surrado pelo pai autoritário e boçal; pelo ensino sem relação com os anseios de aprendizado; pela sociedade que não aceita as diferenças, quer de ponto de vista, quer de aparência, quer de postura perante o mundo. E a postura de Bukowski é bem simples. Odeio tudo e a todos! Menos a bebida, literatura e uma boa briga para florear tudo e enaltecer o descontentamento! Muita porrada! Muita sujeira!! Muita sacanagem!! E o engraçado é que o escritor enfoca sem sarcasmo. Tudo é o que é e pronto. Não há razão para mudar o mundo! Num determinado momento do livro chama Deus literalmente para uma briga. Mas para algo pessoal e não coletivo. Sem utopias, sem desespero. O protagonista e alter-ego Henry Chinaski só deseja uma coisa. Um bom lugar para dormir por cinco horas sem ser interrompido. E quando o jovem é expulso de casa pelo pai que joga todos os seus pertences na rua sua única preocupação é com as folhas avulsas de seus primeiros contos que estavam sendo levadas pelo vento. A literatura como vingança! A literatura para mostrar o mundo como ele realmente é, sem zebrinhas listradas , onçinhas pintadas e coelhinhos peludos (valeu Titãs!). Obrigado Hank por mais esta habilidade!

E li Hell de Lolita Pille uma francesinha linda e gostosa que escreve muito bem sobre seus amigos endinheirados e vazios nas altas rodas de Paris. O primeiro capítulo em que ela através da protagonista “Hell” aponta a diferença entre NÓS e VOCÊS em um único fôlego é um dos melhores capítulos que li nos últimos tempos. E o primeiro parágrafo então? "Eu Sou uma putinha. daquelas mais insuportáveis, da pior espécie. Meu credo: seja bela e consumista" ... E então vamos andando em belos carros conversíveis, respirando muita cocaína, tomando “Veuve Clicquot” com muitas roupas da moda e muitos calmantes para suportar o vazio da falta de sentido, amor, sentimentos verdadeiros....O legal é que Lolita não poupa ninguém, nem mesmo ela própria. Postura muito em voga hoje em dia. Sem sangue não há literatura decente.

Também li “Romance de Geração” de Sérgio Sant’ana, um diálogo cortante em um apartamento no Rio entre uma jornalista e um escritor fracassado onde entre muita vodka, sexo e rock and roll e num único dia os personagens vão desfilando todos os sentimentos de frustração e ódio de uma geração tolhida no seu momento mais criativo. A juventude perdida...ou quase. Sei lá , livrinho que virou filme recentemente e foi muito bem recebido em festivais e coisa e tal (já está passando no canal Brasil). Mas achei tudo aquilo meio datado e teatral demais.

Enfim, poderia ficar horas aqui falando dos livros que li e que não representam nada para ninguém ou apenas para uma confraria restrita mas cansei! Cansei desse diálogo infame e jogado a esmo na rede mundial. O mundo já tem informações demais. O negócio agora é a desinformação. Fico com o velho guerreiro “eu vim para confundir não para explicar”. E valendo de um jargão filosófico manjado pra caramba: o importante é a pergunta e não a resposta.

"- Que horas são? -Hoje fez um calorão heim?" Sou eu no elevador descendo para pegar meu filho na escola. Bye Bye Brasil!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Na superfície e/ou no subsolo

Cansei de demonstrar meu espanto toda vez que leio Dostoiéviski. Mas como não demonstrar após ler esse “Notas do Subsolo”? Está praticamente tudo ali...o contraponto entre aqueles que enxergam algo e daqueles que buscam o sucesso pessoal cegamente. A vida difícil , para não dizer desesperadora daquela grande massa de seres humanos que não foram convidados para o banquete do “belo e sublime”. Daqueles que não conseguem se adequar à sociedade. E o espanto ocorre por qual motivo? Ora... Dostoievski escreveu esse livro em 1864 e podemos dizer que pouca coisa mudou. Existem duas grandes massas, duas manadas. A daqueles que vivem adequados a sociedade reinante e cegamente vão levando....e os outros com visão crítica desesperados/arrebatados. A qual grupo vc pertence? E o livro trata exatamente deste conflito. De um homem entre as duas massas ....tentando a inserção mas ao mesmo tempo não se inserindo, rebelando-se contra suas próprias vontades. Pensando uma coisa e fazendo outra, como se o cosmos ou o universo jogassem contra. E não é necessário falar que Nietzsche está ali nas linhas deste belo livro. Não nascemos para o vazio mas ao mesmo tempo a razão não ajuda. A metafísica também não. Vários escritores beberam em sua fonte dentre os quais Kafka é o que mais me vem a mente. O desajuste e o arrebatamento. Algo entre a fúria e o êxtase. O anti-herói que na verdade é esse “clown” inserido em nossas entranhas. Como livrar-se dele? É impossível não observar que no momento em que o personagem principal critica a prostituta/novata Lisa, com todo o moralismo falso está desmoralizando-se bruscamente. Somos todos insetos, ou como diria o Zé Ramalho. Somos um gadão! Povo marcado ou povo feliz? A humilhação liberta! Também impossível não vislumbrar a dignidade do criado Apollon com seus gestos lentos e livres de qualquer opressão. Empregado sim! Submisso não. Sem contar a reunião de aparências no “Hotel Paris” para a despedida de um “vencedor” e a inutilidade da raiva e da amargura perante àqueles que não vêem um palmo diante da proposta geral e irrestrita e porque não dizer “única” para a grande maioria dos fantoches manipuláveis . Pois como disse o escritor através do personagem principal deste livro no patamar mais alto de toda sua sapiência: “o homem é, acima de tudo, um animal que constrói, condenado a buscar conscientemente um objetivo e exercer a arte da engenharia, ou seja, a abrir caminho para si mesmo incessantemente e eternamente, não importando aonde esse caminho o leve”. E aí daqueles que se desviarem...Cuidado ao ler este livro! Vc vai ser obrigado a pensar na vida. Será que vale a pena?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Muta em três atos

Já faz um bom tempo que venho lendo Lourenço Mutarelli. Instigado pelo filme “O Cheiro do Ralo” li “A Arte de Produzir Efeito sem causa”. Gostei da simplicidade de uma estória de um personagem que numa crise de casamento e trabalho volta a morar com o pai. As reminiscências próximas, o clima de desconforto perante a vida etc. Um livro gostoso de ler que muito embora tenha muitos diálogos também tem parágrafos de autor, ou seja, um livro equilibrado. Já no outro livro “O Natimorto” o livro é praticamente um diálogo só que questiona a sanidade e a loucura envolvendo poesia e teatro. Já achei um livro desequilibrado, assim como os personagens principais. Talvez funcione mesmo em teatro (ainda não vi o filme) Já este último “Nada Me Faltará” sinceramente eu achei um porre. Chato de ler, uma estória muito inverossímil; tudo bem flertar com o fantástico e caprichar nos diálogos, mas só diálogos o tempo todo (???). E a estória parece aquela piada que não acaba mais até chegar naquele final irritante. O tempo todo o personagem principal Paulo tenta entender o que aconteceu num breve período em que perdeu a memória, com análises repetitivas, diálogos curtos e inconclusivos sem qualquer profundidade ou análise mais acurada. Os demais personagens também tentam entender entre várias conjecturas, cada qual com seu enfoque mais ou menos igual. Já sei...o autor não quer dar nada mastigado. Que o bom leitor deve usar a imaginação, trabalhar a estória de acordo com suas conveniências...pera aí?! Eu sou o leitor e não o escritor caramba! É óbvio que espero alguma coisa inteligente quando leio um livro e não uma junção de palavrinhas que vai do nada até lugar nenhum. Este livro talvez até funcionasse como estória em quadrinhos, com as imagens auxiliando os diálogos e vice-versa. Mas sinceramente como livro não funciona. É o perigo da profissionalização do escritor. Parece que o escritor não tem o que dizer mas por compromissos profissionais tem que escrever no mínimo 150 páginas para inserir na capa “romance” e soltar nas livrarias. Senti um cheirinho ruim vindo do ralo. Mesmo assim Lourenço Mutarelli é ótimo, muito acima da média. Deveria ter se aprofundado mais quando citou Foucault – poderia relacionar o personagem principal Paulo com o protagonista do livro de Foucault Pierre Rivière. Mas aí o livro acaba e pronto!... Estive na última feira do livro aqui da cidade acompanhando sua oficina/entrevista intermediada pelo meu amigo, músico e jornalista Régis Martins. O cara(Lourenço) é uma figura, um pouco melancólico, um pouco desajustado, mas exatamente por isso intrigante. (em certa momento puxou uma garrafinha com uísque e deu uma talagada no meio da entrevista ah ah!)Só não pode ceder as pressões de Editoras, livreiros etc. Quem sabe nos brindará num futuro próximo com mais uma bela obra. Com todo respeito nesse último livro ele ficou devendo, pelo menos para este pobre escriba de resenhas e críticas. “Nada me faltará” – só uma boa estória e um bom final. Será pedir muito??? O leitor merece e o escritor é capaz.