sexta-feira, 16 de outubro de 2015

ARIANE LOIRA

Conheci Ariane  numa reunião dos alcoólicos anônimos em Ribeirão Preto. Ela era tão linda que não combinava com as paredes gastas da sala decadente do antigo casarão na zona central da cidade. Digamos assim que ela era uma Pietá de Michelangelo ao lado da privada de Duchamp. Loira falsa a esconder uma mata escura e tesuda no meio das pernas. Olhos verdes, seios fartos e duros, cintura de bailarina....enfim uma puta de uma gostosona, uma mistura de Babi Xavier com a bunda da Sheila Melo. De babar baby!

A reunião começou e um Senhor velho e barbudo começou a dizer o óbvio, que estávamos no lugar certo e que o único requisito para se tornar um membro era o desejo de parar de beber etcetera, etcetera, e eu olhava para a boca carnuda daquela mulher e sentia um desejo incontrolável de tomar um porre para curar toda a minha impotência em conversar com aquela musa e puxar seu braço e leva-la para o bar da esquina da General Osório com a Alvarez Cabral.

A reunião entediante e enfadonha  caminhou para os depoimentos. O velho barbudo deixou todos a vontade para o primeiro relato. Foi quando para espanto geral ela pediu a palavra e com voz embargada começou a falar.

- Me chamo Ariane, nasci em Ribeirão Preto a exatos 22 anos atrás; mas bebo desde os 14 anos quando por incentivo do meu primo Rodrigo numa noite longínqua de Natal em família na casa de Vovó tomei logo de cara uma garrafa de uísque para curar minha inibição e trauma de uma adolescência infeliz. Desmaiei na sala, minha avó chorou muito minha tia Elza foi embora desolada e meu primo Rodrigo na época com 24 anos me levou para o Hospital São Paulo. Tomei uma dose de glicose na veia e depois Rodrigo me levou para a sua casa(ele era estudante de medicina e morava sozinho) ligou para os meus pais e disse que eu estava bem mas que era melhor eu passar a noite lá...no quarto de hóspedes. Autorização concedida Rodrigo veio com uma conversa mole que eu precisava tirar a roupa para melhorar e começou a fazer uma massagem na minha bunda, e de repente socou dois dedos na minha bucetinha virgem, me deixando toda molhadinha. Eu estava achando tudo ótimo afinal Rodrigo era meu primo mais bonito, mais educado e o xodozinho da vovó. Todos adoravam o Rodrigo!. Quando ele me disse que  sempre teve uma quedinha por mim fui da adolescência infeliz para as nuvens em um átimo de segundo. Bem...logo depois ele se despiu e pude ver aquele pinto enorme e teso, vinte e quatro centímetros de alegria e eu no auge dos meus quatorze anos só tive uma reação espontânea. Cai de boca naquele pirulitão. E chupava, chupava como aquela matrona velha fazia naquele filme super-8 que roubei do porão da vovó. O filha-da-puta do Rodrigo começou a gemer e falou que assim não agüentava e ejaculou com gosto dentro da minha boca. Depois disso o filha-da-puta abriu outra garrafa de uísque e bebemos mais...e fumei maconha pela primeira vez e Rodrigo me perguntou se eu estava preparada.....e eu ingênua falei para quê. E ele me disse que precisava estourar aquela coisinha rosinha  que atrapalhava o meu xixizinho. Disse que não....que tinha medo.....mas no fundo estava louca para que tudo finalmente acontecesse e fui entre beijos molhados cedendo....cedendo....e ele introduziu o pirulitão com toda força no buraquinho do xixizinho e eu senti um dor imensa e cravei minhas unhas várias vezes em suas costas e ele sequer se importou e continuou na cadência, no compasso, subindo e descendo subindo e descendo do útero aos pequenos lábios de minha xoxota. E a dor foi se dissipando e a dor transformou-se em prazer e o prazer transformou-se em êxtase com muita porra, mijo, água e sangue....muito sangue que saia de minha vagina e das costas de Rodrigo. Enfim uma loucura total, uma noite inesquecível....eram tantas novidades, meu primeiro porre, a maconha, inclusive a primeira vez que gozei de verdade sentindo aquele estremecimento que vai da ponta dos dedos do pé ao último fio de cabelo.

Os oito membros da reunião, eu e mais o cara barbudo(todos homens) simplesmente não emitimos sequer um único comentário. Seria isso sim uma loucura total um disparate, um despropósito. Foi quando eu que não estava suportando a conversa do barbudo pude ver que ele tinha um bom senso fora do comum quando disse “– Prossiga minha filha, não se acanhe, fique a vontade!”

-Sério, estou meio sem graça de falar essas coisa tão íntimas para estranhos!!!!!

“- Não,,,,aqui todos somos irmãos, e tudo será perdoado e esquecido. Prossiga!”

- Bem, nem preciso dizer que o Rodrigo, aquele filha-da-puta , me levou para casa no dia seguinte com a maior cara de santo, me entregou para papai, beijou no rostinho de mamãe com ares de salvador da pátria, o bom samaritano, e cinicamente me deixou a ver navios e com esse puta tesão por ele até hoje. Casou com uma matrona mais gorda que a velha do porão da vovó, e nunca mais quis me comer por mais que eu implorasse. O babaca dizia que tudo foi um erro, que eu era sua prima....Covarde! Covarde! Uma bichona velha recalcada é isso que ele é.

Eu que já estava totalmente enfeitiçado por Ariane não pude discordar nem um minuto de seu discurso tão convincente. Esse Rodrigo era uma besta quadrada mesmo!
E ela continuou....

- Pois é se tem um provérbio que realmente é verdadeiro é aquele....não me lembro muito bem....algo que diz que a primeira vez a gente nunca esquece. Desde então tenho procurado algo parecido por aí. E minha cabeçinha associa sexo, a bebida a maconha a gozo e só com essa combinação é que consigo gozar plenamente e satisfazer o meu desejo sexual que encontra-se numa crescente incontrolável. O duro é que bebo muito, dou vexames homéricos e fico totalmente envergonhada....preciso me controlar....essa combinação toda tem me feito muito mal, minhas ressacas são faraônicas, vomito pra caramba...isso tem que acabar e por isso é que estou aqui.

- Ontem mesmo chamei um amigo de bebedeiras, o Afonso e fomos numa casa de swing...vocês sabem né? Aqueles bailinhos de sacanagem em que os casais liberam as mulheres e outras coisinhas mais! Pois é! Fingimos que éramos casados, eu e o Afonso, compramos até uma aliança fajuta pra incrementar a fantasia. Chegando na Chácara que fica a alguns kilometros aqui da cidade logo fomo recepcionados por ela a Lady Francisca. A rainha do swing local e seu marido Clóvis Belanowski, casalzinho bem suspeito... que de cara já foram servindo um “Black Label” com muito gelo o que nos deixou muito a vontade aliviando as suspeições.

Papo vem papo vai, black vem, label vem também, fomos para o andar superior onde existia uma cama enorme com vários casais na maior felação;

Entramos de cabeça e o resto também...bom...mas realmente estou muito sem graça de contar isso!

Então gritei: - PROSSIGA! (Silêncio) – todos olhando para mim.

- Desculpa chefinho só estava querendo ajudar.


E ela prosseguiu com estórias fantásticas do arco da velha e dos arcos das novas, uma mistura de relatos de Anais Nin com Hilda Hist. Ela tinha classe. Seu relato era fascinante e eu, bem...eu me apaixonei.

Pra finalizar a sessão  o  Sr. velho e  barbudo falou qualquer coisa motivadora e batida, algo assim:

- “A única pessoa que pode dizer que tem problema é ela mesma. Ninguém pode decidir por ela Saibam  que estaremos sempre aqui, prestes a ajudar a evitar o primeiro gole”

Desta feita fiquei pensando nos meus problemas e nos problemas de Ariane, no Black Label, no Pingüim, Lady Francisca e o primo Rodrigo sendo que neste exato e breve momento de distração ela saiu pela porta e desapareceu na noite. Pude ver um táxi escuro subindo à Rua Cerqueira César e virando à Rua Campos Sales.

Em vão subi na minha moto e percorri desesperadamente o trajeto inteiro várias vezes e terminei a noite tomando um porre na Choperia Colorado para afogar à frustração e dormindo abraçado na privada de Duchamp  para não vomitar no chão de casa.

Já é a qüinquagésima reunião do alcoólicos anônimos  que vou e ela nunca mais apareceu. Desolação profunda. Continuo bebendo com freqüência, dando vexames com assiduidade  e posse dizer sem nenhum constrangimento. Entrei no A. A. com um problema. Agora tenho dois.

A. A. para mim só tem um significado: Álcool e Ariane. 


         texto de LUIZ TINOCO CABRAL - todos os direitos reservados

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

VIDAS SECAS 1

foto - Silas Batista /Globoesporte.com/pb


Já se vão quatro dias neste cativeiro infernal, sem água e sem comida decente, vivendo a base de pão de forma com molho tártaro. Filhos da puta. Dei azar com esses sequestradores de merda. Só me resta pensar na vida e esperar, esperar, esperar...

  Sei que em virtude da falta d’água estou perdendo 2 litros e meio por dia, urinando e defecando no chão, o cheiro de bosta e mijo  insuportável  e  suando, suando feito um porco nesse calor de matar. Trancado, humilhado, no escuro e sem ninguém para conversar; resta saber se os poucos parentes  ou a burrinha da minha mulher vão conseguir sacar o meu dinheiro para me resgatar. Resta saber se alguém vai se importar com meu desaparecimento. Pelo menos estou emagrecendo. Isso é bom. Aliás tudo tem seu lado bom, até eu.

  Só posso como já salientado refletir sobre a vida. Nasci em família pobre, meu pai era caixeiro viajante, vendendo vassouras e rodinhos de porta em porta. Bonitão ele...de vez em quando eu ficava horas na calçada de formosas donas de casa esperando papai sair e demonstrar seus apetrechos para elas. O tempo que esperava deitado na sarjeta contando baratas no bueiro dava pra ele passar o rodo  na casa inteira das vadias. Filho da puta.

  Depois ele morreu, pobre como veio ao mundo e eu assumi os negócios para ajudar mamãe em casa. Não tenho irmãos. Comecei como caixeiro, depois camelô, montei uma lojinha, depois uma loja grande, uma segunda  e hoje sou um dos maiores empresários do comércio varejista do Brasil. Acho que prosperei. O que significa que qualquer idiota é capaz de ganhar dinheiro e ficar milionário. Assim como qualquer idiota pode ser estupidamente seqüestrado e ficar nesse quartinho sem água comendo pão com molho tártaro. Fique esperto heim?

  Ano passado mamãe morreu. Não consegui derramar uma lágrima. Fiquei mais triste com a crise da bolsa que ocorreu no mesmo ano. Mas sobrevivi. E depois da crise veio a bonança. Nunca vendi tanto. A morte da mamãe me deu sorte. Carrego essa crença comigo.

  Bem, não sou bonitão como meu pai, mas tenho meus encantos, pele rosada, olhos castanhos e bigode grosso. Casei com a Érica, manicure e pedicure na época das vacas magras. Érica me amava, eu me encantei por suas pernas , nádegas salientes e peitos saltitantes e casamos por absoluta conveniência. Ela era fiel, gostosa, me amava e não se importava com os meus negócios até altar horas da noite. A mulher ideal. Burrinha de dar dó.

  Com o tempo a relação foi assumindo ares de enfado, ela não podia ter filhos por um problema no aparelho reprodutor que sequer sei do que se trata  até hoje, nem quero saber e o sexo protocolar era um tédio existencial profundo, uma mesmice desmedida e comecei a colecionar traições. Trinta e nove ao todo se não me falha a memória;

 Com uma funcionária lá da loja tive um filho...ou acho que tive um, a ação de paternidade ainda não foi julgada e estou fugindo do DNA a oito anos.

 Depois trepei com duas amigas da Érica, uma inclusive do mesmo salão de beleza em que a  conheci. Bem burrinha também. Gostosinha também.

 As outras trinta e quatro foram prostitutas, sem contar dois travestis que peguei nas ruas do centro da cidade, pertinho da loja matriz onde tudo começou. Confesso que com eles tive a melhor relação da minha vida. Com eles transcendi e ultrapassei algumas barreiras impostas pela educação austera  de papai.  Mas na minha posição nunca pude assumir uma porra dessas e continuo vivendo de aparências com a burrinha da minha mulher. Esqueça esse detalhe de travestir por favor. É mentira viu?

  Minha Rede de Lojas patrocina um time de futebol popular. Todos acham que adoro o time já que o patrocínio se estende por vários anos, mas gosto mesmo é do centro-avante gostosão e de ver a minha marca estampada naqueles abdomens sarados e suados. Confesso que estou excitado. Só me faltava essa... excitado nessa situação. Só eu mesmo! Deve ser a falta d’água.

  Tirando isso nunca plantei uma árvore, não escrevi um livro, talvez tenha um filho hoje com uns 10 ou 11 anos que nego até a morte se precisar. Meu advogado é fodão pra caralho. Gosto dele.

  Tenho um carro do ano importado, uma bela casa no melhor condomínio fechado da cidade, quadros do Romero Brito, sonego impostos desde o tempo de caixeiro  e uma tv de tela plana de 50 polegadas onde costumo assistir os shows do Latino. Aliás acho o Latino o máximo. The best. Meu sonho de consumo. Ainda quero ver um show dele e pedir autógrafo no camarim e postar uma foto com ele no Instagran. Coisa de macho é claro. Selfie de responsa.

  Outro dia matei um homem e fiquei muito chateado. Deu nos jornais. Foi acidente, tinha bebido algumas cervejas, pouca coisa é claro e por uma fatalidade dormi no volante. Fugi. Estava com a carta vencida e não podia esperar a polícia. Ninguém descobriu até hoje. Apaga essa também por favor. Olha lá heim? “Não respeito delator”. Quem foi que disse isso mesmo?

  Mas também para compensar, todo ano faço uma bela doação de eletrodomésticos para o asilo da cidade. Maravilhoso ver a carinha de contentamento dos velhinhos ao lado das enceradeiras, ferros e torradeiras elétricas. É claro que tenho uma bela isenção nos poucos impostos que não sonego. Esse governo é uma piada mesmo.

  Quero derrubar a Presidente. Quero mesmo, com convicção. Fui nas passeatas, levantei faixas, cumpri o meu dever cívico.

  Enfim depois de todas essas ilações chego a conclusão que sou uma ambiguidade humana como a maioria dos empresários e das pessoas de bem deste País. Não me venha com hipocrisia. Acho até que sou um cara bem legal na medida do possível. Acordo cedo, leio os jornais, faço academia e depois vou para o meu escritório, delegar funções, analisar balanços e estratégias de venda, marketing e enviar dinheiro para as Ilhas Cayman. Tenho uma pele lisa e um barbear rente e macio, como diria um velho desafeto  que não vejo a tempos, Marcelo Mirisola.

  Perfeitos só eles mesmo, Deus e Jesus, ou seriamos fruto do acaso? Sei lá nunca li Darwin ou Stephen Halkins. Aliás odeio biologia e física. Gosto das coisas práticas, tipo....comer batatinha Chips com molho barbecue e  cortar cabelo com máquina zero.

  Aliás, pensando bem nunca li porra nenhuma. E  livro de  ficção, é coisa de boiola. Sou macho viu? Aquela estória de travestis ali em cima era só brincadeira. Sou um mentiroso contumaz na maioria das vezes. Não acredite em nada que digo ou que escrevi, já dizia um antigo Presidente que não lembro o nome.
 
  Bem...como toda regra tem sua exceção gosto dos livros do Paulo Coelho e do Roberto Shynyashiki.

  Meu Deus, ou sei lá o que aí em cima, que situação calamitosa?!!! será que vou escapar desta? Confesso mais uma vez nesse mar de confissões que estou com medo? Um vazio, misturado com vergonha e arrependimento desta vida de merda que levei até agora. Que porra de balanço de vida foi esse? E o pior é que não tem mais nada. Não tem um grande amor, uma grande viagem, um grande feito ou enfrentamento. Só mentiras e vaidade. Troquei a vida por nada, corri atrás do vil metal e vou morrer como um verme. Não terei mais a minha tão sonhada  festa lá no meu apê. Covarde...um reles covarde.

  E enquanto assim pensava para passar o tempo, como um verdadeiro milagre, um estrondo abriu a porta do cativeiro. Um clarão incidiu diretamente nos meus olhos e quase me cegou. No fundo da visão recalcitrante  um policial muito forte e bonito, ou anjo da guarda, sei lá, veio ao meu encontro e foi puxando meu braço e  dizendo:

 - Doutor o senhor está livre, venha comigo, o pesadelo acabou.

  Ao sair pela porta arrombada, pude ver que estava num bairro da periferia da cidade que já tinha passado algumas vezes e nunca tinha reparado muito;  milhares de câmeras de televisão das maiores redes do País e do exterior transmitiam ao vivo o feliz desfecho do sequestro e os repórteres insistiam:

  E aí, como foi? Está bem? Saudades da esposa? Da família? Dos amigos? Gostaria de dar uma declaração, Uma declaração por favor estamos ao vivo? Diga Algo?!?!?!? Pra posteridade!?!?

  Foi quando uma cerca viva de microfones fechou-se em frente a minha boca seca e, sem escapatória, eu pude gritar em alto e bom som para o mundo todo ouvir:


  - EU QUERO UM COPO D'ÁGUA!



autor do texto: Luiz Tinoco Cabral - todos os direitos reservados

domingo, 2 de agosto de 2015

OSSOS DO ORIFÍCIO

(foto extraída da internet - autor desconhecido)



  Me chamam de Ricardo da Cruz, uma alusão ao negócio da família de venda de crucifixos de osso que já dura três gerações. Não sou rico. Se a família tivesse investido em crucifixos de ouro, ou prata, que seja, estaria numa situação melhor. Não reclamo. São os ossos do meu ofício.

  Sou discreto. Faz parte do meu negócio ser discreto. Aqui cabe revelar um segredo que poucos sabem. A matéria prima dos nossos crucifixos é osso humano a  30 anos. No princípio vovô usava osso bovino, eqüino, caprino. Meu pai também. Mas o sucesso veio quando consegui um contato no IML aqui da cidade que passou a me fornecer ossos humanos para a lapidação dos crucifixos. Muitos cadáveres da cidade foram enterrados sem os ossos apenas com enchimento no lugar do fêmur ou da patela. Os parentes nem imaginam. Meu fornecedor é um artista e a legalidade desse procedimento é duvidosa, mas a consistência e a maleabilidade desses ossos nem se compara aos de outros animais de pequeno e grande porte. Saliente-se a título de ilustração   que  um pequeno e mísero  pedaço de osso humano  consegue suportar até 9 toneladas de carga.


  Incrível como o meu negócio prosperou após essa inovação. De forma inconsciente, e principalmente às mulheres ao se depararem com meus crucifixos nas vitrines das lojas sentem uma grande e irresistível atração. Não sei se é o osso, minha arte, ou quiçá a própria morte. O que interessa é que as vendas aumentaram, o que me possibilitou ter mais horas vagas para apreciar as belezas desse mundo, mais especificamente elas, às mulheres.

  Quando não estou trabalhando tenho por hábito sentar nesse banco aqui no parque com um lago bucólico  e um lindo caminho de pedras, onde agora escrevo. Não é uma parque movimentado, isso é proposital. Gosto de tranqüilidade. Fico aqui com meu caderninho e caneta esperando pacientemente a passagem delas. As mulheres bonitas, e claro, ossudas. Tenho um critério diria, peculiar, para analisar a beleza feminina. Enquanto a maioria dos homens repara na carne, nas nádegas, nos seios, eu, talvez por dever de ofício fico imaginando como um super-homem e sua visão de raio-x  a ossatura, a carcaça que se esconde atrás dos músculos, veias e do calor do sangue.  O erotismo é muito mais forte nas entranhas mas poucos sabem. Nessas horas a ereção peniana é inevitável. Anoto algumas características que me vem à cabeça e corro para casa para praticar os solitários prazeres e artes de Onan.

  Opa, lá vem uma:

  Mulher de estatura mediana, cabelos loiros, na faixa de 30 anos, roupa de ginástica, carrega uma sacola azul, deve conter alguns vegetais, saindo da ginástica e indo para casa comer brócolis com cenoura, fêmur de 43 centimetros. Que delícia, queria poder chupar esse fêmur.

   Lá vem outra:

  Mulher baixa, cabelas castanhos, 29 anos, roupa muito fechada, carrega uma bíblia, deve ter saído da igreja, a princípio nada excitante, mas veja lá, que orelhinha....três ossinhos e um estribo de 3 milímetros. Esse dá para sentir com a língua. Já tive essa experiência e recomendo sem pestanejar. Delícia.

  Oba, hoje o negócio está bom, diria muito bom.

  Mulher alta, negra, uma Deusa, cabelo encaracolado, perfume de jasmin, porta um livro de direito, “Teoria Pura do Direito” de Hans Kelsen, dá para ver a capa; um decote que deixa vislumbrar a ondulação dos seios e como sempre me ocorre o inevitável. Tenho uma enorme ereção ao imaginar  aquela coluna esbelta e suas trinta e três vértebras cartesianamente enfileiradas para o puro deleite; o cheiro do osso, o cheiro do amor inatingível.

  Sei que você deve estar pensando que eu tenho problema psiquiátrico, que deveria me tratar, que sou um tarado incorrigível, com uma tara inexplicável, quase um pisicopata, mas o que posso fazer se esse sentimento domina todo meu ser a todo instante. A coisas que vão muito além da nossa capacidade de entendimento. Friso que não sou um necrófago, um serial killer ou coisas do tipo, mas apenas um voyeur pacato e inofensivo cumpridor dos seus deveres e pagador de impostos.

  O fato é que hoje já na saída do parque e após fazer estas anotações tive uma experiência sobrenatural que nunca tinha me ocorrido. Ao olhar a minha própria imagem refletida nas águas do lago que circunda o parque pude ver de forma cristalina e transparente o meu próprio esqueleto, todo ele completo e  libidinosamente tesudo.

  E ao focar a visão nas minhas vértebras sacrais, um fenômeno instantâneo e narcisístico  ocorreu:

  Foi amor à primeira vista e agora estou  desesperadamente  apaixonado pelo meu próprio esqueleto; Porém o que me deixa realmente pasmo, estupefato é que nunca fui muito chegado em esqueletos masculinos. Mais essa agora....

  Pensando bem talvez você tenha razão e eu  deva mesmo consultar um analista e levar essas anotações para ele verificar.

  Antes porém e por via das dúvidas vou no laboratório aqui perto fazer uma radiografia de corpo inteiro. Quero pregar a chapa na parede, em frente à privada do banheiro lá de casa.


  O onanismo ainda me mata. Será que tenho cura? Vai ser osso.

autor: Luiz Tinoco Cabral (todos os direitos reservados)

quinta-feira, 23 de julho de 2015

DANDO UM GÁS NO MUNDO



Luiz Faro Zéfiro da Silva nasceu e passou quase toda sua vida  na pequena cidade de Brisas do Sul, no estado de Minas Gerais. Um homem simples, de poucas palavras, trabalhador rural, cabelos ralos, franzino, olhar distante e sonso, com bem vividos 50 anos a base de muito repolho, couve-flor, nabo, cebola, maça crua e ovos de galinha caipira. A personificação da tranqüilidade bucólica do povo mineiro. A noite depois de seus afazeres no curral da Fazenda Ventania, gostava de sair com os amigos e ir nos bares de esquina para tomar um pouco de cerveja Caracu, que estranhamente misturava com Coca-cola para espanto de todos.

 Depois de umas e outras o pacato trabalhador rural  transformava-se no potente Luizoco, o oco mais temido do estado, quiçá do País. Tal alcunha lhe foi conferida com méritos devido ao potente e sonoro flato  que só ele tinha, capaz de fazer estremecer a terra como um terremoto de grandes proporções e  derrubar garrafas das prateleiras dos bares que freqüentava.

Lá pelas tantas e depois de muita Caracu com Coca, era só alguém começar, para o coro dos bêbados entoar: .” – Oco Oco Oco solta um grande aí Luizoco. Oco Oco Oco solta um grande aí Luizoco...”

E numa performance apoteótica, depois de 30 segundos de suspense e mistério, Luizoco soltava um persistente peido meteorológico de trovão acordando os bêbados que a essa altura insistiam em levar um tête a tête com às mesinhas do bar. Todos alegravam-se e riam admirados de tamanho e incendiário dom e iam para casa felizes, assim como Luizoco que ia dormir orgulhoso e satisfeito por poder proporcionar um pouco de alegria às pessoas sofridas de sua pobre comunidade.

Sua fama espalhava-se como rastro de cobra n,água, desde os rincões das fazendas mais escondidas da região até chegar ao gabinete do Prefeito da cidade que, sabendo da fantástica estória e do famoso peido sete tiros, resolveu tirar proveito eleitoreiro da situação convocando formalmente Luizoco através de ofício escrito para comparecer a uma reunião urgentíssima e secreta   na Prefeitura;

- Seu Luiz, bons ventos o trazem, satisfação recebê-lo aqui no gabinete da Prefeitura.

- Parzer é todo meu seu Perfeito.

- Pois bem, sente-se aí que eu vou  direto ao assunto que, como o Sr. Sabe, não sou homem de meias palavras.

- Pois pó sortá homi de Deus, sô todo orvido

- Fiquei sabendo que o Senhor tem um  peido queima olho assassino que entoa mais alto que labareda em canavial ah ah ah  é verdade?

- Se o povo fala quem sou eu pra desdize!!!

- Pois então homem de Deus, o Senhor é um homem de sorte, temos que valorizar os talentos da cidade, mormente um talento assim, como o seu, tão, digamos, peculiar, “sui generis” .

- Pois diga o que c qué  logo omi de Deus para de dizê parlavra difíci.

-   O negócio é o seguinte, meu secretário de eventos e turismo descobriu na internet, que vai ter daqui a um mês na Europa  um campeonato mundial de flatulência, em resumo, ganha o peido mais barulhento, com medição por aparelho e tudo e gostaríamos de enviar o Senhor com todas as despesas pagas pra representar a cidade e o País nessa jornada. Dinheiro não é problema, pagamos tudo, hospedagem, inscrição, avião....sem contar o portentoso  prêmio em dinheiro para primeiro colocado que será todo seu.

- Vixi homi de Deus nunca andei disso não. Vião é pobrema tô fora, sartei de banda, num vô mesmo. Ce é besta sô....

- Mas como assim Seu Luiz? Vai ser a sua glória. O Sr. vai entrar para os anais da estória desta cidade. Se o Senhor ganhar, Brisas do Sul vai ter a tão esperada projeção internacional que tanto sonhamos, podemos então até criar um campeonato local, quem sabe até trazer o mundial para cá, seu talento é indiscutível o Senhor vai conquistar o mundo meu caro e Brisas do Sul vai crescer de vento em popa.

- Disculpa seu perfeito, sua intenção é boa, mas vião não dá; Num vo mesmo e tenho dito, e agora cum todo respeito, tenho que ir andando cuida das minha vaca e cume meu repolho que eu to cuma fome du cão, passar bem, um bom dia pra vosmice.

De forma abrupta e inesperada Seu Luiz virou às costas e saiu da Prefeitura decidido, deixando o Prefeito pasmo e boquiaberto. Vai ter medo de avião assim no inferno, pensou o Prefeito e voltou aos seus enfadonhos  afazeres diários.

No caminho para casa Luizoco encontrou a sua musa chamada Rosinha, balconista da venda de secos e molhados do Seu Manuel, mulher nova, de fino trato e belas curvas por quem ele vivia arrastando suas asinhas sem o mínimo êxito. Pra impressionar a moça contou que estava saindo do gabinete do Prefeito, do honroso convite para representar a cidade e o País e por fim sua digna recusa. E está lhe falou com toda a sua educação de berço:

- Pois saiba que tu és um borra botas, perdeu a grande chance da sua vida de merda. Frouxo do caralho. Bunda mole! Ah ah ah.

Indignado, cabisbaixo  e com o peito em frangalhos Luizoco que é católico mas com um pé no terreiro, foi consultar seu babalorixá de candomblé que após várias cantilenas, cafungadas e fumegadas lhe disse em tom professoral, de forma profética e com olhar vazio  e perdido no espaço esotérico;

- Misifiu, não existe ateu em pane de avião. Mas desse mal c num morre não. Vai com fé misifiu pra conquistá o mundo e dela o coração;

E foi pensando no seu amor que ele disse sim ao Prefeito, dedicou-se aos treinamentos,  venceu seu medo com doses cavalares de calmantes e sedativos, atravessou o oceano e desceu na Finlândia na cidade de Utajärvi para representar Brisas do Sul e o Brasil no primeiro e único Campeonato Mundial de Flatulência.

Chegando no aeroporto de Helsinque, todo o esforço e superação empreendidos valeram a pena. Luizoco foi recebido pelo embaixador brasileiro local com honras de estado e salva de 21 tiros de canhão, diga-se, muito fraquinhos, perto dos seus próprios petardos, pensou.

No caminho para a cidade de Utrajarvi, num belo carro, numa bela estrada, em companhia do afável embaixador, que desde a chegada mostrou-se um ótimo aliado e parceiro, Luizoco foi apreciando a bela paisagem, os lagos enormes e suntuosos, as montanhas cor de giz tão diferentes dos chapadões mineiros, bem como foi checando os itens em sua matula e todo o equipamento de preparação para o grande desafio que ainda estava por vir.

Estavam lá, às calças e cuecas com fundilhos reforçados, os ovos de galinha caipira, cebolas da roça, nabo da terra, couve-flor, maçã crua, repolho e vários litrões de Coca-cola, bem como o indispensável e até então insubstituível engradado de cervejas Caracu.

Pois bem, chegando na bela cidade foram direto para o local do evento que já estava começando. Ás regras eram bem simples, baterias individuais e eliminatórias, três minutos para cada competidor expulsar os gases pelo ânus em porções anormais provenientes do aparelho gastroentérico , ou seja uma distenção voluntária ou involuntária  do estômogo ou dos intestinos por ar ou gases com o intuito de produzir o maior ruído em decibéis possível medido por um decibelímetro e avaliado pelo corpo de jurados composto por um fonoaudiólogo, um otorrinoralingologista e um engenheiro em segurança do trabalho. Obrigatório o uso de calças ou bermudas e proibido expelir fezes sob pena de eliminação.

Luizoco não estava entendendo absolutamente  nada até que seu parceiro embaixador esclareceu às regras com toda a sua diplomacia a là Arnaldo César Coelho.

- A regra é clara: quem peidar mais alto ganha!!!

E dito e feito lá estava ele cônscio de sua missão e  no meio dos maiores peidorrentos do mundo, todos com um perfil físico e psicológico muito parecido, gordos, fortes, negros, brancos, muito amarelos, suados, barbudos, fedidos, malvados o que causou um certo constrangimento já que só Luizoco era um típico mineiro mirradinho e sonso, destoando sobremaneira  dos demais. Assim sendo, a princípio, ninguém colocou muita fé nos seus dotes peidorrísticos, e não entendiam a razão daquele homenzinho franzino ter viajado tanto e estar ali no meio dos maiorais, tomando sua cervejinha caracu com Coca-cola e com aquela cara de Rock Balboa do Sertão mineiro.

Mas bastou a primeira bateria eliminatória para o constrangimento virar a sensação do pedaço.

Luizoco simplesmente humilhou e desclassificou a grande esperança local Tony Phartman. E olha que ele se deu ao luxo de economizar na flatulência emitindo um peidinho pitila e engraçadinho de apenas 85 decibéis. O suficiente para ganhar a parada e não humilhar os donos da casa. Um gentleman esse brasileiro, pensaram eles.

E assim sucedeu-se a cada nova bateria eliminatória,  conquistando fãs de todas as partes, até deu autógrafos para a garotada.Camisetas com sua foto eram as mais requisitadas na lojinha de conveniências.

 Engraçado que enquanto todos os outros concorrentes causavam repugnância e revolta na seleta platéia, Luizoco tinha uma empatia natural com a galera; enquanto o estrondo dos demais causava susto e aversão o seu flato altíssimo e em vários tons tinha ares cômicos trazendo uma incompreensível alegria para o evento. Sua aparição como nos velhos tempos era apoteótica, quase divina. Como se o ato de peidar fosse uma arte relacionada a origem do universo, ao “Big Bang”, o bóson de Higgs. Ademais quem sabe Deus em momento de extrema flatulência não soltou um pum gigante e criou o mundo?

Pois retornemos ao que interessa:

Passaram-se três dias como um vento.... E Luizoco chegou a semi-final para enfrentar aquele que poderia por fim a sua meteórica trajetória.O famoso  Mr. Metano, o campeão inglês. Era um homem forte, alto, nojento e com uma  ridícula fantasia de tartaruga ninja que sinceramente não combinava nem um pouco com o resto do contexto. Deu um peido de 1oo decibéis enorme, só que para sorte de nosso representante  o inglês provido de excesso de vaidade e jactância deu um peido irresponsável, tipo freio de bicicleta e deu aquela enorme e pastosa melada na cueca.

Conclusão: Desclassificação imediata, e vaias, vaias, muitas vaias da platéia, sem contar o desmaio de várias pessoas por asfixia.

E quem diria que ele, aquele franzino mineirinho de Brisas estaria agora na grande final do primeiro e único Campeonato Mundial de Flatulência. O grande dia finalmente havia chegado, mas a parada era duríssima, talvez a maior parada de toda a pacata vidinha do nosso protagonista. E justo no grande dia  o imponderável aconteceu. Ao olhar o engradado ao lado da cama viu que tinha tomado no dia anterior a última cerveja caracu. O líquido que era o seu elixir da vida. A poção mágica que misturada com os demais ingredientes alimentícios era responsável exatamente pelo arroubo sonoro emitido pelo seu nobre instrumento gástrico.

Meu Deus onde poderia ele encontrar uma garrafa de cerveja caracu na cidade de Utrajarvi na região central da Finlândia??? Missão impossível claro.


O seu aliado, companheiro  e agora amigo de todas as horas, o  embaixador correu desenfreadamente por  todas às lojas de cervejas, supermercados, bares e tabernas da região e nada, nada de Caracu.

E Luizoco com ares de derrota,  desânimo e cagaço,, já antevendo uma provável humilhação  não parava de repetir.

“- Sem Caracu nada feito homi, tamo fudido”.

Mas o embaixador que era um homem muito vivido e inteligente, vislumbrando ou ao menos desejando  que tal dependência fosse meramente psicológica, recolheu as garrafas vazias do quarto de hotel de Luizoco inserindo nelas o líquido negro da deliciosa cerveja finlandesa Nikolai, passando desta feita o bom e velho conto do vigário no rapaz peidante.


Contente e confiante ao ver as falsificadas  garrafas de Caracu, num misto de delírio e felicidade Luizoco gritou.

“- Vambora homi. É hoje que eu vou arrebentar as pregas da meu cu de tanto peidar!!!!!!”


E nesse clima quente, tipo, queima olho, os guerreiros entraram em campo para a mais dura batalha:

 Lá estava ele no lado direito do octógono; (ou seria um exágono?) o adversário dos adversários, ex-pugilista, com seus dois metros de altura e  com mal distribuídos 180 kilos de pura banha e gases, o Russo CATIMBRAL, o homem que segundo à lenda carregava um coquetel molotov  no intestino, pronto para detonar as maiores revoluções e rebeliões da face podre da terra. Seu peido, além do ruído altíssimo era famoso por ser o mais catinguelento do mundo, com um odor capaz de espantar os urubus de todas as espécies e  levantar os mortos e as múmias das catacumbas.

E do outro lado, bem, vocês já sabem, Ele, Luizoco, o oco mais temido de Minas Gerais, quiçá do Brasil, que entrou no recinto ao som da música “Eu quero ver o oco”, dos Raimundos. Brilhante idéia do inteligentíssimo embaixador.

E o Russo CATIMBRAL era o primeiro a se apresentar, e assim foi. Após quase dois minutos e meio de concentração, aquele homenzarrão enorme curvou os joelhos como se fosse iniciar uma dança dos cossacos e expeliu um gás pérfido e repugnante com um ruído de 112 decibéis quebrando vários copos na platéia para espanto geral e comentários do tipo: já ganhou, coitado do brasileiro, tão bonzinho......


Enquanto isso Luizoco se preparava tomando sua improvável mistura de coca-cola com falsa cerveja caracu sem sequer perceber a farsa. “Cervejinha xoxa essa? Parece que ta choca?”, pensava ele.

 O embaixador na Tribuna das Autoridades estava tenso. Será que a malfadada farsa vai dar certo? O que será que vai sair dessa bunda Santo Cristo?. Meu Deus rogai por nós. O embaixador além de inteligente era um homem muito religioso.

Mas o mineirinho de Brisas, como um burrão de raça não refugou. Cumpriu sua sina. Subiu no Octógono(ou seria um hexágono)  ao som de “eu quero ver o Oco, eu quero ver o Oco” agora entoado com um estranho sotaque nórdico por sua eufórica e simpática torcida. Idéia do embaixador é claro.

LUIZOCO após a protocolar concentração e 30 segundos de suspense e mistério, , soltou de chofre o seu famoso trovão assassino, aquele que viria a ser considerado por muitos estudiosos do assunto  o maior dos flatos  já produzidos e emitidos na face da terra, quiçá do Universo, se é que extras-terrestres têm o poder sensorial da flatulência. Vai saber. Dizem que o ruído superou os 120 decibéis que é o máximo que o ouvido humano pode suportar  e que a velocidade dele ultrapassou todas as barreiras, chegando a ser ouvido e sentido em diversas partes do planeta e até fora dele em algumas estações espaciais tripuladas. Um verdadeiro terremoto de 9.5 na escala Ritchter, só comparável ao maior terremoto da história ocorrido no Chile na cidade de Valdívia em 1960.

No dia seguinte todos os jornais e mídia em geral eram unânimes em afirmar. UM FENÔMENO, ALGO ALÉM DA COMPREENSÃO HUMANA.

A Revista Times estampou a foto de LUIZOCO com a bem bolada legenda ‘O PELÉ DA FLATULÊNCIA”.

É claro que a fama e a glória entorpeceram e envaideceram muito o nosso herói. Sempre acompanhado de seu amigo embaixador, foi homenageado em grandes festas na capital Finlandesa e com o prêmio conquistado comprou roupas novas, cuecas reforçadas e uma bela lembrança para levar para Rosinha o seu amor, sua paixão. Uma bíblia em Finlandês. Idéia é claro do embaixador.

Aliás o embaixador não podia deixar o amigo sem saber da farsa da Caracu e em uma dessas inúmeras festas de comemoração e homenagens, após tomarem umas e outras,  contou-lhe toda verdade e encerraram a noitada às gargalhadas e tomando é claro a fantástica Cerveja Nikolai nas gélidas ruas de Helsinque. Luizoco inclusive trouxe em sua matula duas caixas da Breja Finlandesa para o Brasil  e só bebe em ocasiões muito especiais.

Chegando em Brisas do Sul foi recepcionado pelo orgulhoso Prefeito, desfilou em carro aberto pelas ruas da cidade, foi ovacionado e teve que repetir exaustivamente nos bares da cidade a mesma estória que acabei de contar acima, é claro que cadê vez com outras nuances, outras 50 tonalidades de marrom  e outras hipérboles muito maiores do que as minhas, além das famosas performances apoteóticas.

Tudo ia muito bem para Luizoco, sua vida agora até parecia um sonho, mas algo ainda lhe faltava....

Mas é claro.... precisava levar o presente para Rosinha, seu grande amor, sua grande paixão. Quem sabe, em contrapartida, um terno abraço, um beijo de júbilo e desejo e admiração pela sua façanha além mar? Afinal ela foi a grande mola propulsora de tamanha jornada o Leitmotiv condutor de toda a estória.

E lá chegando na venda, com o coração pulsando e saltitando freneticamente, com a bíblia Finlandesa  e duas garrafas de Nikolai para presenteá-la, encontrou apenas o Seu Manuel, sozinho e cabisbaixo, contanto o seu dinheirinho no caixa como sempre fazia;

- E aí homi, turdo bem? Quanto tempo heim?  Cadê a Rosinha?

- Pois.... pois, tu não sabes?

- Fala logo homi de Deus?

- MORREU!!!

- MORREU? Mas como? Morreu de quê?

- Intestino preso! Muito triste.... Morreu asfixiada pelos próprios GASES.


autor: Luiz Tinoco Cabral

terça-feira, 17 de março de 2015

Para Felipa Martins



Uma estante enorme com clássicos da literatura. Mesas e cadeiras enfileiradas. São brancas, simples e estranhamente possuem toalhas. Como ler um livro sobre uma toalha? Por que cantor famoso gosta tanto de toalhas? No pé da estante um banquinho, urna, cofrinho ou escada. Na verdade  uma peça de design sem nenhuma ou  várias serventias. Só pra dar um ar de modernidade. Na parede uma imagem inusitada. Um super-homem numa bicicleta de circo segurando um guarda-chuva. Na composição secundária, nuvens carregadas e  uma gaivota com as asas abertas. Não sei o que o artista ou a artista quis dizer, mas combina com o ambiente, dito sofisticado biblio-resto-bar. Paraíso tropical em forma de livraria parafraseando Borges. No fundo uma porta de vidro  separa o mundo dos livros do mundo real. Aliás o que é real? Para quê uma porta? Porque uma banda se chama “portas”?Questionamentos assim entram e saem da minha mente perturbada. ELA chega. Curvilínea e dançante. Loira, vestido azul de laise, cabelos longos e salto agulha emanando leveza e delicadeza. Enfim uma mulher, daquelas de verdade, nota dez. Nesse exato instante queria ser o super-homem com sua visão de raio X(sem guarda-chuva, sem bicicleta). Esqueço que estou numa biblioteca, ou livraria ou paraíso borginiano ou coisa que o valha. Meus dois fetiches no mesmo raio de visão privilegiada. Tenho que escrever uma tese, um poema, um romance, um parecer jurídico uma porra qualquer. E nesse momento tudo fica num segundo plano, por trás da porta. Esqueço o real. Eu sou o super-homem não é mesmo? Sua pele é branca e entra uma brisa que a deixa levemente arrepiada. Acabou de sair do banho, seu perfume é um Miracle da Lancôme, aliás sua aparição é um miracle, uma miragem, uma vertigem. Como sou o super-homem vejo seus pelos pubianos suaves e loiros. A vulva rosa Lancôme levemente molhada. Um jasmim rosa em flor no início da madrugada. Saio do transe. O espinho de peyote entra na minha carne delirante fazendo estrago. Ela senta, cruza as pernas. A barra do vestido azul levita até metade das cochas volumosas. Ela olha para mim com curiosidade. De observador a observado. Ela desvia o olhar. Será que lê pensamentos? Raio X de pensamentos? Viro para meu torturador imaginário e confesso.- EU SOU CULPADO, EU SOU CULPADO! O Borges fica para outro dia. Entra uma  bibliotecária gorda e velha que até então se escondia atrás da estante. Eu lhe pergunto: -  Não servem uísque nessa espelunca? A gorda com ar de enfado não responde. A loira sorri. Nessa hora Borges diria: “a esperança é o mais sórdido dos sentimentos”.

LUIZ TINOCO CABRAL

sexta-feira, 13 de março de 2015

O MATADOR DE POODLES BRANCOS




Sou brasileiro, solteiro, veterinário aposentado por invalidez aos 38 anos. Não sei como isso foi acontecer? Só me lembro do meu último trabalho. Estava numa fazenda em pleno ato de combate à miíases cutâneas(bicheira) de uma vaca Jersey quando desmaiei e acordei no hospital. Depois disso nunca mais trabalhei. Moro com meus pais e não sou feliz em plenitude, a não ser em alguns momentos especiais conforme vocês verificarão no desenrolar dessa estória. Fui diagnosticado como esquizofrênico mas é mentira. Esses médicos da Previdência Social não entendem nada. Uns merdas! Aliás quem pode dizer que entende alguma coisa nesse mundo sem sentido e nesse País de bosta?

Sempre acordo tarde! A manhã me entedia, me lembra a infinidade de horas em que vou ter que encarar o nada o vazio da minha vida de aposentado. Então ligo o computador e fico nas redes sociais vendo o vazio da vida dos outros. Quanta banalidade.... A vida é banal, mas nessas redes sociais observo o quanto o ser humano é fútil, egocêntrico e egoísta.

Pois bem! Sempre posto alguns comentários políticos para passar o tempo. Acho que política é importante, faz parte e divulgar alguns pontos de vista contra a insegurança e a violência podem ajudar na construção de um mundo melhor. Sou entediado não alienado e por incrível que pareça ainda acredito no ser humano. Ninguém curte os meus comentários. Também não faço questão. Não quero ser apreciado por essa bandalheira de boçais que postam fotos da última viagem  a praia, vídeos de esqui em  Bariloche, mensagens de otimismo, aniversário de casamento, declarações de amor e outras coisas desprezíveis. Não, não...

Mas o que eu odeio mesmo é foto de cachorrinho. De cadelinha, de shitzu, de poodle... que coisinha mais desprezível....Que droga, o suposto amigo além de ter um animal de estimação que  só serve pra defecar no jardim alheio tem que torrar a nossa  paciência????

Existe uma infinidade de infelizes dizendo nessas redes sociais que amam mais animais do que pessoas, mostrando fotos de animais e dizendo que são lindos, pedindo ajuda para encontrar cadelinhas perdidas, típico comportamento pequeno burguês num País onde temos 20,4 homicídios por ano para cada 100 mil habitantes. É de estarrecer. Por isso que no curso de veterinária me especializei em animais de grande porte, vacas, bois etc. Esses pelo menos tem uma serventia. Servem para comer, para fritar bife, churrasco.

Também sou apaixonado por armas. Tenho uma coleção aqui no meu armário. Mas gosto mesmo é da minha Barret M82A1 com mira telescópica e silenciador. O legal dela além do seu formato anatômico e militar é que seu tiro pode atingir até 2 kilometros e meio de distância. Sem contar a aproximação da mira e a sua efetividade. A minha tem até nome. Bartira. Toda noite tiro a Bartira do armário e durmo com ela bem abraçadinho (e descarregada é claro porque não sou bobo). Trato-lhe como uma mulher de verdade. Garanto que é bem menos belicosa. Mulheres de verdade me dão medo, não gostam de mim mas também não dou nenhuma importância. Não necessito delas; me satisfaço sozinho com muita competência,imaginação e gel lubrificante. Aliás se for pensar mesmo não necessitamos de ninguém nessa vida vazia e passageira. Se a necessidade faz o homem no meu caso esse ditado velho não se aplica. Coisa de pederasta.

Pois bem, só de brincadeira coloquei a Bartira num case de violão e comecei a perambular pelo centro da cidade me misturando com essa corja de infelizes que seguem andando e comprando e contratando advogados, marcando consultas com médicos e dando importância excessiva à vida e seus pequenos problemas. É incrível como é fácil andar com uma arma de alto poder lesivo e não ser  notado sendo confundido com um pobre músico indo para um ensaio ou apresentação qualquer.

Cumprimento policiais com semblante de “homem do bem” na maior cara dura. Confesso envergonhado que tenho sempre uma ereção nessas ocasiões. Sou um grande artista e capaz de passar incólume e despercebido nas grandes multidões de cretinos. Um gênio travestido de homem comum. Aliás modéstia é para os fracos!!

Mas vamos aos fatos. Assim como é fácil andar com uma arma pelo centro da cidade sem ser notado é muito fácil subir nas coberturas dos edifícios comerciais, armar um  suporte e acoplar a Bartira. É sempre da mesma maneira. Falo na portaria  que vou em um escritório de um advogado qualquer e me dirijo para a cobertura no último andar que, ao contrário dos países evoluídos, no Brasil não é aproveitada para nada  – mero suporte de caixa d’agua, sujeira e entulho. Um espaço vazio e sem vida. O ambiente perfeito para meu divertimento.

No começo ficava horas no parapeito mirando  para cãezinhos de todos os tipos, chihuahuas coloridos, pinschers enrustidos, chow chows peludinhos, lhasas atrevidos, poodles de todas as cores, pretos, marrons, brancos.....e assim me divertia até o final da tarde e ia para casa me sentindo o senhor do destino de tão repugnantes criaturas. Deus cometeu erros crassos no momento da criação, mas esses bichinhos inúteis....

Um certo dia involuntariamente quando mirava para um poodle branco o gatilho disparou. O tiro acertou em cheio na testa do pequeno cão que morreu na hora e seguiu arrastado pela calçada e puxado pela coleira  por 50 metros até que a sua distraída dona se deu conta do fato. Lá embaixo uma enorme aglomeração, choro desmedido, comoção popular. Em cima do edifício  experimentei o maior êxtase de toda a minha vida. Uma sensação de plenitude, um lampejo, uma razão para viver. Enfim um sentido para a minha existência. Rapidamente desarmei a Bartira, guardei-a no case e fui para casa sorrateiramente. Passei ao lado da cena do crime, exercitando o meu dom artístico com ares de comoção. O crime foi perfeito, a nossa polícia incompetente jamais cogitou quem poderia ser o autor do disparo, sequer investigaram a trajetória da bala. Com certeza pouca importância deram para a morte de um mero cãozinho de madame.

Foi fácil. Diria extremamente fácil mesmo odiando o Rogério Flausino, aquele merda!

Sigo com a minha missão é claro com variações de cidades, centros, edifícios, com bom espaçamento entre um assassinato canino e outro para não causar suspeitas. Afinal aposentado e preso está fora de cogitação. Eu não agüentaria  o tranco e o convívio com os demais detentos nem mesmo em cela especial por direito. O ser humano é difícil. Seria muita humilhação para um artista e gênio como eu.

Matei cães de todas as raças, até mesmo cachorros maiores como Doobermans, Filas e São Bernardos. Muitos me agradeceriam se soubessem.... 

Porém por uma dessas vicissitudes sem qualquer explicação plausível, reparei que  o êxtase maior motivador da minha missão só ocorre quando mato poodles brancos. (???)

Desde então me especializei em poodles brancos. Uns dizem que é uma raça francesa porém a grande maioria acredita ser alemã. É considerada uma das raças mais inteligentes do mundo. Talvez seja esse o mote para a minha obsessão inexplicável. Preciso anotar  para a próxima sessão de terapia.

Frisando é claro que  esse meu terapeuta também não entende nada. Um merda!!! A única pessoa que me entende nessa vida é a Bartira, minha amada, minha companheira, minha confidente. Mas isso já é outra estória...



LUIZ TINOCO CABRAL

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O CHEIRINHO DO AMOR - crônicas safadas - Reinaldo Moraes



imagem retirada do blog da Status - da crônica homônima

Ahhh o velho lema da literatura brasileira – sempre gostar do livro dos amigos... Como não devo nada para ninguém muito menos para o Reinaldo Moraes que conheci na Feira do Livro aqui de Ribeirão Preto lá vai. Dei algumas risadas nas primeiras crônicas. Se fosse para eleger uma elegeria a primeira do livro “Retiro Criativo do Carvalho”. Ótima crônica que traz uma idéia para um retiro de escritores para lá de inusitado. Se fosse para eleger a segunda melhor crônica elegeria a 2ª. crônica do livro “Chaterine, Serge et moi”. Conhecendo o Reinaldo essas coisas que ele narra só poderiam acontecer com o próprio.  Assistir uma sessão de cinema ao lado do Alan Gainsburg e da Catherine Deneuve. O deslumbramento do fã no auge da juventude. Ótima também. O livro de crônicas “O cheirinho do Amor” crônicas safadas, Editora Alfaguara é sem sombra de dúvidas divertido, leve e descompromissado. Mas confesso que esperava mais. Com o passar das crônicas, que foram escritas originariamente e publicadas na Revista masculina Status, o esquema traçado e provavelmente encomendado pela revista começa a ficar repetitivo, diria até técnico, por vezes maçante com assuntos pra lá de datados, em que pese a maestria do escritor, domínio da gramática, do assunto e a manifesta e notória cultura geral. Talvez esteja sendo chato, mas é isso aí, aqui nesse espaço não faço concessões e não estou aqui para puxar o saco de ninguém. O legal de um livro de crônicas ou contos, pelo menos para este modesto leitor, é a divergência de assuntos, o inusitado, o que podemos verificar não muito longe em outro livro do próprio Reinaldo Moraes “Umidade”, onde temos uma gama de assuntos diferentes, crônicas de períodos diversos, a evolução estilística do autor sem cair no enfado e na mesmice. No novo livro “Cheirinho” ficam nítidas às concessões do autor ao esquema da revista e ao gosto médio de seu leitor, em alguns pontos chega até a explicar às citações, ou seja, no ato de escrever a crônica deve pensar: acho que meu leitor não tem cultura para conhecer esse escritor que cito, ou essa obra de arte então lá vai um parágrafo/aula introduzindo de maneira “light” e até indicando o universo paralelo da alta cultura para eles. Tudo bem para revista de mulher pelada vale, é até recomendável, mas para livro, e para o público que entra numa livraria, compra um livro, conhece a obra do escritor e espera um pouco mais do que simples entretenimento ficou devendo. Vixi comecei o ano bravo heim??? Criticando o mestre, autor de PORNOPOPÉIA?  Muita coragem. Mas não se preocupe não Reinaldão. Ninguém lê mais blog hoje em dia; o meu então está no limbo. Comentários por favor
(risos).