Ler Albano Martins Ribeiro não é fácil. Vc tem que entrar no site
http://www.osviralata.com.br/ que dedica-se à publicação divulgação e distribuição de literatura independente, fazer um depósito e pedir o livro do autor supra que aliás e o proprietário e
único empregado da editora independente como ele faz questão de frisar. O livro chega no prazo sem nenhuma cartinha num envelopinho padrão e causa um certo estranhamento. "- Como é que coube um livro de 100 páginas nesse envelopinho?" De quebra você tem que aturar as letrinhas miúdas de um mini pocket book e ficar amassando as páginas no meio para ler as linhas na íntegra sem malabarismos . Porém a surpresa é boa ou seja vale o pequeno sacrifício. Afinal para ler
bestsellers bem encadernados e que não dizem nada é só ir na livraria mais próxima. Albano tem aquela escrita que chega como o vento, nua, com os acontecimentos da vida. Ele narra as putarias e sacanagens do cotidiano e das relações humanas(de amor ou...nem tanto). E se pudesse escolher entre os vários bons contos ficaria com o excelente "sexta à noite, no purgatório" que narra às desventuras de um personagem que, na esperança de um sorriso antigo e vibrante de sua companheira, tem que aturar uma reunião social nitidamente de conveniências numa noite gris. Peço "vênia" ao escritor para transcrever um trechão do conto que pode dizer muito mais do autor e do livro do que estas minhas
"vênias" e
"mal traçadas letras" urgh! Brincadeira heim!? Esse latinismo e essas frases feitas não me pertencem(influência do Garófilo - meu professor de Filosofia do Direito). Mas voltando ao assunto vamos lá:
"pois é, Nina querida, eu sabia que ir a essa festa não era a melhor coisa a fazer naquela noite. Mas você disse tantas vezes que fazia questão, e eu acabei indo de sapatos duros com a roupa errada a um lugar de valetes surdos e anões, cheio de homens arrogantes mulheres putas e burras vestidas de vermelho e preto, de uísque bom e traiçoeiro, um lugar cheio de gente em que a gente se sente sozinho, sozinha, um lugar onde há pratos e pratos e garfo garfo garfo e faca faca faca e colher colher colher e taça taca taça, mas onde não se serve comida, só pães anões com micro-manteigas e quibes de pó-de-arroz com cheiro de peixe, telões que passam jogos de futebol ao vivo, um lugar onde há gêmeas idênticas identicamente horrorosas, onde só as mulheres inatingíveis dançam, onde os mágicos não tem assistentes de maiô e você chupa o pau - como ninguém o saberia fazer - dos canalhas de cabeça cúbica e sorriso de fauno que patrocinam seus projetos". AMR Uau! Inferno ou purgatório? Lembrei-me até de um conto do Mirisola "basta um verniz para ser feliz". Lembrei-me inclusive de Bukowski pela crueza e simplicidade que o conto chega à conclusão acima - ao
grand finale. Tô até vendo a carinha do Albano , com ressaca, barbinha por fazer, coçando a testa e digitando o texto com ênfase, com verve com raiva. São os momentos únicos....É isso aí Albanão! pau no cú deles e delas , desses faunos e "deusas", daqueles que tem "
o medo de mostrar o rabo, sujar a gravata".(
essa é do Mirisola). E assim mesmo no seu estilo - sem vaselina!!!!!
Portanto caros e infindáveis leitores - entrem no site, naveguem com a devida atenção, descubram boas novidades, comprem o livro que é baratinho e aproveitem para adquirir(de graça) os e-books "O cabotino" do Polzonoff e "Ovos de Touro" do Wiskow. VIVA A LITERATURA INDEPENTENTE!!!