sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A Carta Secreta de Caminha



Pouco ou quase nada se sabe sobre a vida de Pero Vaz de Caminha. Sabe-se que era filho do Duque de Bragança e que nasceu na cidade de Porto. Dedicou-se ao comércio e por escrever bem foi designado escrivão da feitoria de Calicute na Índia de onde seguiu com Cabral em 1500 para o Brasil, por ordem de D. Manuel.
Ainda em 1500, Caminha segue com Cabral para Índia e morre segundo relatos no dia 15/12/1500, durante um assalto dos mouros à feitoria de Calicute.
Mas não foi bem assim. Recentes estudos nos mostram que Caminha não morreu na Índia e sim no Brasil nos braços de um índio conforme carta secreta descoberta recentemente num compartimento escondido no banheiro particular de Dom Manuel em seu Palácio em Évora na cidade de Portugal. Vide o texto na íntegra:
“2 de maio de 1500
Caro Dom Doca vulgo “o venturoso”
Lembra quando lhe dei este apelido? Daquela noite chuvosa e aconchegante na Torre do Tombo?
Mas não escrevo essa segunda carta para rememorar os bons tempos que para mim estão enterrados a sete chaves e embaixo de sete palmos de terra portuguesa. Em realidade gostaria de expressar minhas justas lamúrias e ao final lhe fazer um pedido.
Porque Vossa Alteza fez isto comigo? Colocou-me a revelia nesta nau só para me punir? Como se o amor tão puro e verdadeiro entre dois homens fosse um pecado?
Pensou que me afastando de Portugal não revelaria nosso “segredo”?
Pensou que poderia enterrar o seu passado tão belo ao meu lado?
Pois fique sabendo que o seu Deus escreve certo por linhas tortas. Que sua torpeza e hipocrisia me revelaram o segredo da simplicidade da vida e me trouxeram para um novo mundo onde posso finalmente ser eu mesmo.
Logo que aqui desci nesta maravilhosa terra descobri o quanto era falsa a nossa vida em comum. Tudo às escondidas, nesse mundo de aparências e religiosidade castrante que é o Paço Imperial.
Primeiro gostaria de dizer que muito aprendi com Pedro, que além de ótimo Capitão-mor me proporcionou inesquecíveis noites em sua cabine particular. Jamais esquecerei Pedrinho, homem de garbo e bom gosto, sempre com seu colar de ouro, que ao contrário do restante da tripulação me ensinou os segredos das nuvens e das estrelas. Quantas noites não ficamos lado a lado no tombadilho observando figuras geométricas no infinito céu azul. Um dia ainda lhe contarei ao pé de ouvido o que significa uma “ancoragem limpa e segura”. Ao contrário do que pensas foi o melhor presente que já me destes caro “Dom Doca venturoso” e no tocante estou em débito com Vossa Alteza.
Mas não é só: gostaria de relatar que muito prazer e tesão me trouxe a visão dos índios nus que não ficam escondendo suas vergonhas, com seus falos grossos e ornamentados e sua sinceridade e inocência em expressar sentimentos. Mas vamos ao que interessa:
Pois bem, logo que desci nessa nova terra de Vera Cruz lá estava ele saindo do mar: homem de confeição branda, pardo, nu,, bom rosto, de nariz bem feito, apenas com uma copanzinha de penas vermelhas e pardas na cabeça, com um colar de continhas brancas e miúdas no pescoço, com o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro; para completar o belo conjunto o cabelo corredio e tosquiado com aquela sensual pintura vermelha pelo peito, costas, pelos, quadris, coxas e pernas até embaixo; mas os vazios com a barriga e estômago eram de sua própria cor. Só a nádega tingida de pintura preta que ficava ainda mais vívida com a água do mar.
Confesso que foi amor a primeira vista. Depois vim a saber que seu nome é Aimberê e que pertence à Tribo dos timbiras e que no mesmo instante aquele homem adoravelmente selvagem também se afeiçoou com minha pessoa, convidando-me para passar a noite em sua taba. Fiquei com muito medo, mas como Pedrinho achou que a experiência era importante para a nossa missão de amansamento topei imediatamente. Foi quando então o mundo novo descortinou-se em minha frente. Aimberê é tudo o que sempre sonhei, e a Tribo dos timbiras encara com a maior naturalidade aquilo que Vossa Alteza classifica como “o abominável pecado de sodomia”. Aimberê me batizou de “cunhanbebe”, nome com o qual fiquei conhecido entre os nativos que me aceitaram como o novo membro da tribo dos timbiras em uma grande festa de rebatizado, noite de lua cheia iluminada ainda por uma enorme fogueira ao som de peculiares instrumentos de percussão. Poderia ficar horas descrevendo o quão maravilhoso é tudo por aqui. Mas também não é o caso.
Feito tal relato peço que, por me fazer singular mercê. Me autorize por aqui ficar definitivamente e como satisfação para a sociedade portuguesa diga oficialmente que morri durante um assalto dos mouros à feitoria de Calicute. Pedrinho já concordou com a farsa. Também peço o sigilo dessa missiva e garanto que em contrapartida “aquele segredo” entre nós ficará guardado eternamente.
Adeus.
Assinado: Cunhanbebe
ps – favor desconsiderar a carta anterior; escrevi apenas para justificar o salário.
Ps2 – ah! Quase ia me esquecendo: Vá para o inferno seu filho de uma rameira!!!”
Vinte e um anos depois mais especificamente em 1521, quando D. Manuel veio a saber que Caminha tinha morrido de uma doença tropical misteriosa; numa espécie de ciúmes tardio, editou na nova terra então chamada Brasil as “ordenações manuelinas” onde instituiu a pena de morte aos sodomitas praticantes do abominável pecado da sodomia inclusive sem necessidade de consulta a Metrópole. E os homossexuais do Brasil não tiveram mais paz.

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