Analisando o último livro do
Marcelo Mirisola, Hosana na Sarjeta que comprei aqui na Saraiva do Shopping
Santa Úrsula, Ribeirão Preto, por R$32,00. Editora 34 primeira edição. Tem o
livro novo do Mirisola até nas Lojas Americanas, quem diria!!! Yahoo!!!
Pra começar aviso que conheço
quase tudo que o Mirisola já escreveu, desde o tempo que tinha que encomendar o
livro e recebê-lo pelo correio e por isso entendo o mote que o impulsiona a
escrever. No caso uma dor de corno ou de amor sempre é bem vinda(ou mal vinda)
e serve de combustível, de lenha e adubo. Lembrei de “Joana a Contragosto”
outro livro dele. Pensando bem uma dor não, duas dores. Para não se sujeitar a
um psicanalista argentino(essa é dele). Fiquemos então com nosso analista de
Bagé, ou de Florianópolis ou da Praça Roosevelt. Começamos com um encontro
fortuito de um macho heterossexual, meio cristão e intelectual que gosta de
Borges, Céline e Cioran com uma fêmea brega, macumbeira, raspada e gostosa em
frente a boite Kilt que pode ser em Copacabana, Kuala Lumpur ou nos Jardins.
Pois bem lá em frente ao Castelo da Cinderela M.M encontra a sua primeira mariposa Paulinha Denise. Não vou
ficar descrevendo tudo. Como diria o Tim Maia “read the book”. Mas digamos que o seu traço marcante é uma carapinha oxigenada.
Pois bem, desse encontro vamos rindo do imponderável e trágico dessa combinação
imperfeita. O equilíbrio que não existe mas que persiste na tênue corda bamba
do sexo que, no caso, não precisa de viagra nem de metafísica. O contraste
entre o carnal e o racional com pitadas de sobrenatural. Muitas divagações que
vão das qualidades indiscutíveis do Zeca Pagodinho a cinco entidades abaixo de
um chapeuzinho de poodle. Se a coisa toda já era difícil imagine quando aparece
uma pseudo-fã mentirosa, novinha e adultera na jogada. Ariela é o oposto da
outra em tudo pra começar nas regiões baixas onde predomina uma selva amazônica
a la Cláudia Ohana. Mas com a nova
cara metade e muita palha na cabana o equilíbrio por óbvio também não existe.
Sem conflito não há livro, não há vida, não há merda, não há combustível. Entra
a questão da juventude da mentira do desejo instintivo pela solidão e pela
preservação do homem egoísta e ciumento. Entra agora até um improvável viagra
na jogada e uma ou duas brochadas. Sei que falando assim nesse meu espasmo de
síntese tudo parece muito pobre e superficial mas só lendo o livro para
entender a profundidade, as sutilezas, as associações e citações de uma riqueza
ímpar. (“read the book”).
Explico com exemplos:
Só Marcelo Mirisola é capaz de
escrever diálogos impagáveis do tipo:
“-Aeroporto? – perguntou o motorista.
– Aeroporto, cemitério do Caju, pruma boate azul em Kuala Lumpur.
Deserto do Mojave. Pra avenida chorar pela cabrocha que não apareceu. Vamos
resgatar o dr. David Banner de um piano triste. Pruma quarta-feira de cinzas
chuvosa debaixo de uma marquise no Anhembi. Qualquer lugar! Me leva
praputaqueopariu motorista.” (página 140 1ª. Edição de 34).
Ou tratados de antropologia como
este:
“Quando Deus fez o mundo, deve ter olhado pra Mongaguá e pensado: “É
aqui”. E carimbou a Baixada na alma dessa gente que não é caipira, não é
praiana, não é metropolitana. Não é nada. Basta fazer uma viagem de metrô. Do
terminal Jabaquara até o Tietê. Reparem. A cara amarrada. A mesma tristeza, o
viço perdido. A deselegância nada discreta da tiazona crente vestida de urubu.
Apenas o barulho do vagão, nenhum sinal de vida. Inventamos a embolia. O câncer
do pulmão. A neblina eterna cobrindo a Serra do Mar. Hebe Camargo. O bermudão, o
Rider e a camiseta regata. E Deus, só pra sacanear, dividiu a conta no cartão
em mil parcelas a perder de vista e sentenciou: “agora vão pra Mongaguá e não
me encham o saco”. (pág 81 ed 34 1ª. Edição) (risos).
Sem contar o imperdível estudo
sociológico/político/ambiental de um Reveillon no Rio de Janeiro que começa na
Adega Pérola em Copacabana e vai parar
numa cobertura/duplex no Leme com vista para a mata e as favelas. (ponto alto).
O contraste com a vidinha banal e marginal no Km 60 na Rodovia Raposo Tavares
dias depois. Já dizia o lugar comum: “o mundo dá voltas”. E esse livro também
de Kuala Lumpur a São Paulo, Rio de Janeiro a Piumhi MG. (faz até uma parada
obrigatória aqui em Ribeirão Preto/na Rodoviária).
E depois de tudo isso termina com deslavado lirismo e uma poesia em
prosa sobre felicidade, solidão,
desolação, tilápias e tucunarés na Serra da Canastra. Só poderia ser ele mesmo.
Marcelo Mirisola. O resto é mesmice, cópia mal acabada, enganação. Fique com o
legítimo(Rider) que não deforma. (“read the book”).