o escritor brincando de roleta-russa
Fiquei um bom tempo sem postar aqui. Desilusão com a
literatura? Não. Novos caminhos a serem percorridos. As vezes como Rimbaud é
preciso viver um pouco e como Bukowski fingir uma adaptação, uma integração com
a sociedade pra sacanear depois. Mas deu saudade e nesse eterno retorno aqui
estou novamente para falar desse escritor colombiano muito interessante. Acima
os títulos dos livros que li e que encomendei por sebos espalhados pelo Brasil
inteiro. O cara é “bom de título” porém muitas vezes estes não demonstram o
verdadeiro conteúdo e por conseqüência é
impressionante a quantidade de “Técnicas de masturbação” devolvidas pelos
leitores às prateleiras. Fico imaginando o cara comprar esse livro buscando
muita sacanagem e humor despretensioso e fácil e deparar-se com fracassos,
desilusões, lirismo e experimentações formais. (risos) Pena que as pessoas não
perceberam que é um bom livro assim como os demais e que fogem muito da
mesmice. Vai entender o leitor....Com isso ganhei descontos bem vindos na
estante virtual. Efraim é desses amigos que encontramos perambulando pela
América Latrina, como Gutierrez, como Fuguet e que gostaríamos de tomar uma
cerveja na mesa de um bar bem decadente. O cara não tem tramela e fala em prosa
e verso desde a chifrada que levou da namorada, uma imaginária transa com
Silvia Plath , desventuras de uma banda underground,
técnicas para conquista e sedução até uma despretensiosa mini-biografia não
autorizada de Kurt Cobain. Portanto mais pop impossível. O alter-ego Rep vai
perambulando pelos subúrbios mais escuros das cidades mais apagadas e
envolvendo-se nas situações mais insólitas. Nessa miscelânea encontramos
momentos muito poéticos intercalados com humor refinado e uma auto-sabotagem
constante. O eterno descontentamento desses seres latino-americanos que andam à
margem, num local incerto, tão incerto como Cartagena das Índias e quiçá com
forçada analogia: Ribeirão Preto minha querida cidade colônia penal. Essa
passagem é bem ilustrativa: “Dia e noite
deixamos nossos sonhos de amor, nossas loucuras e ilusões diante da tevê
enquanto acumulamos desleixo, gordura e remorsos”. Recomendo para quem está
lendo os mesmos livros com as mesmas fórmulas várias vezes e que hoje estão na
lista dos mais vendidos e amanhã não servirão nem mesmo para forrar a gaiola(objeto
em desuso) ou para limpar a bunda. Precisamos ousar nas escolhas meu caro
leitor que sai em passeatas, escreve cartazes espirituosos, se emociona e chora
e não percebe que continua sendo manipulado pelo Grande irmão e aumentando o
ibope dos telejornais. “Retorna neste
verso a tarde com os cílios molhados e o sol contradizendo a garoa. Há um potro
sem domar amarrado à alma e os olhos da ira se agitam nesta tarde sem
cavaleiro” É esse o espírito contestador e vibrante do escritor que atrás
de um visual misógino-caribenho e de um auto-marketing duvidoso esconde e
revela muitas coisas nas entrelinhas. O prefácio “a máquina de somar zeros” de
“pistoleiros/putas e dementes” é imperdível cabendo aqui algumas transcrições
“uma vida sem canções e sexo oral é muito entediante” (...) “os poemas não
evitam guerras, nem curam a gripe, mas ajudam a suportá-las” (...) “Se você
está lendo esta linha ou a seguinte, o problema é seu; como a máquina de somar
zeros, tudo o que eu digo e em que me baseio pertence ao vazio porque o destino
de um livro nunca estará nas mãos de quem o escreve, e sim de quem o lê”.
Falou e disse! E serviu ao menos para destravar esse blog mais uma vez. Quiça
chegarei às quinze mil crônicas de Rubem Braga. O sorriso fechado já é um
começo.