terça-feira, 26 de junho de 2012

Contra a mesmice - Antônio Prata e Cláudio Assis


foto da Bela Dira Paes do filme "Baixio das Bestas" - Cláudio Assis


Quem é que disse que não tem mais sangue novo, transgressão e coerência  nas artes em geral?(...) Pois  deveria ler o ótimo artigo do Antônio Prata  “Autocontrole” onde ele escreve de forma clara e precisa: “que época bunda-mole a nossa! Elegemos como principal virtude justo a mais medíocre: o auto-controle.” Depois emenda que o Super-homem hoje não seria valorizado pelas marcas deixadas na história “mas pelo extrato da conta bancária e pela taxa de colesterol”(...) “o prazer e a poesia são drenados a cada dia pelos ralos da eficiência”. Triste realidade mas uma feliz constatação deste ótimo cronista.. Mas nem tudo é assim não caro “Pratinha”. Ainda existe vida inteligente na terra o que observo com a também precisa e necessária entrevista concedida por Cláudio “Baixio das Bestas” Assis onde este  com toda a sua concisão nos diz que: “O cinema brasileiro é careta e precisa de atitude. Eu não devo nada a ninguém. Nasci nu e estou vestido. A grande maioria do povo gostaria de fazer e não pode. Quem faz é um bando de filhos da puta”. E questionado sobre o interesse em “se dar bem” fala : “Não, eu quero defender o direito de errar. Arte não é certinha, feita no computador. Por que o filme não pode ser errado? Hoje é tudo enquadrado. Lula visita Maluf, o que é isso porra?”. Tais arroubos me levam a ter um alento, uma esperança nesta geração tão massacrada acreditando que o espírito anárquico e contestador do Glauber Rocha ainda está no ar e que tanto o cronista como o cineasta estão “antenados” contra a mesmice acomodada e reinante.  É verdade Antônio....é verdade Cláudio...hoje em dia  manter-se íntegro é uma guerra. Mas alguém tem que peitar não é? Parabéns e vida longa aos meninos.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Irvine Welsh - cultura por osmose

Leio na Ilustrada de 11 de junho uma entrevista com Irvine Welsh, autor do celebrado “Trainspotting” que está lançando agora o livro de contos “Requentando Repolhos”. O entrevistador Fábio Victor dá um tom de “déjà vu” na obra do cara, que diz que é isto mesmo, tem predileção pelos mesmos temas. Mas a frase melhor foi quando respondeu sobre o que gosta de ler ou ouvir: “Na era do iTunes e da Amazon, a idéia de gostar de algo é secundário. Não consumimos cultura porque gostamos, mas porque está lá”. Será possível? Ainda outro dia estávamos discutindo isso. Que o papel da arte se inverteu. O escritor e dramaturgo Roberto Alvim com o seu teatro do trans-humano quer que o espectador tenha uma experiência alheia ao gostar ou deixar de gostar da peça logo na saída do teatro. Prefere um lapso de memória no espectador logo após a encenação. Uma experiência ímpar momentânea e só, sem maiores conseqüências ou lembranças. O objetivo pelo visto é despertar algo no inconsciente...ou não, tanto faz. Mas será que a arte é só isso? Será que o nosso gostar ou não gostar é tão dispensável assim? Já Welsh propõe a cultura por osmose ou seja a tecnologia coloca a obra na sua mão e você consome como pipoca. Diante desse ponto de vista desnecessária a crítica literária ou musical. A porcaria está lá então vamos consumir. A pérola também está lá então vamos consumir. Gostar ou não gostar é dispensável. Pode mais quem pode mais. Partindo dessa premissa a liberdade é total, sendo uma verdadeira perda de tempo ficar aqui escolhendo palavras e tentando um diálogo com você. É.....você mesmo que está me lendo agora! Minto. Não acredito nessa baboseira toda. Irvin Welsh está rico, casou novamente, mudou para Miami, não tem mais saco para ficar dando entrevistas e apresentando de mão-beijada suas predileções. Roberto Alvin quer os holofotes, quer criar algo novo, quer aparecer pela transgressão, pela subversão, pela ruptura. Louvável como atitude, como aproximação do teatro às artes plásticas, ao abstracionismo, mas execrável para o saco do coitado do espectador, que numa obra de arte quer estética, mensagem e entretenimento, tudo ao mesmo tempo agora. O espectador quer pensar, entender a seu modo, apropriar-se conscientemente da obra, trazer para a sua vida e participar. De minha parte como leitor e espectador não vou resistir a um trocadilho: os malucos que me perdoem mas gostar é fundamental.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Descrição fálica de alguns objetos do meu escritório(um testículo)

estátua feita pela artista Vella Cristien em Luga/Malta

“Aos olhos do Criador, um excremento humano ou bovino pouco difere de um hambúrguer ou de uma pizza napolitana”. Carlos Heitor Cony.

 Este texto é uma homenagem a Manuel Maria Barbosa du Bocage(1765-1805)


 Na praia vejo vulvas suadas, alegres e livres andando pela areia. No escritório só vejo falos tristes.

A)Parece uma cobra naja africana com a cabeça em riste enraivecida, só que é uma cobra metálica, cinza e laranja com a base negra, negra como a asa da graúna. Lembrei-me daquele filme Transformers – o lado oculto da lua. Está todo sujo, mas ainda é viril, parece indestrutível; vários anos de uso para cumprir uma função das mais nobres e prazerosas. Abrir buracos, desvirginar superfícies frágeis sem qualquer pudor ou dó, guardando troféus para posteridade que com o passar dos anos são substituídos sem qualquer fidelidade. Um infiel por natureza. Um colecionador nato e lascivo guardando uma singela e vaga lembrança de todos os buracos que já entrou;

B) Esse já é todo negro mas poderia ser branco ou amarelo. Na verdade ele é Chinês. Rijo, com uma curvatura côncava muito interessante, não sei se para a direita ou para a esquerda.(??) depende da utilização que se pretende. É grande e forte sendo capaz de agir infindáveis e implacáveis vezes sem tirar. Não necessita de aditivos. Solta milhões de partículas acobreadas e reluzentes idênticas, agressivas, certeiras. Esse sabe a que veio. Também me acompanha a vários anos. Não seria nada sem ele. Minha vida seria um caos sem solução.... Páginas soltas ao vento;

C) O mais fálico de todos; um tubo arredondado e todo vermelho de exatos onze centímetros duro. Não...não é japonês. Por incrível que pareça ele é do México. Quando retiramos a chapeleta vermelha temos uma pasta gosmenta procurando a superfície certa para deleitar-se. Gosta de espalhar-se em várias direções;

D) Vários bambus envoltos em um laçarote colorido. Parece um palhaçinho com seu chapéu. Singelo “souvenir” made in Peru. Suas saliências, entrâncias e reentrâncias emitem sensações e arrebatamentos para o corpo e alma. Pequenas vibrações. Brinquedinho raramente encontrado em sex-shops e escritórios de advocacia. Mas pode acontecer....o que aliás está acontecendo exatamente agora.

Está lançado o enigma.Quem acertar as quatro ganha um presentinho especial oferecido pelo meu sócio Daniel Arthur Mead, mais conhecido como Long Dong Silver.  (atendendo a pedidos RESPOSTAS: A) furador de papel; B) Grampeador; C) Cola-bastão; D) Quena Peruana;

Para finalizar com anel de ouro um poema concreto que escrevi a muitos, muitos anos atrás – O PÊNIS.

O
PÊNIS
DURANTE
A EJACULAÇÃO
PULSA COMO UM CORAÇÃO
E MORRE DE INFARTO OLHANDO PARA O CHÃO