terça-feira, 24 de abril de 2012

uísque para Jim Morrison



Definitivamente na nossa breve passagem por aqui fazemos coisas totalmente loucas e sem sentido. Pois sabendo que tia Maria Augusta estava indo morar um ano em Paris, de súbito tive uma idéia: escrevi o bilhetinho abaixo em inglês com nome e endereço do remetente(como se fosse possível o cara ler e responder), juntei uma foto minha com uma guitarra bem como uma garrafinha de uísque daquelas de hotel(como se ele pudesse beber), tudo corretamente embalado e colocado numa caixinha preta personalizada para a longa viagem...
Titia falou que vai cumprir a “missão” com muito gosto!(risos). Essas tias maravilhosas....
Agora resta esperar o seu retorno para ver o desfecho desta crônica gonzo a la Hunter Thompson.

"To Jim:
This is not the end my lonely friend
Hugs to eternity"


Prezada Tia Maria Augusta,
Desculpe incomodá-la, mas gostaria de lhe pedir esse favor: Desde a minha adolescência sou fã confesso do Jim Morrison do “The Doors”; o cara me influenciou muito em todos os sentidos... Todo roqueiro atuante deixa uma “lembrançinha” no túmulo do Jim Morrison que está no Cemitério “Père-Lachaise” em Paris.(é como ir a Meca para um Muçulmano) Vai ser fácil achar – é o túmulo mais visitado. Balzac fica até enciumado. Se não for pedir muito seria legal uma foto do local no momento da entrega e também um breve oração para sua alma atormentada. Sei que a Sra. deve estar achando tudo isso no mínimo estranho, mas garanto que ele merece toda essa póstuma consideração. Abraços Au Revoir

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Acidente



O exercício foi proposto no curso de dramaturgia do dramaturgo e escritor Lucas Arantes no espaço "A coisa" que começou esta semana - Escrever um diálogo sobre acidente sem as palavras acima - vejam no que deu:

Enquanto isso na mesa de um bar decadente depois da oitava cerveja barata:
- Ô mermão. Conta uma estória de desastre qualquer aí. Dessas de esquina, de sinal....
- Pois é, agora já era! Foi numa noite de domingo que o desastre aconteceu. Tinha 14 anos. O livro estava lá na estante a esmo me chamando pelo título improvável. “Sexus”. E eu com os hormônios saltitando vendo aquelas letrinhas amarelas e vibrantes “Sexus”.
- É mesmo....não vejo desastre nenhum nessa porra de estória?
- Pois então rapaz, calma... Para alcançar a prateleira superior subi numa banquetinha velha e capenga e quando já estava pegando o maldito livro escorreguei e me espatifei de costas no chão com o livro do Henry Miller que mais parece um tijolo caindo na minha cara; tudo ao mesmo tempo...como....como...como um sinal.
- Sinal? Explique melhor por favor?
- Vejamos...algo assim como um desastre prenunciando um outro desastre a caminho, o que só pude entender logo depois quando li o primeiro capítulo daquela “porra de estória” que transformou toda a minha existência.
- Caralho! Então foi algo bom não? Um grande revés para o bem?
- Acho que não vejo bem assim. Apenas um desastre com certeza. Depois com a idade veio Nietzsche, Schopenhauer, Primo Levy....e então o tombo foi bem maior. Mas aí é outra estória...
(silêncio...)

- Seu Toninho – manda mais uma loira gelada aí!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Após o anoitecer....Haruki Murakami


Sempre me dei bem com pessoas de origem japonesa. Admiro o povo Japonês, sua disciplina, sua obstinação, seu poder de observação, seus silêncios que dizem tudo bem como a acurada visão simples da morte, da vida...Haruki Murakami talvez seja o maior escritor de “best-sellers” japonês porque além de escrever muito bem, tem uma pegada pop sempre temperada com muitas citações de fenômenos culturais recentes. Também é desprovido de afetação intelectual ou metafísica o que é um alento nesse mundo moralista e doutrinador. Esse livro “Após o amanhecer” é uma visão melancólica da madrugada e seus tipos solitários, nesse mundo multifacetado onde as pessoas não param para ver o outro, o outro lado dos estranhamentos. Os diálogos entre dois jovens que se encontram por acaso em um bar em Tókio servem para demonstrar que nem tudo está perdido...que a ternura de uma amizade sincera pode ser encontrada nos lugares mais improváveis: em um bar, numa praça cheia de gatos(Haruki adora gatos) ou mesmo em uma ante-sala de um motel barato. É a troca...é o outro....aquilo que brota da diferença. A experiência que transforma. Escritor de muita sensibilidade e habilidade na criação de personagens que não são utilizados para lições, ensinamentos ou segundas intenções disfarçadas. Apenas vivem....e são mostrados por cima, por baixo, por todos os lados onde o escritor coloca a sua câmera.. Seus livros parecem roteiros de cinema, onde vamos imaginando as cenas em suas diferentes tomadas com muitos detalhes do ambiente. A irmã linda que não quer acordar. A prostituta chinesa sendo espancada. O trabalhador solitário em seus momentos de introspecção obsessiva. Um traficante em sua moto. A proprietária de um estabelecimento comercial. Um trombonista... Vidas tão díspares que entrelaçam-se como no filme “Short Cuts” de Robert Altman. O que nos leva a crer que tanto faz estar em Los Angeles, Tókio ou São Paulo. Os problemas, os desafios e a solidão humana são semelhantes em qualquer parte do mundo "globalizado" e é preciso quebrar esse gelo. Não que a solidão seja ruim ela é importante, é o mote a inspiração do artista.(aqui recomendo o livro “Solidão. A conexão com o Eu” de Anthony Storr) Mas o livro questiona a solidão perniciosa, aquela que nos diz Francis Bacon: “A pior solidão é nos vermos privados da amizade sincera”. Dá-lhe Sandra de Sá!!!