domingo, 22 de janeiro de 2012

vinte e poucos anos atrás


Há vinte e poucos anos atrás eu era o cara aí em cima na foto. Estava na Europa no inverno muito bem acompanhado das amigas e irmãs Acosta de Porto Rico; conforme se verifica usava um casacão do meu avô, cachecol branco e tinha muitos sonhos e muito mais cabelo como é fácil constatar.
Desde essa época já escrevia com constância no meu “Diário” com a minha Remington portátil e guardava algumas coisas em pastas para “posteridade”. As religiões passaram, os espasmos atléticos, os ideais políticos, os fartos cabelos, a Remington portátil.... mas a literatura ficou em minhas entranhas, no meu modo particular de encarar as coisas e suportar a loucura do cotidiano.
De todos os escritores que li talvez tenha como maior ídolo Charles Bukowski que certa vez confessou: “essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura”.
E é mais ou menos nessa pilastra que a coisa toda se sustenta.
Num momento de nostalgia , gripe forte e falta de inspiração começo a reler essas coisas antigas, muito ruins, diga-se, mas que me protegeram e me ajudaram em algum momento da vida. Recomendo ler e escrever como forma de terapia gratuita, de auto-conhecimento.
E para não dizerem que estou mentindo aí vai um trecho do antigo “Diário”: “24/08/1992 – Hoje me vejo por outro ângulo. Abaixo do chão. Sem pretensões faraônicas, desejos demoníacos, sonhos onipotentes. Mais um mero mortal em busca de sexo, prazer, dor, aceitando suas imperfeições. Apaixonado pelo bar da esquina, árvores em torno de um lago, levar o cachorro na praça, escavar a terra, desmanchar torrões, suar...Sentir o vento, fugir da fumaça, tomar sol, andar de terno pelas ruas calorentas, ver os sonhos, escolher alguns e jogar outros fora. Filtrar os sentidos, tomar uísque ao cair da tarde, cair junto com a noite, despedir de tudo e de todos para longas viagens sem destino. Sentir a vida, beijar o erro, sublimar a relatividade. Hoje me vejo simplesmente assim. Simplesmente como tudo deveria ser. Mas não é. (...)
Legal não é? Poder relembrar estados de espírito, humores.... Acho que nessa época Kerouac e Hemingway já faziam parte da minha vida. Pois então...graças a boa literatura sobrevivi e ainda acredito no carinha lá de trás, do passado longínquo e do cachecol ridículo. Não é pouco. Não é fácil.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Henry Miller sempre...


o escritor e sua inspiração literária

Começo de ano e as velhas idéias e os velhos escritores de sempre. Mas fazer o quê? Não consigo achar nada que me diga mais do que Henry Miller por exemplo. Tá certo que o cara em determinados momentos deixa o lado autobiográfico de lado(o melhor) para aventurar-se em teses mais diversas sobre a vida (não tão melhor assim). Mas como não dar valor a isso: “Hoje o indivíduo está praticamente extinto. Hoje nós temos o robô, produto final da era da máquina. O homem funcionando como um dente de engrenagem numa máquina sobre a qual não tem nenhum controle”. Como discordar ? Mais atual impossível não? E não para por aí, o velho/novo Henry conclui “de geração a geração, isso continuará, até que uma criatura isolada escape às mãos dos vivisseccionistas e inicie um mundo próprio”. Resta portanto um fio de esperança. O escritor no seu “O mundo do sexo” escreve um verdadeiro tratado contra os horrores da vida cotidiana, do homem dormindo em berço esplêndido e deixando as coisas acontecerem ao seu redor sem a sua participação. O antídoto para o escritor é viver e gozar a vida sem pensar em progresso e invencionices. Não bloquear os desejos e prazeres....Fácil entender Henry Miller. Por isso que o leio....sempre....E leiam também Sexus Plexus Nexus(na minha modesta opinião o ponto forte de sua obra), assim como os Trópicos de Câncer e Capricórnio(os mais divertidos e despudorados).