sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Brincando com Clarice


Um outro final para uma crônica de Clarice Lispector:

“A tarde, sentada nos degraus de uma escada, em rua deserta do Grajaú, a menininha pobre, ruiva, solitária estava com um soluço seco a incomodá-la.
Nisso, veio passando um cachorro basset ruivo. Parou diante da menina, sem latir. Fitaram-se mudamente. Sem emitir som, eles se pediam: um solucionaria o problema de solidão do outro.
O cachorro foi embora. Incrédula, os olhos da menina acompanharam-no até vê-lo dobrar a outra esquina. “Mas ele foi mais forte do que ela. Nem uma só vez olhou para trás.”
C.L.


Final punk noir decadente:

Mas o tempo passou....a menina que esperava o bonde cansou da espera inútil e foi para casa descansar eternamente. Os bondes já eram.

O sol escaldante deu lugar a uma lua cheia, “noir” e mórbida que resplandecendo negrume transformou a menina em mulher.

Com a lua cheia “dark” e nebulosa o cão virou homem que virou lobisomem. O famoso Lobisomem do Grajaú. Terror das operárias que voltam das fábricas no frio indolente das madrugadas escuras.

E naquela malfadada noite o terrível lobisomem inconseqüente movido por seu lado humano animalesco violentou aquela mulher com toda a brutalidade em todas as posições. De frente de lado, papai mamãe, 69, cachorrinho. Com o passar do tempo tiveram vários e juntaram os trapos.

A tampa e a panela. O problema e a solução.

Hoje encontramos no Grajaú, ao som de tiroteios, um casal de velhos vermelhos com uma ninhada de bassets ruivos às margens da represa Billings dando comida aos cadáveres e fezes que boiam em suas águas. Cheiro de esgoto no ar.

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