terça-feira, 17 de maio de 2016

SUBMISSÃO MICHEL HOUELLEBECQ

caricatura do escritor - autor desconhecido


O livro é narrado por um professor universitário e estudioso de literatura da Universidade Paris IV- Sorbonne, com tese de doutorado baseada na obra e vida do escritor Joris-Karl Huysmans numa fictícia França futura no ano de 2022 quando por ocasião das eleições presidenciais, coisas e situações e alianças políticas estranhas acontecem, levando a uma vitória do Presidente Mohammed Bem Abbes do partido da Fraternidade Muçulmana, que paulatinamente e de início moderado vai alterando e revolucionando os hábitos culturais e religiosos do País bem como influenciando a vida do nosso narrador e protagonista levando-o a uma reviravolta um tanto quanto forçada de conceitos, numa guinada irreversível para o novo regime islâmico instalado.
Desta feita a obra trata da decadência da cultura ocidental, e da influência perniciosa ou não que leva à inevitável subjugação ou submissão àqueles que passam a deter o poder conforme o título do livro.
A princípio relutante, o professor, pessoa culta, solitária, carente e extremamente ocidental vai de forma parcialmente relutante cedendo à máxima prolatada e introduzida pelas oportunidades dos novos tempos conforme se extraí da página 219 Editora Objetiva, Alfaguara 1ª. Edição “A idéia assombrosa e simples, jamais expressada antes com essa força, de que o auge da felicidade humana reside na submissão mais absoluta”. Afinal segundo o próprio protagonista para se justificar: “o intelectual na França não precisava ser responsável, isso não fazia parte de sua natureza”.
Lá pelo meio do livro achei que ele ia descambar para um realismo fantástico, mas no final não... o autor segura as rédeas e de maneira comedida diz a que veio, sem alarde e sem exageros, dotando o final fictício e futurístico com uma provável e aceitável veracidade. Um verdadeiro tratado da vulnerabilidade humana e de seu caráter ambíguo e camaleônico.
Livro de uma atualidade gritante tendo em vista os últimos acontecimentos e atentados, na França bem como a alternância forçada de poder no  Brasil.
Além do que Michel Houellebeq intercala várias situações hilárias, estórias amorosas frustradas, prostitutas mercenárias , amizades excêntricas, bem como um pouco da vida intelectual universitária e suas nuances um tanto quanto européias. O escritor desse livro além de romancista é poeta e ensaísta e tem um estilo bem legal de escrever por momentos alternando com a estória verdadeiros ensaios sobre outros autores, intelectuais e manifestações artísticas diversas. Sem sombra de dúvidas, alta cultura de alguém habituado a ler e escrever muito e debater os problemas contemporâneos.
Confesso que relutei em começar, achei a temática difícil e o autor mais ainda. Porém passei bem pelas páginas e surpreso confesso que não tive nenhuma dificuldade aproveitando para elogiar a hábil tradução de Rosa Freire de Aguiar.
Ta aí, para aqueles que acharam que o blog tinha morrido sigo comentando os livros que gosto na esperança, sempre, de despertar o seu interesse pelas coisas boas da vida, a literatura e os vícios saudáveis(ou não) sendo que não poderia  deixar passar essa última citação da página 181 de Huysmans e que reflete bem o meu momento atual: “uma das únicas alegrias puras da vida neste mundo consiste em se instalar sozinho na própria cama, tendo ao alcance da mão uma pilha de bons livros e um pacote de fumo”. Salientando que o fumo eu dispenso desde sempre mas trocaria de bom grado por uma boa e amarga cerveja artesanal. "tim tim”!!! Au revoir!!!

Luiz Tinoco Cabral 

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