quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Kafka à beira-mar Haruki Murakami

“Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.”
Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar'



Esse Japonês é foda! Escreve pra caralho! Ao narrar duas estórias de personagens solitários que se cruzam com toda sorte de realismo fantástico o mestre Murakami vai nos dando uma aula de como destrinchar romances intercalando alta cultura com cultura pop, filosofia e a escatologia oriunda das coisas banais do dia a dia.Um garoto de quinze anos em crise existencial foge de casa para encontrar respostas para suas angústias e dilemas familiares. Um velho analfabeto que conversa com gatos  vai em busca do seu destino. E nesses caminhos díspares nos deparamos com um menino chamado corvo, chuva de peixes e sanguessugas, portais para outras dimensões, dilemas freudianos e shakesperianos, uma mãe omissa, um assasinato, um caminhoneiro apaixonado por música clássica, prostitutas que citam Hegel,  uma bibliotecária andrógina,conversas com ícones do capitalismo como o bonequinho do Jhonny Walker e o Coronel Sanders, mortes, sexo, descobertas e surpresas a cada página nos causando uma constante sensação de estranhamento. Murakami como sempre cria um mundo muito peculiar, um mundo de sombras que esconde os detalhes do piso irregular em que estamos caminhando de forma sempre titubeante. No final todo o não senso improvável faz o maior sentido posso garantir. E a satisfação após as intrincadas 589 páginas é plena.



Murakami é o queridinho da literatura japonesa atual largou uma vida estável como proprietário de uma casa de Jazz para correr literalmente atrás do sonho de ser escritor em tempo integral. Muito esforço e muito talento.