“Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já
não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.”
Haruki Murakami, in 'Kafka
à Beira-Mar'
Esse Japonês é foda! Escreve pra caralho! Ao narrar duas
estórias de personagens solitários que se cruzam com toda sorte de realismo
fantástico o mestre Murakami vai nos dando uma aula de como destrinchar
romances intercalando alta cultura com cultura pop, filosofia e a escatologia oriunda das coisas banais do dia a dia.Um
garoto de quinze anos em crise existencial foge de casa para encontrar
respostas para suas angústias e dilemas familiares. Um velho analfabeto que
conversa com gatos vai em busca do seu
destino. E nesses caminhos díspares nos deparamos com um menino chamado corvo,
chuva de peixes e sanguessugas, portais para outras dimensões, dilemas
freudianos e shakesperianos, uma mãe omissa, um assasinato, um caminhoneiro apaixonado por música clássica,
prostitutas que citam Hegel, uma
bibliotecária andrógina,conversas com ícones do capitalismo como o bonequinho
do Jhonny Walker e o Coronel Sanders, mortes, sexo, descobertas e surpresas a
cada página nos causando uma constante sensação de estranhamento. Murakami como
sempre cria um mundo muito peculiar, um mundo de sombras que esconde os
detalhes do piso irregular em que estamos caminhando de forma sempre
titubeante. No final todo o não senso improvável faz o maior sentido posso
garantir. E a satisfação após as intrincadas 589 páginas é plena.
Murakami é o queridinho da literatura japonesa atual largou
uma vida estável como proprietário de uma casa de Jazz para correr literalmente
atrás do sonho de ser escritor em tempo integral. Muito esforço e muito
talento.