domingo, 13 de janeiro de 2013

Gibis e literatura. Nerd eu? Longe disso...

Minha relação com os quadrinhos vem dos confins da infância. Era um menino sozinho mas muito curioso com uma irmã cinco anos mais velha com uma prateleira cheia de Mônicas, Cebolinhas, Bolinhas, Brotoejas e Luluzinhas. Depois numa mudança da minha prima Dulcinha herdei uma série de Zé Cariocas, Pato Donalds dentre os primeiros números de tais coleções (inclusive). Coleção essa que foi roída por traças urgh! Teve também aquelas férias em Araruama que comprei “Lulu e Bolinha nas férias” e viajei por Paris e Nova Iorque numa rede da varanda da casa do Tio Joel . Mas a febre começou mesmo com a Tia Guiomar que me deu o primeiro Tintim e depois o primeiro Asterix e a paixão não teve mais fim. Tenho a coleção completa dos dois até hoje. A adolescência chegou e com ela muitos Mads, “Animal”, Chicletes com banana, Rebordosas, Luke Lukes e Cia ltda (guardo todos com muito zelo no meu escritório). Necessário frisar que nunca gostei de Batmans, Robins e Super-homens e outros heróis mascarados. Necessário frisar número dois que entendo os quadrinhos como literatura e não vou ficar falando aqui “graphic novels”, porque isso é uma “frescura du caralho” com o perdão da expressão. É “quadrinhos” mesmo, GIBI, estórias em quadrinhos e tenho dito. Sou nerd? Longe, muito longe disso.... Gostaria de frisar número 3 que os quadrinhos quando bem feitos nos remetem a uma outra dimensão da literatura. Temos uma imagem mais nítida da própria imagem que o autor tenta nos passar; uma imagem mais próxima da imaginação do autor/escritor. Porém ao contrário do cinema essa imagem não esgota tanto a nossa própria imaginação, não satura o nosso cérebro. O desenho por mais realista que seja não esgota a imagem em si. É uma sobreposição de imagens do autor com as nossas loucuras imagéticas que criamos no ato da leitura. Em resumo: um barato sem necessidade de qualquer ácido. E é exatamente isso que tem me levado de volta aos quadrinhos. Na minha idade não há como tomar ácidos sem efeitos colaterais duradouros e indesejáveis.Recentemente li vários Robert Crumbs dentre eles o tão bem escrito “Kafka” com parceria de David Zane Mairowitz e posso sem sombra de dúvidas dizer que é a mais agradável maneira para conhecer esse fantástico escritor tcheco universal. Uma outra dica é o ótimo “os beats” com roteiro de Harvey Pekar e companhia onde é possível visualizar de uma outra maneira, que seja superficial,  toda a cena literária “beat” em meados dos anos 50 e 60 nos Estados Unidos. Também nem tudo é alegria nesse mundo dos quadrinhos. Já tive experiências ruins como o “Palestina” de Joe Sacco, que com o devido respeito e com as devidas escusas pelo trocadalho – é um saco!.Acho que política com quadrinhos não combina muito. Sou nerd? Longe, muito longe disso....Mas sou mais um bom gibi erótico do que uma revista Playboy e tenho dito. Nessa linha reverências obrigatórias ao Sr. Milo Manara e Giovanna Casotto. Bom bem, ops. Toda essa introdução foi para falar sobre dois gibis que li atualmente. O primeiro é “Pagando por sexo” de Chester Brown, o segundo é Diomedes de Lourenço Mutarelli. O primeiro tem o mérito de, com muita sinceridade, relatar de uma maneira agradável, realista e didática um tema para lá de controverso e porque não tabu. O escritor canadense Chester narra em primeira pessoa suas próprias desventuras com prostitutas e similares com toda riqueza de detalhes e traços para lá de primitivos para depois concluir que mesmo com o vazio pós-coito prefere estas relações às relações dita românticas, chegando a conviver por anos com uma prostituta para lá de especial. Por fim desvela toda a hipocrisia e preconceito que envolve o tema, não poupando amigos, sociedade, País etc. Belo trabalho. Todo escritorzinho novo que fica aí tentando jogar as verdades inconvenientes tapete abaixo deveria ler. Já “Diomedes” de Lourenço Mutarelli, peculiar escritor e desenhista que venho acompanhando a vários anos revela a construção de um personagem impagável : Um detetive, delegado aposentado, sujo, desorganizado, piadista e aloprado que percorre os caminhos mais tortuosos para desvendar, ou melhor, não desvendar seus “casos” indo do nada a lugar nenhum, passando por situações insólitas, existenciais e metafísicas e nos revelando um caminho para lá de caótico, escatológico e engraçado. O destino não importa, o que importa é o caminho. Tudo muito noir, com diálogos “a la” Pulp fiction. Certa Feita G. K Chesterton , escritor inglês falecido em 1936 em seu ensaio sobre “como escrever uma história de detetive” estabeleceu a primeira regra: “o alvo de uma história de mistério, como de toda outra história e todo outro mistério, não é a escuridão mas a luz. A história é escrita para o momento em que o leitor a compreende, não simplesmente para os vários momentos preliminares em que ele não a compreende”. Pois não é que o Mutarelli subverte esse princípio com muita propriedade?A compilação da trilogia de 5 ou 6 anos de árduo trabalho, 429 páginas Editora “Quadrinhos na Cia” do nosso amigo Muta só não é obrigatória porque não acredito em “obras obrigatórias” e tenho dito. Nerd eu? Longe, muito longe disso....Em tempo: não empresto os meus gibis!

Um comentário:

Anônimo disse...

Үour moԁe of desсribing еveгythіng in thiѕ piеce of writіng is in fact
pleasant, all be саpable of wіthout ԁifficulty understand іt, Thankѕ a lot.


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