segunda-feira, 26 de abril de 2010

Gonzos e parafusos Paula Parisot

Baronesa Elisabeth Bachofen-Echt - pintura de Klint

Este livro da quase estreante Paula Parisot eu achei um pouco irregular, algumas coisas desnecessárias etc. Passamos um período na vida de uma psicanalista, Isabela, que aos poucos vai deixando-se levar pela loucura deliberadamente, a ponto de vestir a "persona" da Baronesa acima em destaque. Então saimos de um mundo um tanto quanto banal cheio de problemas do cotidiano para adentrarmos num terreno mais poético. Sei lá. A idéia é boa tal e coisa mas...fica a idéia que a loucura do cotidiano é muito mais louca do que a própria loucura dos hospícios e dos quartos de cristal. Mas como diria o Rubem Fonseca(padrinho confesso da escritora) ela escreve bem, tem talento coisa e tal. Quem me dera um padrinhão desses! E o engraçado que tinha acabado de ler o livro abaixo sobre Egon Schiele e nesse livro também a escritora fala muito do pintor que influenciou Klint e vice-versa. Vide as mãos da Baronesa pintada por Klint. É Schiele puro!!! E termino com umas citações do livro - editora Leya 1a. edição página 89: "sou uma pessoa incoerente, mas quem não é?" "viver em si, já é, deliberadamente pesado". É verdade!


Os Cadernos de Dom Rigoberto Mario Vargas Llosa

pintura de Egon Schiele


Ou memórias de um libertino ou peripécias de Fonchito, ou fantasias eróticas de D. Lucrecia. Como sempre Vargas Llosa escreve várias estórias dentro de um livro só.
Em resumo seria a estória de um solitário Dom Rigoberto que pelas circunstâncias nada convencionais da traição de sua mulher madrasta Lucrécia com seu filho adolescente Fonchito do 1ª. casamento é obrigado por protocolo social a separar-se. E desde então perde seu norte, sua musa, sua alegria de viver. Percebendo isso e com um misto de culpa e curiosidade Fonchito resolve por molecagem unir o casal novamente. Começam às visitas na casa de D. Lucrecia, as estórias inspiradoras da vida de um grande pintor erótico Egon Schiele. As cartas anônimas....Engendra toda uma armação maquiavélica para atingir seu intento. Paralelamente vamos acompanhando a vida do pintor e traçando as semelhanças entre o drama , Fonchito/Lucrecia/Rigoberto... E tem também capítulos inteiros de recordações das experiências erótico/pornográficas entre Lucrecia e Rigoberto e o riquíssimo passado libertino. É o erotismo de uma música de Mahler e não o erotismo estampado nas páginas da Playboy como ressaltado no próprio livro. Para fechar e estes são os melhores: as anotações impagáveis dos escondidos Cadernos de Dom Rigoberto(cadernos que ele escrevia para si próprio na solidão de seu escritório e da separação, com seus livros e suas obras de arte) . Escritos de uma peculiaridade impar de uma personalidade um tanto quanto ranzinza de um ser totalmente hedonista, erótico, desbocado, despudorado e por conseguinte de um humor extremamente refinado. E o legal é aquela sensação de estar lendo cultas observações em um diário maluco e secreto. Mais um bom livro de Vargas Llosa. E nas entrelinhas temos várias outras estórias. Vamos aprendendo um pouco sobre a estrutura social de Lima/Peru, seus bares, seus hotéis, seus personagens....sem contar os resumos de outros livros sabe-se lá inventados ou não de autores na maioria desconhecidos.(como daquele escritor que escreve um livro inteiro enaltecendo os pés da amada). Ademais mudando de assunto, engraçado como o escritor sempre procura deixar bem claro a sua paixão pela pintura e pelas artes plásticas em geral. Difícil ainda saber o quanto de Llosa vai em Rigoberto. Está aí uma pergunta que eu gostaria de lhe fazer pessoalmente. Com certeza muitas semelhanças que devem estar guardadas em seus próprios arquivos, cadernos e diários. Segundo a crítica Dom Rigoberto é um dos personagens mais bem delineados da carreira do escritor. Sem dúvida!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Machu Picchu: colírio de doidão!




Era uma vez um jovem advogado metido a músico e escritor que foi conhecer a cidade perdida de Machu Picchu. Chegando lá não viu ovnis, alienígenas, duendes, bruxas, nem mesmo a Shirley Maclaine. Por outro lado o nosso personagem pode ver a magia e o encaixe perfeito entre as pedras, sentir o magnetismo das crianças e campesinos plantando, se abraçando, brincando com as águas calientes, com a queda das folhas e com o girar natural do mundo. Nesse momento ele desejou: - Que o amor pela vida nos tire do parasitismo, e nos leve a uma relação simbiótica mutualistica com o nosso negro planetinha azul. Tomou uma cerveja cusqueña quente e brindou sozinho. Num lampejo escreveu um hai kai: sem solução/beijos/molhados/suados/se vão/em vão/sem amor/sem tesão. Contemplou pela janela de seu quarto sórdido a lua cheia iluminando as encostas sagradas do Wayna Picchu.